PUBLICIDADE

Entre talhas e azulejos, na Matriz com Saramago

Luís Godinho (texto) e Cabrita Nascimento (fotografia)

Acompanhamos o fotógrafo Cabrita Nascimento nos percursos alentejanos de José Saramago. Primeira paragem: Igreja Matriz de Alvito.

“O viajante”, escreveu Saramago, “viajou no seu país”. Ou seja, “viajou por dentro de si mesmo, pela cultura que o formou e está formando”. Entre outubro de 1979 e julho de 1980, José Saramago percorreu Portugal de lés a lés a convite do Círculo de Leitores. O resultado foi “Viagem a Portugal”, misto de crónica, narrativa e recordações.

Quatro décadas depois da primeira edição do livro, o fotógrafo Cabrita Nascimento decidiu calcorrear os caminhos do escritor. É com ele que iniciamos essa caminhada. Conta o fotógrafo que ao chegar a Alvito encontrou as portas da igreja Matriz abertas de par em par, e este pormenor, como adiante se verá, não é de somenos importância. No interior da igreja, uma senhora deu-lhe explicações detalhadas sobre a história do edifício e a azulejaria que cobre as paredes interiores.

Tanta informação espantou o visitante. “Sabe”, esclareceu Maria Amélia Feio, “é que sou mãe de um arqueólogo”. E Cabrita Nascimento, amigo do filho da guia que lhe desvendou os mistérios da Matriz – e que mais adiante se juntará a este percurso -, fotografou-a na entrada da sacristia. É a imagem que se encontra nesta página.

No relato de José Saramago não há referência a guias. Mas, escreveu espantado, que “após o risonho engano que o fez tomar a repartição de finanças por capela, foi dar com a igreja matriz mais aberta que já viu”. Um edifício com “três portas largas por onde entra a luz a jorro, mostrando como afinal não há mistério nenhum nas religiões, ou, se há, não é o que parece”.

Na Matriz de Alvito, o viajante José Saramago reencontrou “os pilares octogonais de Viana do Alentejo, comuns nestas regiões, além de bons silhares de azulejos seiscentistas representando cenas sacras”.

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção de Alvito, é este o nome oficial, foi construída em finais do século XIII, ou inícios do século XIV, mas seguramente antes de 1327, ano em que aparece no rol das igrejas de Portugal, sendo, na época, dedicada a Santa Maria de Alvito. Entre 1485 e 1535 sofreu obras de ampliação, tendo sido derrubadas quase todas as paredes. Contudo, é agora Jorge Feio, o filho da guia quem o garante, “ainda é possível observar na zona do transepto a presença de alguns elementos arquitetónicos da primeira fase. Da obra de ampliação resultou uma igreja ampla de planta basilical, em tudo idêntica à Igreja Matriz de Viana do Alentejo, pelo que podemos presumir que os arquitetos poderão ter sido os mesmos (os Arrudas, arquitetos da Corte)”.

Conta o arqueólogo que a riqueza decorativa da igreja, onde se encontra sepultado Dom João Fernandes da Silveira, primeiro Barão de Alvito (e de Portugal), “expressa-se fundamentalmente no seu interior, através dos altares de talha dourada (a do altar-mor colocada entre 1692 e 1705) e dos azulejos: os da capela-mor colocados antes de 1625, e outros, “tipo tapete persa”, alguns deles com utilização apenas de amarelo e branco, “raríssimos”, que decoram o corpo da igreja, datados de 1647.

Quanto à pintura mural, Jorge Feio diz que quem ali se deslocar pode apreciar “um dos mais belos frescos renascentistas de Portugal, datado do último quartel do século XV, onde se encontram representados Santo André, São Tiago Maior e São Sebastião”, além de “várias pinturas murais do século XVIII”, das quais se destacam as pinturas “paradisíacas” das naves laterais.

Partilhar artigo:

FIQUE LIGADO

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

© 2024 SUDOESTE Portugal. Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por WebTech.