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Exposição lembra visitas régias à cidade de Estremoz

Margarida Maneta texto | Gonçalo Figueiredo foto

Até final deste mês, a história de D. Filipe III de Espanha, D. João V, D. José I, D. Carlos I e D. Amélia e das suas passagens pela cidade de Estremoz é relembrada no secular Teatro Bernardim Ribeiro.

D. Filipe III chegou de noite e com chuva abundante, sendo guiado até ao Convento de São Francisco, onde se acomodou, pela luz de 30 tochas seguradas por mancebos. Já D. Carlos I chegou a meio do dia, pelas três e meia da tarde, mas foi D. Amélia a presenteada com uma alocução por parte dos alunos da escola do sexo masculino que à data existia em Estremoz. São detalhes como estes que agora preenchem a sala de exposições do Teatro Bernardim Ribeiro, numa iniciativa promovida pelo Arquivo Municipal de Estremoz. 

“Entradas Régias em Estremoz: 1619 – 1898” é o nome da exposição, inaugurada no âmbito das comemorações do Dia Internacional dos Arquivos.

O Arquivo Municipal “tem por hábito comemorar este dia”, começa por explicar Sílvia Russo, técnica superior de arquivo. Este ano, com uma exposição totalmente dedicada às passagens régias pela cidade, sobre as quais havia “alguma documentação”. 

Os “convidados” foram cinco monarcas que reinaram entre 1619 e 1898: D. Filipe III de Espanha (que em Portugal governou como Filipe II), D. João V, D. José I, D. Carlos I e D. Amélia. Nestas paredes conta-se desde a receção que lhes era feita às atividades que se dinamizavam durante a sua passagem, as ruas que percorriam bem como as refeições que faziam.

D. Filipe III, como já foi referido, chegou de noite e só na manhã seguinte “saiu em coche para fazer a [sua] entrada pública [na cidade]”, lê-se no painel exposto. Entrou acompanhado da nobreza local sendo recebido, agora à luz do dia, com folias e danças. Visitou a Igreja de Santa Maria, na Matriz de Estremoz, onde o aguardavam 80 frades vestidos de branco. 

Já à data, século XVII, as habilidades para o artesanato em Estremoz eram conhecidas. A Filipe III foram oferecidos púcaros de diferentes tamanhos e figuras que se diziam bastante admiradas na corte espanhola uma vez que o seu pai, Filipe II (o primeiro do mesmo nome a reinar em Portugal depois da perda da independência nacional em 1580), já tinha encomendado alguns. 

O painel dedicado à rainha D. Amélia, mulher de D. Carlos, é o mais pormenorizado por ser a visita de que o arquivo reúne mais informações. Entre as igrejas de Santa Maria e São Francisco e o Hospital da Santa Casa da Misericórdia, a rainha visitou vários espaços em Estremoz, estando a cidade enfeitada com bandeiras e arcos para a receber. 

“O dia como não havia memória em Estremoz”. É assim que alguns o relembram. Tanto as gentes locais como a majestade. Os primeiros pela quantia de 50.000 réis que a rainha deixou para os pobres na vila. A segunda pela receção que lhe fizeram. É que além de visitas e cantorias, estava preparado um “lunch” e uma coleção de cerâmicas para lhe oferecer. Ainda que não tenha passado de uma intenção, porque D. Amélia, pelo adiantar da hora, acabou por partir para Vila Viçosa sem usufruir destas oferendas, ficaram registadas as memórias.

Estas passagens, como aqui se descrevem, exigiam intensa preparação e logística, não apenas por parte das autoridades. Para a visita de D. José I foi acordado que “todos os moradores lavassem as suas casas na frontaria, que as mandassem caiar e que não tivessem entulho e pedras que causassem embaraço na rua”. 

A exposição inclui ainda um painel cronológico que aponta um “breve panorama de Estremoz”. Nele evidenciam-se alguns acontecimentos como “os forais atribuídos a Estremoz, as morte da Rainha Santa Isabel (em 1336) e de D. Pedro (1367), ou batalhas ‘da linha’ ou a falta de pão”, conta Sílvia Russo.

A partir daqui, “faz-se um enquadramento geral de alguns acontecimentos que se passaram em Estremoz antes de as visitas régias para que o visitante tome algum conhecimento da história da cidade na altura”. 

A baliza temporal escolhida prende-se precisamente com a informação disponível em arquivo. “Anterior [a esses anos] não temos informação, não consta em documentos de que tenhamos conhecimento que tenham ocorrido outras visitas”. Destas têm a certeza, até porque “a última foi, inclusive, reportada pelo jornal local”. 

As expectativas são de que “as pessoas gostem, se interessem pelo assunto e, assim, a história de Estremoz seja divulgada”, declara a técnica superior, considerando igualmente tratar-se de uma oportunidade para divulgar o património e o serviço prestado pelo arquivo municipal. 

Nas palavras de Sílvia Russo, o trabalho em arquivo vai além de “gabinetes e papéis”. “O serviço de arquivo é muito mais do que isso. Tem à sua guarda muitos fundos, o da correspondência expedida e recebida pela Câmara Municipal de Estremoz”, por exemplo.  Mas mais do que guardar documentos, o objetivo é que possa “servir a população e investigadores” que procuram informação para trabalhos académicos. 

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