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(opinião) Da irritação do presidente… crónica de uma crise anunciada

Luís Godinho, jornalista | Opinião

Político experiente, as suas três décadas como presidente de câmara aí estão para o comprovar, o que terá levado Carlos Pinto de Sá a irritar-se quando teve a confirmação do voto contra dos vereadores do PSD à proposta de orçamento e grandes opções da Câmara de Évora para 2023? Uma irritação contida, é certo, mas bem presente numa intervenção cujo tom e substância não lhe são habituais: “O PSD opta pelo eleitoralismo e caça ao eventual voto futuro”. 

O debate aqueceu quando já há muito se tinha percebido que a aprovação dos documentos estava garantida, graças à abstenção dos dois vereadores do PS. O movimento Cuidar de Évora votou a favor do orçamento, mas com esse voto já a CDU habitualmente conta. Ora, estando os documentos aprovados, repito a pergunta, o que terá levado Carlos Pinto de Sá a irritar-se com o sentido de voto do PSD?

Para o perceber teremos de recuar a 1997, quando Abílio Fernandes foi reeleito presidente da Câmara de Évora, embora tendo perdido a maioria absoluta. Nesse ano, a CDU elegeu três vereadores, o PS outros três e o PSD elegeu um, Carmelo Aires, ex-presidente da CCDR Alentejo. Uma câmara que parecia ingovernável tornou-se, no entanto, gerível, fruto de um entendimento fácil entre CDU e PSD. 

Ora, o que foi possível em 1997 já não é exequível em 2022. Ao votar contra o orçamento, e sobretudo nos termos em que o fez, o fechar de portas do PSD foi ruidoso e deixa pouca margem para recuos futuros, quando Henrique Sim-Sim afirma: “Não compactuamos mais com esta forma de a CDU gerir os destinos públicos da nossa cidade e concelho, desta tentativa diária de iludir os eborenses”.

A longa tarde de debate orçamental terminou com o PSD a recusar o papel que assumiu no mandato de 1997/2001. Mas não só. Carlos Pinto de Sá também ouviu a intervenção do vereador socialista José Calixto. Embora anunciando a abstenção, o vereador fez questão de apontar o final de 2023, o meio do atual mandato, como o “tempo adequado” para avaliar se o PS continuará, ou não, a viabilizar a gestão CDU. “Não vamos tolerar mais um ano como foi o de 2022”, garantiu José Calixto, enfatizando o que diz ter sido a baixa execução de alguns projetos.

Aqui chegado, Carlos Pinto de Sá percebeu que, muito provavelmente, o “aval” do PS é a prazo, a curto prazo. E que já não conta com o PSD. Portanto, ou haverá uma aproximação de posições, ainda que difícil, ou dentro em breve teremos a Câmara de Évora mergulhada numa grave crise política, numa fase em que há projetos importantes para executar, como a Capital Europeia da Cultura ou o Programa Local de Habitação, financiado pelo PRR, que terá de estar totalmente executado em 2026.

A responsabilidade, primeira, para essa aproximação de posições, como é óbvio, é de quem tem funções executivas, de gestão. É ao primeiro-ministro que cabe encontrar soluções para viabilizar o Governo (veja-se a ‘geringonça’). É ao presidente da câmara que compete fazer o mesmo a nível local. Não será fácil, como o demonstra a irritação da passada quarta-feira.

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