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Exportações do Alentejo crescem 84% na última década

Margarida Maneta texto | Gonçalo Figueiredo foto

As exportações com origem nas quatro NUTS alentejanas passaram de 1,9 para 3,5 mil milhões de euros, entre 2011 e 2021. O Alentejo Litoral é a subrregião alentejana mais exportadora e o Porto de Sines foi o grande responsável por este crescimento. Mas o turismo e o agroalimentar, em particular os setores do azeite e dos vinhos, também têm vindo a bater recordes nas vendas para o estrangeiro.

Dos 3,5 mil milhões de euros que o Alentejo “vale” em termos de exportações, o Alentejo Litoral representa uma fatia de 1,4 mil milhões e só o concelho de Sines, de longe o mais exportador da região, representa 1,1 mil milhões, em grande medida devido à atividade do Porto. Os dados relativos a 2021 foram agora divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística e comprovam um aumento de 84% nas exportações da região na última década.

De acordo com fonte da Administração dos Portos de Sines e do Algarve, em 2021 o movimento de navios, mercadorias e contentores com origem/destino a países da União Europeia cresceu 9,3%, sendo que para países extra-comunitários esse crescimento foi de 12%. Além de carga contentorizada, num volume cada vez mais elevado, as exportações a partir de Sines incluem produtos refinados, como gasolina e gasóleo, além de hidrocarbonetos como o etileno e o propileno.

A juntar à importância que este porto já regista, “a tendência é para se tornar ainda mais estratégico”, defende o presidente da Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo (ADRAL), João Grilo. Enquanto o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, Ceia da Silva, não tem dúvida de que, face aos investimento previstos, o porto de Sines será “basilar na ligação entre o continente americano e a Europa”.

Todas as subrregiões estão a vender mais para o estrangeiro. Comparativamente com 2011, o volume de exportações no Alentejo Litoral cresceu 542 milhões de euros, no Alentejo Central subiu 247 milhões e no Baixo Alentejo, onde à agricultura se soma a indústria extrativa, o aumento foi de 468 milhões de euros. Já o Alto Alentejo encerrou 2021 com 391 milhões de euros de exportações, o que representa um acréscimo de 232 milhões nos últimos 10 anos.

A “puxar” pelo aumento das vendas ao estrangeiro estão diversos setores, a começar na agricultura. “A implementação do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva fez com que ganhássemos escala em termos de produção. E, ao termos mais produção, temos de a escoar. Para o fazer, se o mercado nacional não absorve, temos de partir para mercados estrangeiros. É o que está a acontecer”, diz João Coelho, adjunto da direção do NERBE – Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral. “A outra componente que explica este aumento das exportações”, acrescenta, “tem a ver com a crise que passámos no período da troika e que fez com que o consumo interno tivesse decrescido de forma significativa. Para escoar as produções tivemos de nos voltar para mercados internacionais”.

Ou seja, segundo João Coelho, o aumento exponencial da produção agrícola, em setores como o azeite ou o vinho, foi acompanhado de uma retração do consumo interno, o que levou as empresas a olhar com mais atenção para os mercados externos. “Muitas delas nunca tinham exportado e tiveram de iniciar esse processo de internacionalização, aproveitando os fundos comunitários”, sublinha. 

O dirigente do NERBE anota o peso do setor mineiro nas exportações com origem no Baixo Alentejo – o que justifica que Castro Verde (com exportações de 391 milhões de euros) e Aljustrel (234 milhões) estejam entre os municípios alentejanos que mais vendem para o estrangeiro – mas assinala que o setor agroalimentar está a “crescer muitíssimo” e que a sua capacidade “ainda não está esgotada”, não só devido ao alargamento do perímetro de rega do Alqueva, mas também porque alguns olivais iniciaram a produção há menos de dois anos, o que lhes dá margem para produzir mais azeitona.

O Alentejo produz cerca de 85% do azeite nacional. E as exportações do setor, de acordo com os números de Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite, ultrapassaram as 182 mil toneladas em 2021. O aumento das vendas em 6,3% face ao ano anterior e a valorização do preço nos mercados internacionais traduziram-se num crescimento de 8% das exportações, agora avaliadas em 

562 milhões de euros.

Um estudo da Consulai para a Olivum – Associação de Olivicultores do Sul sublinha que a região “investiu em sistemas de produção modernos e eficientes, que permitiram aumentar significativamente a produtividade, e apostou na instalação de lagares de azeite com a tecnologia mais desenvolvida no mundo, o que tem permitido melhorar significativamente a qualidade dos azeites”. Apesar de ser registado uma evolução “muito significativa da produtividade”, para cerca de três toneladas de azeitona por hectare, o estudo diz ser “expectável” o seu aumento, “à medida que o olival tradicional seja reconvertido em sistemas de produção eficientes”, que podem atingir até 12 toneladas por hectare.

Já no setor dos vinhos, o Alentejo fechou 2021 com um valor recorde de exportações: 69,4 milhões de euros. Um crescimento de 17,5% comparativamente ao ano anterior. “Em 2021 estabilizámos a tendência de quebra em Angola e aumentámos as vendas em 11 dos 15 principais destinos, sinais que nos deixam muito expectantes com o futuro das exportações de vinho do Alentejo”, diz Francisco Mateus, presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA). “Perante estes resultados só podemos aplaudir os produtores que mostram a sua capacidade exportadora e valorizam cada litro de vinho vendido, demonstrando a qualidade dos vinhos do Alentejo, com os mercados internacionais a mostrarem-se recetivos para pagarem mais pelo vinho da região”. Brasil, Suíça, Reino Unido, Polónia e Alemanha foram principais destinos responsáveis pelo crescimento da exportação de vinhos alentejanos,

“Houve um grande desenvolvimento das exportações naqueles que são os produtos endógenos. Estamos a falar do vinho, de produtos agroalimentares como o azeite, os enchidos e os queijos”, resume António Ceia da Silva, lembrando ainda que o turismo, “como sucede a nível nacional”, é o “setor que mais contribui para esse nível de aumento de exportações dado o crescimento de nível impressionante” registado no Alentejo.

“Se não fosse a pandemia, o crescimento do turismo não teria sido interrompido, sendo que o Alentejo conseguiu não sofrer tanto como outras regiões”, concorda o presidente da ADRAL, João Grilo. E os números do INE dão-lhe razão. Em 2021, as unidades turísticas da região registaram um total de 2,28 milhões de dormidas, o que representa 77,6% do registado em 2019, último ano antes da pandemia. A nível nacional, o ano fechou com vendas a 53% do período pré-pandémico.

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