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Demografia: Alentejo com “piores” indicadores do país

Doutorado em Geografia Humana e investigador do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, Jorge Malheiros explica algumas das razões para o “inverno” demográfico no Alentejo.

O que é que justifica a continua perda de população no Alentejo?

Considerando a dimensão da população, o saldo natural no conjunto do Alentejo é mais negativo do que no resto do país, em termos relativos. O saldo natural é negativo porque as pessoas têm poucos filhos e têm poucos filhos porque, em primeiro lugar, as condições exigidas para terem filhos são difíceis de satisfazer. Ou seja, ter um rendimento contínuo e regular, em vez da precariedade laboral, e ter um rendimento suficiente para assegurar o nível de vida que as pessoas consideram ser de qualidade. São dois aspetos que estão pouco garantidos. As pessoas, sobretudo nas fases iniciais do seu percurso profissional, têm rendimentos mais baixos e têm uma grande instabilidade laboral prolongando-se a precariedade até bastante mais tarde. A consequência destas duas coisas é levá-las a adiar o primeiro filho ou a terem só um filho. Estes dois aspetos são centrais e ultrapassam a ideia de que apenas mexendo nas variáveis demográficas, estimulando o nascimento de bebés, dando-lhes subsídios, se consegue aumentar muito a natalidade. 

As questões laborais são decisivas?

Repare, as pessoas que não têm trabalho num sítio deslocam-se para outro, por vezes emigram. A grande mobilidade não é muito compatível com ter crianças porque as crianças exigem alguma tranquilidade para estarem na creche ou na escola. Este quadro ajuda a que se tenham poucos filhos. Neste momento, a média de idade do nascimento do primeiro filho já ultrapassa os 30 anos. Há ainda outro aspeto que é o nível de envelhecimento da população. Em áreas muito envelhecidas, e é isto que ajuda a compreender uma natalidade menor no Alentejo, têm-se, em termos brutos, menos filhos. Além dos fatores que o Alentejo partilha com outras regiões, há depois um outro elemento que é o envelhecimento. O saldo natural é negativo porque morre mais gente do que nasce. O Alentejo é diferente, mais uma vez, por causa do envelhecimento. Sendo uma região particularmente envelhecida, a tendência para ter mais óbitos é maior, mesmo as pessoas hoje vivendo mais anos e com maior esperança média de vida. O resultado da junção destas duas coisas traduz-se no saldo natural negativo. 

O que é que pode ser feito para inverter esta tendência? 

O único modo para, por um lado, reverter o declínio demográfico do Alentejo e, por outro, estimular os nascimentos seria através de um crescimento grande da imigração. O concelho que mais cresce no país é Odemira e é exclusivamente por via da imigração. A única forma, de maneira mais rápida, de fazer crescer a população e ter uma influência sobre a natalidade é com a imigração. Isto significa criar condições para fixar populações migrantes no Alentejo.

Como perspetiva o futuro?

O desafio demográfico é nacional. Somos um dos países mais envelhecidos da Europa, portanto, há aqui a necessidade de uma política nacional em relação a estas questões da dinâmica demográfica e do estímulo à natalidade. Mas também do ponto de vista das migrações. A regulação das migrações é também um elemento nacional que passa pela gestão dos fluxos migratórios, que tipo de vistos que têm, a ligação dos vistos ao mercado de trabalho, a migração ser temporária ou definitiva são decisões de foro nacional. Tal como as políticas de emprego, as políticas salariais. Tudo isto tem uma dimensão nacional clara. Era fundamental termos um instrumento de política que vá para lá de uma legislatura e que defina uma estratégia com alguns objetivos de reequilíbrios demográficos.

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