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Estradas do Alentejo são as mais perigosas do país

Ana Luísa Delgado texto | Gonçalo Figueiredo fotografia

Um estudo da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária à sinistralidade revela que os acidentes nas estradas do Alentejo são os que, em média, provocam maios número de mortos e de feridos graves. Resultados não surpreendem especialistas.

O número de vítimas mortais por 100 acidentes nas estradas do Baixo Alentejo foi de 7,91 em 2019, o mais elevado a nível nacional. Já Portalegre assume a “liderança” no número de feridos graves, com uma média de 17,16 vítimas por cada centenas de acidentes. Uma análise global ao estudo “Impacto Económico dos Acidentes”, elaborado pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) comprova que os acidentes ocorridos nas estradas da região são aqueles que, por regra, provocam maior número de mortes e de feridos.

A nível de vítimas mortais, por exemplo, enquanto que em Beja se registou uma média de 7,91 mortes por cada 100 acidentes, em Portalegre essa média foi de 5,61 e em Évora de 3,83. São dos maiores valores a nível nacional, claramente acima de distritos como Santarém (2,47) ou Bragança (1,94), sem falar no de Lisboa (0,92, o mais baixo do país). 

Já a nível de feridos graves, à média de 17,16 vítimas por cada 100 acidentes nas estradas do distrito de Portalegre, seguem-se os 15,99 registados em Évora e os 14,53 em Beja. São as piores médias a nível nacional, mais do dobro das registadas, por exemplo, em Setúbal, Leiria ou Vila Real.

Presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACAM), Manuel João Ramos não estranha esta “triste liderança” do Alentejo, que explica por razões estruturais “que dificilmente podem ser resolvidas”, entre as quais o “problema” demográfico. “Como existem menos pessoas, o tráfego automóvel é menor. Quanto menos automóveis estão em circulação, em estradas com grandes retas, maior é a velocidade. O Alentejo é uma região de atravessamento, cruzada de norte para sul, e tudo isso contribui para acelerar a velocidade”.

À velocidade excessiva, Manuel João Ramos acrescenta a existência de estradas “que não têm qualidade” e a condução com excesso de álcool como fatores que “agravam o potencial” de sinistralidade. “Quando as estradas têm curvas, quando há mais automóveis em circulação, as pessoas tendem a ter mais cuidado na condução. Todos estes fatores estão ausentes na maioria das estradas do Alentejo”, sublinha o presidente da ACAM, segundo o qual a existência de uma fiscalização “deficitária” e o “mau funcionamento da justiça” também “não ajudam” a uma cultura de segurança rodoviária.

“A fiscalização e sensibilização dos condutores é importante para evitar estes números, mas ando muito desiludido e não estou a ver que o país esteja em condições de fazer grandes melhorias neste domínio. Desde 2015 que este Governo colocou a segurança rodoviária como a última das prioridades na Administração Interna. Não é que os outros tenham feito muito mais, mas pelo menos o tema estava na agenda mediática e política”, refere.

FALTA DE PLANEAMENTO

Ainda de acordo com Manuel João Ramos, outros dos problemas “estruturais” que ajudam a explicar “os dramas e tragédias” nas estradas do Alentejo prendem-se com o próprio traçado das vias – “quando há mais curvas há menos tendência para distrações e menos propensão para se acelerar” -, com a “deficiente fiscalização, seja ela por radar ou patrulhas” ou com questões culturais: “Nunca mais me esqueci de [ler] o Miguel Sousa Tavares a defender o seu direito de andar a 200 quilómetros por hora nas estradas do Alentejo. Há estradas na região onde vemos pessoas a acelerarem de forma completamente louca”.

O ex-presidente da GARE – Associação para a Promoção de uma Cultura de Segurança Rodoviária, com sede em Évora, sublinha que a perigosidade das estradas na região se traduz “não pelo número de desastres, mais pela percentagem de acidentes graves”. E isso, explica Adérito Araújo, “deve-se a circunstâncias diversas, sobretudo relacionadas com uma tendência para o excesso de velocidade e falta de atenção em estradas com grandes retas que, por vezes, até provocam sonolência”. Daí a existência de um “elevado número” de despistes e colisões.

A distância em relação às unidades de saúde é outro dos fatores que, na ótica de Adérito Araújo, contribuem para a existência de um maior número de mortos e de feridos. “No Alentejo estamos longe dos centros de emergência e a distância que é necessário percorrer até chegar a uma unidade de saúde é sempre muito mais elevada do que no resto do país”.

Acrescem o mau estado de alguns pisos, sobretudos em estradas municipais, e a falta de segurança “na maioria” das estradas que atravessam a região: “Não existem faixas de segurança junto às bermas, onde termina a faixa de rodagem começa o campo e qualquer descuido pode originar consequências graves”.

Entre os “pontos negros” das estradas alentejanas, Adérito Araújo inclui a Nacional 4, que atravessa boa parte da região. “É uma estrada perigosíssima, por onde circulam centenas de veículos pesados, que atravessa diversas povoações como Vendas Novas ou Montemor-o-Novo. Há sempre muito trânsito a passar por dentro das localidades e isso provoca sempre risco de acidente, designadamente ocorrência de atropelamentos”.

Também o IP 2 é motivo de preocupação. “Sendo uma estrada que, do ponto de vista da infraestrutura, se encontra em bom estado, quando há acidentes são normalmente graves pois a velocidade é maior e as pessoas circulam quase sempre em excesso de velocidade”, resume o ex-presidente da GARE, criticando ainda a inexistência de “vias para velocípedes e para peões”. Ou seja, “há um conjunto de fatores que, todos juntos, contribuem para que as estradas da região sejam as mais perigosas do país”.

MAIS ACIDENTES RODOVIÁRIOS

Os números da sinistralidade rodoviária nos primeiros nove meses de 2022 agravaram-se comparativamente com o ano anterior. No caso do Alentejo, os dados da ANSR indicam o aumento do número de acidentes e de vítimas mortais. Nos primeiros nove meses do ano foram registados nos distritos de Beja, Évora e Portalegre 895 acidentes com vítimas, o que traduz um aumento de 18% comparativamente com o ano anterior. Estes acidentes provocaram um total de 40 vítimas mortais, um crescimento de 82% em relação a 2021.

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