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Estremoz desperdiça 1,2 milhões de metros cúbicos de água

Ana Luísa Delgado texto | Gonçalo Figueiredo foto

O estudo é da DECO e tem por base os dados constantes do relatório anual elaborado pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR): Estremoz é um dos municípios do país com maior perda de água. Feitas as contas, perdem-se 339 litros por dia em cada ramal, o que corresponde a um desperdício de quase 1,2 milhões de metros cúbicos por ano. Pior só há quatro municípios, todos a norte: Macedo de Cavaleiros, Terras de Bouro, Chaves e Anadia.

“É uma realidade que está perfeitamente diagnosticada. É assim porque houve um total desinvestimento por parte do Executivo anterior, que deixou que a nossa rede de distribuição de água, em alta e em baixa, esteja totalmente ultrapassada. A rede está obsoleta, constantemente temos ruturas em todo o concelho, há problemas graves nesse âmbito e isso é conhecido, apesar de nada se ter feito neste último mandato para o inverter”, diz José Daniel Sádio, presidente da Câmara de Estremoz, classificando o problema como sendo “muito preocupante”.

“Só há uma solução [para o resolver] e estamos a prepará-la. Para já estamos a fazer um levantamento de qual é que é o estado da distribuição de água em alta e em baixa, as necessidades que há em termos de depósito da água e qual o seu estado”. A que se junta, acrescenta o autarca, o levantamento sobre as questões de saneamento: “Queremos saber onde não existem estações de tratamento de águas, como funcionam as existentes e que investimento será necessário fazer. Depois iremos lançar a discussão política nos órgãos autárquicos para encontrar uma solução”. 

Especialista da DECO em energia e sustentabilidade, Antonieta Duarte lembra que o desperdício de água “não é uma fatalidade” e que “estancar as fugas passa, sobretudo, pela reabilitação e manutenção das condutas que transportam a água até às habitações”.

“O impacto da fraca reabilitação das condutas pode ser significativo. Avarias, falhas e perdas de água produzem efeitos negativos nas entidades gestoras, com o aumento dos custos em reparações não planeadas. Mas também os consumidores e a comunidade envolvente podem ser lesados, pela possibilidade de haver acidentes provocados por rutura de condutas. Neste cenário, corre-se o risco de as perdas se associarem aos tarifários pagos pelos clientes”, sublinha Antonieta Duarte, lembrando que “a escassez, a seca e a disponibilidade hídrica são problemas que tendem a agravar-se e que implicam a gestão e a utilização eficiente da água”.

Ouvido pelo Brados do Alentejo, José Paulo Martins, dirigente da associação ambientalista Zero, diz ser “insustentável” o desperdício de água, tanto nas redes públicas como no regadio, e atribui a origem do problema “à existência de sistemas de distribuição obsoletos, que não têm sido objeto de obras de conservação e onde, por isso, ocorrem constantes ruturas” que originam perdas “muito consideráveis” de água.

Segundo José Paulo Martins, cada entidade gestora “tem que trabalhar no sentido de resolver as falhas”, tanto mais que as alterações climáticas estão a originar problemas de escassez: “Estes períodos de seca cada vez mais frequentes vieram acentuar a necessidade de se saber o que é que se passa com a perdas de água. Cada entidade gestora terá de fazer o seu trabalho para recuperar os sistemas de distribuição”.

No caso de Estremoz, refere José Daniel Sádio, estará em causa um investimento de dezenas de milhões de euros – “ao valor exato só chegaremos depois do levantamento que está a ser efetuado” – sendo que o autarca defende a resolução do problema com “uma solução de cariz público, não privada”. Em qualquer dos casos, sublinha, até final do ano deverá estar concluído o “levantamento minucioso e exaustivo” dos problemas, depois será o tempo da decisão política na Câmara e na Assembleia Municipal. “Tivemos, se não me falha a memória, três quadros de apoio comunitário para resolver a questão da água e do saneamento no concelho e a verdade é que não o resolvemos”, lamenta.

Segundo o autarca, os problemas são constantes em toda a rede, não apenas na sede de concelho. “A rede não está melhor nas freguesias do que está na cidade. Houve agora um caso em São Bento do Cortiço em que houve alguma intervenção na rede de distribuição e aí irá melhorar, mas é um caso pontual. Exceto essa questão, todas as restantes freguesias, todo o território está com problemas gravíssimos em termos de abastecimento e na distribuição. São oito freguesias rurais e uma urbana. A urbana é de maiores dimensões e aí há muitos problemas de rutura, de falta de pressão na rede, pedidos para mais água. Há uma panóplia de situações urgentes para resolver que estão sinalizadas”, conclui.

CUSTOS DE INEFICIÊNCIA “NÃO DEVEM RECAIR” NOS CONSUMIDORES

Sendo o caso de Estremoz dos mais graves a nível nacional, o desperdício de água é comum à generalidade dos municípios. De acordo com o relatório anual da ERSAR, recentemente divulgado e com dados relativos a 2020, em Évora “perdem-se” anualmente cerca de 240 mil metros cúbicos de água, em Montemor-o-Novo são 199 mil, em Arraiolos 157 mil e no concelho de Alandroal pouco mais de 106 mil metros cúbicos. Alguns municípios, como Borba, Vila Viçosa ou Sousel não enviaram informação à Entidade Reguladora. Segundo Antonieta Duarte, especialista da DECO, “as falhas na gestão eficiente das infraestruturas e de medidas de apoios aos investimentos explicam, em grande parte, que os valores de perdas de água em 2020 se mantenham muito similares aos anos anteriores”. Por outro lado, acrescenta, “a recuperação dos custos incorridos pelas entidades gestoras não deve ser refletida diretamente no preço cobrado na fatura da água”, sendo necessário “um mecanismo de correção que garanta a harmonização tarifária nas regiões e nos municípios e que impeça que os custos de ineficiência recaiam sobre o consumidor, que, neste complexo enquadramento, é o elo mais fraco”. 

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