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Espanhóis inauguram 500 hectares de regadio com água de Alqueva

Luís Godinho texto

Não basta a água de Alqueva servir para resolver os problemas de abastecimento ao Algarve ou à indústria de Sines. Agora também terá de chegar para abastecer 500 hectares de regadio, inaugurados em Villanueva del Fresno, Espanha. Produtores de olival dizem que o empreendimento pode passar de sucesso a “problema”.

O presidente do governo regional da Extremadura espanhola, Guillermo Fernández Vara, inaugurou em Villanueva del Fresno, próximo de Mourão, um perímetro de rega de 500 hectares abastecido a partir do empreendimento de Alqueva. “Estes terrenos comunais pouco produtivos”, sublinhou, “são dois séculos depois uma fonte de riqueza irrigada pela grande albufeira do Alqueva”. 

Inaugurado no passado dia 13 de janeiro, este novo perímetro de rega envolveu um investimento de quatro milhões de euros, três dos quais de apoio comunitário, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER). Fonte do Ayuntamiento [Câmara] de Villanueva del Fresno refere que “a captação de água do reservatório de Alqueva para estas irrigações” foi regulada no Acordo de Albufeira de 2008, tendo em março de 2017 a Junta da Extremadura declarado esta zona como “regável”, numa concessão de três hectómetros cúbicos (hm3)anuais para uso agrícola.

A inauguração, apurou o Brados, aconteceu sem a presença de qualquer representante da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), apesar de a barragem ter sido construída e paga por Portugal. Ainda assim, refere o presidente da EDIA, José Pedro Salema, a empresa considera que os agricultores espanhóis terão de pagar o consumo de água. 

“A EDIA considera que a aplicação do tarifário do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva (EMFA) é devida para todas as captações existentes na albufeira de Alqueva, tendo em conta que a deliberação da Comissão para Acompanhamento e Desenvolvimento da Convenção, que aprova as captações da margem esquerda de Alqueva, refere que as referidas captações estão sujeitas a tarifação”, refere.

Segundo José Pedro Salema, “a concessão para captação de água para rega e produção de energia elétrica no EFMA considera um volume de 590 hm3/ano para rega e 30 hm3/ano para abastecimento público e industrial, salvaguardando que ficam ainda garantidos os volumes afetos às captações existentes na margem esquerda do Guadiana”.

O problema, pelo menos na ótica dos olivicultores, é que as solicitações para utilização de água do Alqueva são cada vez maiores, sendo que o aumento do perímetro de rega, em Portugal, de 120 mil para 170 mil hectares, não foi acompanhado de um reforço “da dotação” de água, que, desta forma, poderá ser “insuficiente” para todas as solicitações.

“É óbvio que não há água para todos quando para resolver o problema do Algarve estamos a utilizar água de Alqueva, para resolver a questão da indústria de Sines estamos a utilizar o Alqueva… já vai na Barragem de Morgavel [Sines] e estará daqui a pouco a servir para a indústria do hidrogénio”, advertiu Gonçalo Almeida Simões, diretor-geral da Olivum – Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal, em recente audição da Comissão Parlamento de Agricultura.

Na ocasião, Gonçalo Almeida Simões lembrou que Alqueva “foi dimensionado para regar um perímetro” de 120 mil hectares e “pensado para ajudar uma região”, o Alentejo, concluindo que “resultou muito bem, é um sucesso, mas estamos a ver que muito em breve corremos o risco de passar a ser um problema. A situação que estamos a viver é muito preocupante”.

BARRAGEM QUASE NA COTA MÁXIMA

Depois da chuva intensa de dezembro e início de janeiro, a albufeira de Alqueva aproxima-se da cota máxima. De acordo com fonte da EDIA, a albufeira “já recuperou toda a água que forneceu em 2022”, encontrando-se à cota 150,2, a menos de dois metros da capacidade máxima de armazenamento. A última descarga de superfície da barragem de Alqueva ocorreu no início de abril de 2013, quando o nível de água chegou à cota de 151,98 metros, a escassos dois centímetros da cota máxima. Na altura a barragem descarregou um total de 2.400 metros cúbicos por segundo (m3/s), o equivalente a uma piscina olímpica.

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