Maria Antónia Zacarias texto
Criar um documento de sistematização e divulgação do património arqueológico em forma de carta arqueológica, e determinar, com rigor, a localização dos sítios arqueológicos, de forma a prever e minimizar os eventuais danos causados em obras públicas ou privadas ,são alguns dos objetivos do projeto de Investigação Carta Arqueológica do Concelho de Estremoz (CAETZ), agora apresentado.
A estes objetivos, o arqueólogo André Carneiro, coordenador do projeto, acrescenta a importância da existência de um documento que garanta o conhecimento, salvaguarda, valorização e divulgação do património arqueológico existente neste território. A data de conclusão está agendada para finais de 2024, com a apresentação da primeira versão da leitura global sobre o povoamento humano antigo no concelho de Estremoz.
O Projeto de Investigação CAETZ resulta de um protocolo de colaboração entre o Município de Estremoz e a Universidade de Évora, com vista a efetuar um levantamento tão sistemático quanto possível das evidências materiais existentes no concelho, contribuindo para o conhecimento e gestão do património arqueológico na ótica autárquica, maximizando os valores patrimoniais e minimizando eventuais impactos decorrentes de futuros empreendimentos.
André Carneiro considera que o património arqueológico do concelho de Estremoz vai assumir-se como um recurso fundamental na gestão articulada do ordenamento do território. “A Câmara precisa de identificar os recursos do seu próprio território, que valores e riquezas tem nos seus mais variados âmbitos. A arqueologia é uma fonte de valor e, portanto, identificar os territórios arqueológicos que existem no município é uma forma de a Câmara assegurar boas práticas de gestão e de conservação desse mesmo património”, sustenta.
Ao município cabe perceber que género de recursos deve potenciar mais, a nível turístico, mas também pedagógico. “Cada vez mais, os públicos das escolas podem integrar os núcleos arqueológicos como forma de complemento aos estudos e às aprendizagens que têm nas salas de aulas. A isto acresce a iniciativa privada que também aposta em valorizar sítios arqueológicos, como é o caso das entidades turísticas que pretendem ter lugares que os turistas podem visitar e conhecer valores patrimoniais”.
Por outro lado, a criação desta carta arqueológica visa a produção de conhecimento académico e científico, como explica o coordenador do projeto, “por ser um documento que nos permite perceber vários níveis de análise no povoamento de uma determinada região. Isto é, ajuda a contar a História. As pessoas gostam de conhecer coisas, de ouvir contar histórias e nós ao identificarmos sítios e vestígios e ao caracterizá-los estamos a permitir conteúdos também para essas histórias”.
CONCELHO COM GRANDE RIQUEZA PATRIMONIAL
O arqueólogo conta que, até ao momento, sendo que o trabalho ainda está praticamente na sua fase inicial, já foram identificados mais de 200 sítios arqueológicos, o que demonstra bem a diversidade de sítios, vestígios e elementos patrimoniais presentes no concelho de Estremoz. “Não nos podemos esquecer da posição estratégica do concelho, a meio caminho entre Lisboa e Espanha, entre o Norte e o Sul… um ponto de passagem. É um concelho muito grande em termos de território, com muita diversidade. Temos desde a Serra d’Ossa, até às planícies, o que faz com que muitas comunidades do passado se tenham instalado no concelho”, frisa André Carneiro exemplificando que “temos períodos de muita ocupação durante a pré-história, como na época romana e depois temos épocas onde o povoamento está mais concentrado, nomeadamente na Idade do Bronze e do Ferro”.
Este projeto foi apresentado à Direção Geral do Património Cultural e tem a duração de quatro anos. “Isto significa que estamos um ano atrasados, visto que um deles ficou perdido por questões processuais, tendo demorado um ano a ser aprovado”, explicita o coordenador, defendendo que o trabalho final seja “disponibilizado à população, através de um livro ou de um portal na internet porque as pessoas têm curiosidade sobre este trabalho pois é a primeira vez que se faz uma carta arqueológica no concelho e, portanto, é justo que a população tenha conhecimento dos resultados”.
ROTEIRO MEGALÍTICO NA APP VIVE ESTREMOZ
Aquando da apresentação pública da CAETZ, o presidente da Câmara de Estremoz defendeu que este documento, “com grande rigor científico”, será “fundamental para gestão e valorização do nosso território”. Segundo José Sádio, o município “tem apostado muito” na valorização imaterial “para que seja, cada vez mais”, uma referência para quem visita o concelho, mas também para os estremocenses. Daí, por exemplo, a adesão de Estremoz à Associação de Municípios Portugal Romano que pretende preservar a herança romana e promover o turismo cultural. “A ideia é ajudar a fazer a promoção dos vários concelhos com a criação de roteiros e estabelecer parcerias a nível nacional e internacional”, sublinhou. José Sádio lembrou ainda que “está em pleno andamento o projeto de escavações nas ruínas romanas de Santa Vitória do Ameixial” e revelou que a autarquia está “a terminar o roteiro megalítico, aguardando-se que esteja disponível, no segundo trimestre deste ano”, na APP Vive Estremoz.