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Estremoz: Monumento de meio milhão envolto em polémica

Luís Godinho texto | Gonçalo Figueiredo fotografia

O futuro monumento de homenagem ao Figurado de Estremoz, encomendado em 2017 ao artista plástico Armando Alves, deverá custar cerca de 500 mil euros. A estimativa foi avançada pelo presidente da Câmara de Estremoz, José Daniel Sádio. Atualizadas as contas persistem dois problemas: ainda não sabe onde será colocado, nem quando.

Se, em março passado, o artista plástico Armando Alves confessava em carta aberta estar “triste e desiludido” em virtude do monumento de homenagem ao Figurado de Estremoz, por si projetado, não ter sido colocado junto às Portas de Santa Catarina, como inicialmente lhe havia sido prometido, passados oito meses o caso continua sem fim à vista. 

Não se sabe onde será colocado o monumento, nem quando. Mas a estimativa de custo foi, entretanto, atualizada pelo presidente da Câmara de Estremoz. Segundo José Daniel Sádio, entre projeto e construção, tendo em conta o aumento de preços e a utilização de mármore, a obra custará ao município cerca de 500 mil euros, em vez dos 300 mil inicialmente previstos.

“A Câmara pagou cerca de 50 mil euros por uma maqueta e por peças de cerâmica. O mais caro do monumento é o mármore, são muitas toneladas de peso. Há um ano atrás custava 300 mil euros, agora custará meio milhão”, disse o autarca, em reunião de câmara, depois de instalado pelos vereadores do Movimento Independente de Estremoz (MiETZ) a fazer um ponto de situação sobre o projeto.

Sublinhando que a classificação dos Bonecos de Estremoz como Património Imaterial da Humanidade “é algo que nos une e nos orgulha a todos”, José Daniel Sádio recordou que passam agora cinco anos sobre a classificação pela UNESCO – e outros tantos sobre a encomenda do trabalho a Armando Alves – sendo que, nesse período, o MiETZ, que governava a autarquia, teve oportunidade “para colocar o monumento onde quisesse”. Nas Portas de Santa Catarina, para onde estava inicialmente projetado, é que não haverá condições para isso.

“Se o monumento ainda não existe, não é minha responsabilidade. Ainda que eu quisesse, e não está cabimentada verba para isso, há uma questão objetiva: não é possível colocar ali o monumento porque o parque está feito, não podemos andar a circular com toneladas de peso sobre o que lá está, porque o iríamos destruir”, refere o autarca, chamando ainda a atenção para a existência de “alertas dos serviços de engenharia” da Câmara para o risco existente nesse local: “Dizem-nos que naquela zona da rotunda passa tudo o que tem a ver com água, infraestruturas para o Bairro de Mendeiros, e haveria o risco sério de colapso, parqueando ali, dias a fio, camiões com partes do monumento”.

“Não percebo”, prossegue José Daniel Sádio, “como é que continuam a dizer que era ali que [a obra] tem de estar. Não é possível. Se fosse, [o MiETZ] tinha-o colocado. O projeto foi do anterior executivo e sei porque é que não o colocaram: porque perceberam que, tecnicamente, não conseguiam e que era demasiado caro para a ideia de quem o queria fazer. Essa é a verdade”.

Afastada a instalação junto às Portas de Santa Catarina – hipótese sobre a qual a Direção Regional de Cultura do Alentejo não se chegou a pronunciar -, o presidente da Câmara de Estremoz revelou ter informado o artista plástico Armando Alves sobre a intenção de “concretizar” a construção do monumento de homenagem ao Figurado de Estremoz, instalando-o noutro espaço. Qual? “Nos espaços que temos neste momento disponíveis, não nos parece que acha algum em que ele possa ser colocado. Vamos desenvolver o projeto de um parque urbano de grandes dimensões e seria esse o espaço ideal”, refere o autarca. A questão é que, pelo menos por agora, não há projeto para o parque urbano, muito menos verba para o financiar, pelo que não perspetiva de data para a realização da obra.

“Neste momento, por muito que nos custe a todos, não há condições orçamentais nem técnicas para o concretizar. Isso não quer dizer que não apreciemos o monumento, pelo contrário. Lamento é que voltemos a trazer a uma reunião de câmara este dossiê pois estamos a envolver os Bonecos e o Figurado de Estremoz numa polémica que não existe”, disparou José Daniel Sádio. “Temos um mandato de quatro anos, tentaremos colocá-lo neste período”.

“TEMOS DE ARRANJAR SOLUÇÕES”

Na resposta, o vereador José Carlos Salema, do MiETZ, disse “esperar” que a situação “não se arraste para sempre”, pois trata-se de uma “causa justa” e o concelho de Estremoz “merece” o monumento desenhado por Armando Alves, “um artista de reconhecido mérito” que com este trabalho “homenageia todos os artesãos” do concelho.

“Já tivemos aqui projetos que custaram dezenas de milhares de euros, como o da creche, que nem sequer foram aprovados. A questão não é o dinheiro. Temos esse monumento, de um reconhecido artista, e temos de dar-lhe visibilidade, para bem de todos”, acrescentou José Carlos Salemas, garantindo que, para os vereadores do MiETZ, “em termos técnicos nunca foi claro” que a instalação não pudesse ocorrer no local inicialmente previsto. “Pelo menos não o entendemos dessa forma”.

Quanto à inexistência de parecer por parte da Direção Regional de Cultura do Alentejo, obrigatório devido à proximidade a monumentos classificados, o vereador do MiETZ refere que, “existindo vontade política, poderiam desenvolver-se todos os procedimentos formais e, depois, logo se veria”.

“Tenho todo o respeito institucional e pessoal pelo autor da peça, mas as coisas são como são, não tenho capacidade orçamental nem espaço que se adeque, sendo que aquele [Portas de Santa Catarina] não está nas nossas opções”, concluiu José Daniel Sádio.

“ESCOLHA DE UMA CENTRALIDADE”

Na carta aberta que divulgou a propósito deste assunto, o artista plástico Armando Alves defendeu que a futura localização do monumento por si desenhado “implica a escolha de uma centralidade ou de uma relação intrínseca com a cidade”, daí a opção inicial pelas Portas de Santa Catarina. “Certo é que, da minha parte, as componentes artísticas de que fui encarregado foram produzidas (as figuras cerâmicas atingem 4,5 metros de altura), estando as peças de grandes dimensões e exigentes características técnicas à guarda do município”, acrescenta.

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