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Fronteira: Duas dúzias de corridas e um livro que as imortaliza

As 24 Horas T.T. Vila de Fronteira completam este ano 25 edições. A data será assinalada com a publicação de um livro que reúne toda a história desta que é uma das mais icónicas provas do desporto motorizado em Portugal.

Alexandre Correia (texto)

Foi em 1998 que pela primeira vez a vila de Fronteira acolheu uma grande prova de resistência em todo-o-terreno. As 24 edições são agora recordadas em livro. Sem ter sido a primeira do género a ter lugar em Portugal, as 24 Horas T.T. Vila de Fronteira não só resistiram ao passar dos anos, como se tornaram numa das mais famosas competições deste tipo, a nível internacional. E quando está prestes a decorrer a 25.a edição, o seu organizador – o Automóvel Club de Portugal (ACP) – promove a publicação de um livro que recorda as 24 corridas realizadas no “Terródromo de Fronteira”, como se chama o circuito de terra, com cerca de 17 quilómetros, onde anualmente tem lugar esta singular corrida.

A mais célebre corrida automóvel de resistência é francesa e comemorou este ano o centenário da sua criação: são as 24 Horas de Le Mans, que decorrem numa pista em redor da pequena cidade de La Sarthe. Três quartos do percurso são cumpridos em estradas nacionais e locais, que encerram ao trânsito alguns dias por ano, apenas para dar lugar às sessões de testes, treinos e à própria corrida. Curiosamente, as 24 Horas T.T. Vila de Fronteira também decorrem essencialmente em caminhos que somente são encerrados ao trânsito uma vez por ano, quando tem lugar a prova.

Nascida sob a égide do Clube Aventura, o percursor das competições de todo-o-terreno em Portugal – que se lançaram em 1987, em Portalegre – e pela paixão do seu dirigente, José Megre, a ideia tardou 15 anos em materializar-se: nasceu em 1983, quando o próprio José Megre disputou em França uma corrida de todo-o-terreno com 24 horas, subindo ao pódio, pois juntamente com Pedro Cortez cortou a meta em segundo lugar.

Megre foi o pioneiro da participação portuguesa no Rali Paris-Dakar, onde se estreou em 1982, com uma equipa de três viaturas preparadas pelo construtor nacional UMM. Era o líder da equipa que durante três anos disputou o Dakar com os UMM, e também um dos pilotos da equipa, tal como Pedro Cortez. Este último acabou por terminar a sua carreira desportiva a dirigir a equipa da UMM, já o seu companheiro tornou-se no primeiro organizador. E nesse papel, Megre nunca se esqueceu a da ideia de promover uma corrida de 24 horas em todo-o-terreno.

Para passar do projeto à ação, foi preciso esperar uma década. A ideia ganhou forma quando as autoridades do município de Fronteira e um conjunto de proprietários rurais da zona acolheram a proposta do Clube Aventura. Isso permitiu desenhar um circuito com cerca de 17 quilómetros através dos campos, atravessando caminhos por entre diversas herdades, a partir de um ponto central encostado à vila de Fronteira; foi aí que se abriu a longa reta da meta e as primeiras curvas, antes do percurso se orientar por estradões rurais, cruzando pelo caminho algumas ribeiras e cursos de água, em passagens a vau que chegaram a ser dotadas de pontes militares provisórias, instaladas momentaneamente pela engenharia militar, para assegurar que em caso de chuvadas mais intensas a prova teria sempre condições de segurança para se realizar.

José Megre morreu em 2009 e já não chegou sequer a assistir à 11ª edição das 24 Horas T.T. Vila de Fronteira, disputada nos últimos dias de novembro do ano anterior. Mas então, o seu nome somente constava na lista dos organizadores a título honorário, pois desde 2007 que tinha passado o testemunho ao ACP, que desde então garante anualmente a realização da prova.

EDIÇÃO HISTÓRICA

Considerando que em 2020 os condicionalismos vividos no mundo por causa da epidemia de covid-19 impediram que esta corrida tivesse lugar, a 25a edição somente irá decorrer entre os próximos dias 30 de novembro a 3 de dezembro, volvidos 26 anos sobre a largada da corrida inaugural.

E se na estreia se juntaram em Fronteira 30 equipas, das quais somente oito não resistiram ao esforço de 24 horas constantemente em ação, atualmente o número de inscritos anda, em média, muito próximo do triplo. Cada viatura pode hoje ser conduzida alternadamente por até cinco pilotos, o que faz com que se registe a presença de um número invulgar de corredores, acima das quatro centenas.

Bastante popular em Portugal, onde as 24 Horas T.T. Vila de Fronteira encerraram o calendário desportivo de todo-o-terreno, esta corrida acabou também por ganhar uma importante dimensão internacional e já aconteceu que mais de metade dos inscritos fossem pilotos estrangeiros.

Para darmos uma ideia da reputação internacional das 24 Horas T.T. Vila de Fronteira, das duas dúzias de corridas já disputadas, os estrangeiros venceram por 16 vezes e desde 2013 que não se regista o triunfo de uma formação com pilotos portugueses!

O primeiro sucesso estrangeiro aconteceu na edição de 2004, a sétima, em que se registou a vitória do Renault Clio V6 de Mário e Alexandre Andrade, pai e filho lusodescendentes, que competiram juntamente com os franceses Gérard Moncé e Stéphane Brabry. Hoje, Mário Andrade já não se senta ao volante, mas participa como diretor da sua equipa, em que o filho Alexandre é o principal piloto. A “Andrade Competition” já venceu por oito vezes em Fronteira, tal como Alexandre Andrade ganhou sete das 24 corridas realizadas. São, de longe, os recordistas e basta estarem inscritos para que tenham desde logo de ser considerados favoritos. Este ano regressam para tentar conquistar uma nona vitória, mas não lhes irão faltar adversários.

LIVRO RECORDA A HISTÓRIA

Para celebrar os 25 anos desta corrida, o ACP tomou a iniciativa de publicar um livro que recorda a história das 24 Horas de Fronteira. A obra foi escrita a quatro mãos pelos jornalistas Alexandre Correia (diretor da revista “Todo Terreno”) e Rui Cardoso (semanário “Expresso”), que disputou todas as edições da prova.

TOTALISTA DA PROVA

Além de jornalista, Rui Cardoso sempre foi um apaixonado pelo todo terreno, que viveu sentado ao volante, como piloto. E o facto de ser o único concorrente que disputou todas as corridas de Fronteira faz dele uma testemunha única e ninguém melhor que ele pode contar as histórias dos bastidores, que enriquecem a obra que será lançada pelo ACP. Adiante-se que Cardoso já anunciou que este ano, quando se concluir a 25a edição das 24 Horas T.T., se “reformará” das corridas. E o Nissan Patrol GR com que tem competido em Fronteira ficará para sempre nesta vila, onde figura desde já como a primeira peça do espólio do futuro museu dedicado a esta corrida, que a edilidade prevê instalar, aproveitando, ao que tudo indica, alguns dos espaços da antiga estação dos caminhos de ferro.

O lançamento público do livro será feito em Fronteira, antes do arranque da próxima corrida. E quem quiser reservar um exemplar, pode encomendar através desta ligação à loja virtual do ACP: https://loja.acp.pt/products/6335-livro-25-anos-24-horas-tt.aspx. Até ao momento do lançamento, quem comprar já beneficia de um preço especial: são 22,40 euros, menos 2,50 euros que preço de tabela. Os sócios do ACP têm um desconto especial, pagando apenas 17,90 euros até à data de lançamento.

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