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Exposição assinala centenário do fotógrafo Artur Pastor

Luís Godinho texto

A Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlentejo) assinala o centenário do nascimento de Artur Pastor, um dos mais notáveis fotógrafos do século XX, com a exposição “Évora Património – Fotografias de Artur Pastor”, patente ao público até dia 23 de setembro, na Igreja do Salvador, em Évora. 

Considerado como “um dos mais notáveis fotógrafos do século XX”, Artur Pastor registou um Portugal em parte já desaparecido, com as suas gentes e os seus costumes, sendo a sua obra o grande repositório de fotografias do Portugal rural das décadas compreendidas entre 1940 e 1990. Em Évora, cidade onde fez a sua formação académica, descobriu o gosto pela fotografia que o fascinaria até ao fim da sua vida.

A exposição surge na sequência da doação à DRCAlentejo, por parte da família de Artur Pastor, de um conjunto de 92 fotografias, a cores, datadas dos anos 80 do século passado. “Estas fotografias foram preparadas, pelo seu autor, para uma exposição que acabou por não acontecer, apesar de várias diligências por si realizadas ao longo do ano de 1987”, refere a DRCAlentejo, acrescentando que só agora está a ser exibida uma seleção destes trabalhos.

Artur Pastor termina o curso de regente agrícola em Évora, na Herdade da Mitra, em 1942. O primeiro trabalho de fotografia que faz foi para ilustrar a sua tese final. Em Évora, onde vive na altura, envolve-se em inúmeros projetos e começa a apresentar trabalhos em publicações ilustradas, postais, selos e cartazes. Durante este período inicial da sua vida artística colabora em diversos jornais com artigos de opinião e de cariz literário. No início dos anos 50 vai trabalhar para os serviços do Ministério da Agricultura, primeiro em Montalegre, depois em Lisboa.

Ao longo de três décadas como engenheiro técnico agrário, foi responsável pela obtenção e organização das mais de 10.000 fotos que compõem a fototeca da Direção-Geral dos Serviços Agrícolas. Paralelamente, colaborou com outros organismos ligados à agricultura como as Juntas Nacionais do Azeite, do Vinho, das Frutas e a Federação Nacional dos Produtores de Trigo, entre outros. Registou também milhares de fotografias por solicitação dos mais diversos organismos oficiais e grandes empresas, sobretudo no campo da agricultura e do turismo.

Na página de Internet sobre a sua obra constam dezenas de trabalhos, alguns dos quais sobre Estremoz, datados das décadas de 40 e 50 do século passado. São imagens urbanas (como a que ilustra este artigo), mas também sobre o trabalho de olaria ou da indústria conserveira de azeitona. 

Sempre de uma “dedicação e atividade intensas”, aos 24 anos Artur Pastor reunia já um conjunto “respeitável de imagens”, que irão integrar a sua primeira exposição, “Motivos do Sul”, inaugurada no Círculo Cultural do Algarve em 1936, com cerca de 300 provas. “A exposição passa depois para Évora [Sociedade Harmonia Eborense], onde residia, e mais tarde para Setúbal. O seu olhar ainda muito jovem, revela-se deslumbrado e doce, mais poético que realista”, assinala Luís Pavão em “Pastor Guardador de Sonhos”, texto incluído no catálogo de uma exposição sobre o trabalho do fotógrafo, realizada em Lisboa.

“As temáticas escolhidas [para essa primeira mostra] são o mundo rural, o trabalho rural e também a paisagem urbana. Pastor procura a harmonia, a poesia da natureza, a beleza natural e a simplicidade das coisas do povo. Muito influenciado pela tendência pictorialista, apresenta o preto e branco com as provas viradas a sépia ou a azul, recorrendo ao esfumado, aos céus dramáticos carregados de nuvens, ao contraluz, mantendo algum distanciamento em relação à realidade”, acrescenta.

“Era incansável na procura da imagem que pretendia e não havia distância que não vencesse ou altura que não superasse”, sublinha o filho, também Artur, num depoimento inserido na mesma publicação. “A fotografia foi sempre o chamamento que orientou a sua vida. Todos os dias tinha que trabalhar em fotografia. Se não saía para a rua com a máquina ao ombro ocupava-se com outras tarefas como arquivar, retocar ou deslocar-se ao laboratório para acompanhar os trabalhos”.

“Para Artur Pastor”, recorda o filho, “o tempo de espera das melhores condições de luz não contava como para o comum dos mortais, era apenas uma fração de segundo que faria a fotografia merecedora de ser impressionada na película”.

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