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De quantas tintas se faz um Castelo? Artmoz reuniu artistas

Ana Luísa Delgado (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)

Duas dezenas de artistas plásticos rumaram a Veiros para assinar o Dia dos Castelos, jornada de “pintura ao vivo” promovida pela Artmoz.

Mais adiante iremos ao encontro de João Casaca, que desenha desde que se conhece por gente, e de Iolanda, a quem disseram que Veiros parecia um “nome inventado”. Por agora, é com João Cabral que nos cruzamos, logo ele a quem o “bichinho da arte” atacou aos 30 anos, sem qualquer aviso prévio, deixando-o tocado pela febre das aguarelas.

“Comecei a gastar dinheiro em papel e em livros, não havia internet nem nada disso, tinha que ler, experimentar e gastar papel. Foi um inferno durante anos porque gastei muito dinheiro, só muito depois é que as aguarelas começaram a pagar o hobby”, conta o homem, cujos caminhos conduziram, sábado passado, ao Castelo de Veiros numa jornada de “pintura ao vivo” organizada pela Artmoz e pelo Município de Estremoz para assinalar o Dia dos Castelos.

João Cabral chegou de véspera para encontrar a perspetiva, o ângulo que mais o tocasse. E encontrou-o, bem lá no topo da vila, na zona do castelo. “Prefiro pintar na rua, é muito mais espontâneo e apanha-se a luz do momento”. O problema é que o dia nasceu cinzento e com chuva, obrigando a trocar a rua pelo edifício do mercado. Não fosse uma fotografia que tirou dessa perspetiva, desse ângulo mágico, e outra solução teria de encontrar.

Ora aqui chegados, em que medida poderá a arte chamar a atenção para problemas como o do troço da muralha do Castelo de Veiros, caído há quase um ano? “Cada um pode pintar a mesma visão do castelo, mas todos pintam conforme a sua alma, pintam diferente e isso é uma forma de eternizar o Castelo visto através dos olhos e da mão dos artistas. Portanto, a arte nestas coisas é fundamental e os políticos são sensíveis às manifestações de arte, às vezes mais do que as palavras”, defende João Cabral, que é também vice-presidente da Associação de Aguarela de Portugal.

Quando ouviu falar do encontro de Veiros através de um grupo de WhatsApp, Iolanda Mourinha, nascida na Letónia mas a viver em Lisboa, já lá iremos, achou que seria boa ideia meter-se ao caminho para vir pintar. A única questão era mesmo o nome do local: Veiros. “Falei nisso ao meu marido e ele até disse que parecia um nome inventado. Fui ver a localização ao mapa, conheço outras terras por aqui e vi logo que seria um excelente local para pintar”.

No seu caso, a arte começou por brincadeira, a pintar princesas e bonecos. Depois, aos 12 anos, veio a escola de artes para crianças e jovens e a aprendizagem das formas geométricas, acabou a estudar línguas e a frequentar o estúdio de um amigo onde continuou a alimentar a paixão pela pintura.

Instalada em Lisboa, entrou na Sociedade Nacional de Belas Artes, para aprender desenho e aprofundar o estudo da cor. E à cor que a toca, particularmente nesta altura do ano. “No outono tudo muda de cor, ficam cores menos vivas, mais amareladas e acastanhadas, por isso tenho necessidade de ver outras cidades além de Lisboa, descobrir locais, castelos… pareceu-me tudo perfeito para aceitar este desafio e cá estou”. Lisboa, cá estamos, é que para Iolanda Mourinha perdeu o encanto no que à pintura diz respeito, ela que se perde de amores por um “cidade rural, mais pequena, com o verde característico” dos jardins e das paisagens.

“IMAGENS FORTES”

Com formação em arquitetura e design, João Casaca diz pintar desde que se conhece. Carlos Godinho, que já de seguida se juntará à conversa, fez-lhe o convite para vir a Veiros e João Casaca não hesitou: “É importante estes encontros acontecerem em centros históricos, existem sempre mais motivos e mais elementos de interesse para quem participa e também para depois ficarem obras como referência dos diversos locais”.

Desta vez foi uma rua do centro histórico de Veiros que lhe prendeu a atenção: “É a minha interpretação dessa rua, tendo como foco a luz e a sombra, os volumes e a textura para criar uma imagem forte”.

Rendido à aguarela, pelo menos nesta fase do seu processo criativo, João Casaca revela que o seu foco “está sempre na captura da luz e da sombra para tentar trazer algo mais àquilo que pinto, dar-lhe emoção”.

Artista plástico e presidente da Artmoz, Carlos Godinho explica que a ideia de promover um evento deste tipo, o Dia dos Castelos, está desde logo relacionada com o facto de no concelho de Estremoz existirem três destes monumentos: Estremoz, Évora-Monte e Veiros. “É um dia de pintura ao vivo com artistas importantes de projeção nacional e internacional e que vêm pintar para espaços onde o desígnio é exatamente os castelos. Não quer dizer que eles pintem só os castelos, pintam os espaços onde estão inseridos esses castelos”.

O primeiro evento decorreu o ano passado em Évora-Monte: “Um êxito”. Desta vez, em Veiros, o “êxito” não foi menor, com a presença de duas dezenas de pintores, “de várias técnicas e com vários suportes”. Para o ano, a 7 de outubro, o Dia dos Castelos decorrerá em Estremoz.

“Os castelos são monumentos importantes, são referências históricas. Não são peças de arqueologia, são peças que no fundo fazem com que o nosso património possa ser gerador de qualidade de vida e penso, todavia, que devem ser defendidos e que as entidades devem fazer com que essas preocupações venham ao de cima”, sublinha Carlos Godinho. “Devemos reconstruir ou requalificar essas peças arquitetónicas que são referências importantes da nossa história”.

Quem quiser o resultado deste dia de criação artística ainda o poderá fazer. Os trabalhos produzidos estão expostos na Sociedade Filarmónica Veirense.

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