A taxa de retenção e desistência nas escolas de Estremoz caiu para menos de metade na última década. Níveis de retenção no segundo e sétimo anos são os mais preocupantes. Problema atinge sobretudo as famílias mais pobres. Ana Luísa Delgado (texto)
Dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência revelam que o insucesso escolar no ensino básico e secundário em Estremoz foi reduzido de forma substancial ao longo da última década, à semelhança do que sucede no Alentejo Central.
No ensino básico, a taxa de retenção e desistência diminuiu de 8,7 para 4,4%, indica o INE. Ainda assim, cerca de 12% dos alunos não consegue terminar o primeiro ciclo dentro do prazo previsto. No segundo ciclo, essa percentagem é inferior: 8%. No terceiro ciclo, 82% dos alunos da Escola Sebastião da Gama acaba dentro do tempo previsto. Na Escola Rainha Santa Isabel são 89%. E, finalmente, no secundário, 16% dos alunos não completam os estudos dentro dos três anos previstos.
“As estatísticas comprovam que os dados do insucesso e do abandono escolar estão muito associados”, diz a vice-presidente da Câmara de Estremoz, Sónia Caldeira, que tem o pelouro da Educação, acrescentando outro fator em comum: as condições sociais e financeiras das famílias. “O insucesso escolar está muito associado a alunos com o escalão A da ação social escolar, ou seja, a alunos subsidiados de famílias socialmente desfavorecidas”.
Neste escalão encontram-se os alunos cujo agregado familiar tem um rendimento anual inferior a 3100 euros. “É neste escalão, sobre estes alunos, que temos de atuar”, defende Sónia Caldeira, sublinhando ser também essa a opinião da equipa do Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar. Em preparação está uma candidatura, no âmbito da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central, que irá integrar diversos projetos para promover o sucesso escolar.
Os dados publicados colocam Estremoz a “meio da tabela” entre os 14 municípios que integram a Cimac. Mourão destaca-se pela negativa, com uma taxa de retenção e desistência de 14,5% no ensino básico, quando a média regional é de 3,3%. Os melhores resultados, ou seja, onde menos alunos chumbam ou desistem da escola, é obtido nos municípios de Évora (1,6%) e Vila Viçosa (2%).
Relativamente a Estremoz, prossegue a autarca, “o nível de retenção no segundo ano de escolaridade é de cerca de 10%, e isso preocupa-nos. Depois volta a aumentar no terceiro ciclo, no sétimo ano, mais no Agrupamento de Escolas do que na Secundária Rainha Santa Isabel. Pelo que temos de encontrar medidas para combater esta realidade”.
A equipa do Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar já passou por Estremoz, visitou as escolas e reuniu com as direções dos estabelecimentos de ensino. “Não deve ser o Município a dizer qual o projeto para promoção do sucesso escolar que deve ser implementado, se é ou não importante ter um psicólogo na escola, que medidas devem ser adotadas. O que faz sentido é que sejam as próprias escolas a dizer o que con- sideram importante para combater o insucesso e o abandono. Foi esse o desafio que lhes lancei”, revela.
O objetivo, como referido, será a apresentação de uma candida- tura no âmbito da Cimac. Uma candidatura a dois anos, que “irá envolver” um investimento na ordem dos 180 mil euros para melhorar os resultados escolares no concelho. “Esta candidatura”, sublinha, “já existiu anteriormente, mas as escolas não foram ouvidas e não houve repercussão a nível da melhoria dos resultados escolares naquilo que foram as propostas feitas pelo anterior executivo. Não quero que isso volte a acontecer, quero que sejam as escolas a dizer o que é que pretendem para que possamos responder a essas necessidades”.
Ainda segundo Sónia Caldeira, a Carta Educativa de Estremoz, elaborada por uma equipa do Instituto Universitário de Lisboa (Iscte), está “praticamente concluída”, devendo ser brevemente apresentada às escolas, a que se seguirá um período de discussão pública.
