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Dos médicos, de Cavaco, ou de nada de novo debaixo do sol

Luís Godinho, jornalista | Opinião

Já Eça de Queirós escrevia (em “A Cidade e as Serras”) que, nada de novo havendo sob o sol, “a eterna repetição das coisas é a eterna repetição dos males”. E na verdade, com frequência, lá surge a “eterna repetição” da falta de médicos no interior do país, e em particular no Alentejo. Ora, a HelloSafe Portugal analisou o número de médicos em cada distrito, as especialidades e o número de profissionais que trabalham no sistema nacional de saúde. 

A primeira conclusão é que Portugal “tem um dos melhores rácios de médicos por mil habitantes no mundo”. A segunda é que isso “não significa que eles estejam bem distribuídos geograficamente”. A elevada taxa de Coimbra, juntamente com Lisboa e Porto, contribui significativamente para o aumento da média nacional. Apenas estes três distritos têm taxas acima da média nacional e concentram 61% de todos os médicos em exercício no país. 

Os restantes 17 distritos que “se lixem”. A começar pelos alentejanos. Vejamos: enquanto Coimbra tem 14,5 médicos por mil habitantes, e Lisboa e Porto à volta de 7,5, em em Beja essa relação é três vezes inferior: 2,6 médicos por mil habitantes. Sendo que Portalegre (4,1) e Évora (4,5), estão também abaixo da média nacional (5,88 médicos por mil habitantes).

O problema não é novo. Como é não é nova a falta de coragem política para o resolver. Lembro-me com grande precisão (e saudade) de uma conversa com António Arnaut, o “pai” do Serviço Nacional de Saúde (SNS), na qual ele lembrava o tempo da ditadura salazarista em que não faltavam médicos nas grandes cidades, embora no interior houvesse milhares de pessoas a nascer e morrer sem sequer terem tido acesso a cuidados médicos. Foi para que situações destas não se repetissem que, corajosamente, criou por decreto o SNS. 

Foi então criado o chamado “serviço médico à periferia”, que “obrigava” os recém licenciados a trabalhar no interior durante um determinado período de tempo. Cavaco Silva acabou com isso. E nenhum Governo dos que se seguiram teve a coragem de o retomar, ainda que contra o poder das corporações. Perdem os do costume, aqueles que vivem mais afastados do Terreiro do Paço.

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