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Ferrari após Ferrari, Luís Enderenço já tem mais de 2200

Está em Borba a maior coleção de miniaturas Ferrari à escala 1/43. E pode ser visitada de forma gratuita.

Luís Godinho (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)

Ese um artigo sobre a Ferrari começasse com a história de um lendário piloto da Força Aérea italiana, o conde Francesco Baracca? “Sim”, diz Luís Enderenço, colecionador que já reuniu mais de duas mil miniaturas de Ferrari, “este avião que aqui vemos é uma réplica daquele que foi pilotado por Baracca na I Guerra Mundial”.

A réplica está logo à entrada da coleção de Enderenço, num espaço que já foi padaria, em Borba. Já o original, esse, tinha um cavalo preto empinado sobre os cascos traseiros, pintado na parte lateral do aparelho. A história não terminou da melhor forma para Baracca, que depois de uma série de vitórias em combates aéreos acabou por ser abatido, corria o mês de junho de 1918. Cinco anos depois, Enzo Ferrari ganha uma corrida de automóveis, conhece a mãe do malogrado conde e esta convence-o que o cavalo lhe traria boa sorte. Quando este criou a sua marca, o tal cavalo tornou-se um ícone reconhecido à escala global.

E, sim, esse primeiro Ferrari de 1947 está representado na coleção. Tal como os modelos pré-Ferrari, criados por Enzo a partir de 1940. E, depois, está “toda a sequência” de Fórmula 1 desde os anos 50, “toda a sequência” das míticas 24 Horas de Le Mans, carros de outros campeonatos de Gran Turismo, protótipos, enfim, “tudo o que possa existir e que vai aparecendo” no mercado do colecionismo.

Luís Enderenço conta que esta sua paixão pelos Ferrari despertou em dois momentos diferentes. O primeiro estava ainda longe de imaginar que um dia seria o maior colecionador (pelo menos da Europa) de réplicas à escala 1/43, quando a mãe lhe ofereceu um carro, não tinha mais de quatro anos. “Brinquei tanto com ele que acabei por o destruir, mas ficou o comprovativo fotográfico de que tinha tido aquele Ferrari, que por sinal até era verde. Não foi fácil conseguir uma réplica idêntica, era um modelo ainda em plástico, mas felizmente um vendedor estrangeiro colocou-o na internet e consegui arranjá-lo”. Está numa das vitrinas, mesmo ao lado do tal avião pilotado pelo conde Baracca.

Se esse foi o primeiro momento, o mais decisivo ocorreu há uns bons 30 anos, estava Luís Enderenço a iniciar a sua vida profissional na indústria farmacêutica. “Comecei a ter acesso a alguns carros, baratos, daque- les de supermercado, e a ver que havia uma grande variedade de modelos”. E depois, bom, depois a Ferrari ganhou todos os mundiais de Fórmula 1 entre 1996 e 2006, sendo que sete desses campeonatos foram ganhos por Michael Schumacher.

“Não perdia uma prova, fiquei fã da Ferrari e começar a tentar adquirir todos os modelos de Fórmula 1 a esta escala, uma escala pequena, por questão de espaço”. Com o tempo veio a estruturação da coleção, enriquecida com uma maior variedade de modelos, alguns até muito específicos.

Conta Luís Enderenço que nas cidades que visitava, além dos hospitais, passava invariavelmente por centros comerciais ou lojas de colecionismo, à procura de novos modelos, à descoberta de novidades. “Comprava alguns e, de repente, estas lojas começam a fechar porque a internet começou a crescer, surgiram novas possibilidades de aquisição, todo um outro mundo, e isto foi crescendo”.

De todos os carros que integram a coleção, que inclui também as caixas originais onde foram comercializados, 1500 estão expostos. Valerá seguramente mais de 100 mil euros, o que não dará para um Ferrari de verdade, mas já se aproxima.

“Não tenho a ambição de ter um Ferrari. Gosto das pessoas que têm e conheço bastantes, mas não tenho essa ambição”, diz o colecionador, cujos interesses são diversos, de raspadinhas (tem um exemplar de todas as séries lançadas) a lápis ou a revistas. Em matéria de carros é que não há opções. “Já me tentaram convencer a colecionar Lamborghini, que também é uma marca italiana. Nada disso. Um Ferrari é um Ferrari… nunca conduzi nenhum, mas até o som é diferente”.

Da coleção diz não ser possível eleger o modelo “mais raro”, pois há vários, a começar pelos mais antigos. “Hoje em dia, quando os carros são colocados no mercado, já as réplicas estão disponíveis, mas antigamente era tudo trabalho artesanal, feito por fabricantes particulares, e esses não só são difíceis de encontrar como atingem preços elevados quando aparecem à venda”.

Feita a ressalva, olhemos para as limusinas – “há muito poucas da Ferrari e está ali representada, na habitual cor vermelha” -, ou para os vários modelos, “a decoração dos carros e as equipas foram diferentes”, que competiram nas 24 Horas de Le Mans.

Garante Luís Enderenço que a coleção, embora continue a crescer, “nunca estará completa”, pois há sempre novos modelos, novas encomendas especiais, além de apostas que “não correram bem, porque os motores não eram viáveis ou porque não ganharam as competições”, dos quais nem sequer são feitas réplicas. As que existem, essas, vai continuar a adquirir e a expor. Na Rua São João de Deus. Em Borba.

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