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Eddie descobre May. “Loucos por Amor” no Bernardim Ribeiro

Luís Godinho texto | Miguel Belfo fotografia

Peça sobre uma relação “tóxica” que termina em violência, “Loucos por Amor” está de regresso ao palco do Teatro Bernardim Ribeiro.

Deste “Loucos por Amor” (“Full for Love”, no título original de 1983 e na adaptação de Robert Altman ao cinema, dois anos depois), diz Cláudio Henriques, ator e responsável do Coletivo Cultura Alentejo, que se trata de um “desafio complexo” a nível de encenação e representação. Mais um motivo, portanto, para avançar com o trabalho que, como adiante se verá, encaixa na perfeição no projeto artístico socialmente comprometido da companhia residente no Teatro Bernardim Ribeiro, em Estremoz.

Trata-se de uma peça de Sam Shepard, dramaturgo, argumentista e ator norte-americano, que a atriz Sonja Valentina tinha vontade de levar ao palco. “Ela gostava muito de fazer esta peça, eu já tinha visto algumas adaptações do espetáculo e decidimos embarcar nesta aventura”, conta Cláudio Henriques, que olha para o seu trabalho de ator como resposta ao desafio, ou se quisermos, à “vontade” de dizer aos outros “o que queremos falar numa altura específica”. Como a violência doméstica.

“Loucos por Amor”, que regressa ao Teatro Bernardim Ribeiro nos próximos dias 27 e 28 de janeiro, pelas 21h30, é uma peça que aborda “questões complexas, pesadas, como a violência doméstica”, temas, acrescenta, com que somos diariamente confrontados, “temas batidos que se calhar por isso vão perdendo alguma intensidade a nível da opinião pública”. Ora é precisamente aqui que o teatro pode ajudar, daí a decisão do Coletivo Cultura Alentejo de adaptar a peça de Sam Shepard.

“Como tudo o que é falado, não diria demasiadas vezes, pois nunca é demasiado falar disto, mas da forma como chega a casa, através dos media ou das redes sociais, as pessoas como que ganham anticorpos, chega a uma altura em que parecem estar num micro universo pessoal… não querem saber. Ora, nós achamos que valia a pena falar sobre este tema, alertar para esta realidade de uma maneira diferente, dizer às pessoas… ouçam, vejam, assistam”, acrescenta Cláudio Henriques.

O texto do dramaturgo norte-americano leva-nos ao encontro de May, que se encontra hospedada num motel quando se vê novamente confrontada com a presença de Eddie, uma “velha paixão”, que a surge de rompante para a vir buscar. “Enredados em lembranças e acusações é claro que há entre ambos uma tensão, para além do que é dito”, aponta a sinopse, completando que “uma personagem meio desconcertante vai pontuando toda a narrativa com aquilo que diz ser a verdade dos factos, levantando interrogações sobre temas como a obsessão, a dependência emocional ou as fronteiras existentes numa relação”.

A encenação é de Carla Maciel – “convidámo-la para este objeto criativo pelo trabalho que tem desenvolvido ao longo da sua carreira, pela garra e verdade que coloca na abordagem dos assuntos e nas suas interpretações” -, com interpretação de Sonja Valentina, Rui Serrano, Pedro Ramalho Marques e do próprio Cláudio Henriques, que olha para o teatro como “uma forma de intervenção, de colocar o dedo no ar porque temos algo a dizer. Uma espécie de lupa para que as pessoas possam reparar nestes temas; uma tentativa de pensarmos em conjunto”. É o assumir do teatro, da sua linguagem, como uma ferramenta, “forma de colocar as pessoas a pensar sobre determinado assunto, a refletir, mas sobretudo a questionar”. Se quisermos, será olhar para a capacidade de o teatro, como o “homem sábio” evocado por Sócrates, colocar questões, para as quais o “homem ignorante” facilmente encontra resposta.

A aposta dramaturgia deste“Loucos por Amor”, acrescenta o ator e responsável pelo Coletivo Cultura Alentejo, passa por uma abordagem contemporânea à peça de Shepard, sem referência a um momento ou um local específico, embora quem assista consiga identificar um quarto de hotel, aquele onde os caminhos de May e Eddie se voltam a cruzar. “A relação que eles têm é muito particular, no mínimo tóxica, abusiva, da qual os dois são reféns… o agressor e a vítima. Como se existisse algo que não conseguem desbloquear, ou talvez consigam”.

Na ainda recente caminhada artística da companhia, “Loucos por Amor” encaixa na preocupação de trabalhar temas sociais, como referimos no início do artigo. “É uma etapa, mas não é só o que queremos fazer”. Outra aposta é a divulgação de autores portugueses, gente nova que começa a publicar ou outros cujo trabalho “gostaríamos que fosse mais conhecido”. É disso prova “Mário”, peça estreada em março do ano passado a partir de poemas de Mário Henrique Leiria, autor surrealista contemporâneo de Mário Cesariny e cuja obra “não foi tão divulgada, tão intensificada como merecia”. 

PROGRAMAÇÃO PARA UM ANO INTENSO

À reposição de “Loucos por Amor” seguir-se-á a estreia, em março e setembro, de duas novas produções, ainda não divulgadas por não estarem fechadas questões de direitos de autor. Em dezembro estreará uma nova peça para a infância. Mas, até lá, projetos não faltam ao Coletivo Cultura Alentejo. Já em fevereiro recomeça a oficina de teatro, com o objetivo, diz Cláudio Henriques, de “criar uma corrente de público, fomentar massa crítica e utilizar o teatro como meio de reflexão”. Em 2023 prosseguem as atividades de enriquecimento escolar, haverá leituras de poesia, a atriz Cristina Cavalinhos estará em Estremoz, em abril, para uma residência artística e em julho deverá estrear um monólogo, “Serafim”, interpretado por Rui Serrano.

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