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Da feira, dita do livro, ou da “pobreza franciscana” da de Évora

Luís Godinho, jornalista | Opinião

Não sei – confesso, nem sequer perguntei – quem foi o programador desta coisa “em forma de assim” a que pomposamente chamaram Feira do Livro de Évora. Para um lugarejo de província não está mal. Para uma cidade que vai ser Capital Europeia da Cultura, da “Cultura” senhores, é inacreditável a pobreza franciscana que nos é proposta e que se resume à apresentação de duas belíssimas biografias (uma sobre Natália Correia, outra sobre Luiz Pacheco), à homenagem a Luís Carmelo no próximo sábado, dia 22, e à apresentação de “Sinopse de Amor e Guerra”, no dia seguinte, com a presença do autor, Afonso Cruz. 

É pouco, muito pouco no que à literatura diz respeito. E a feira, a feira senhores, é do livro! Mesmo neste pouco que nos é proposto, também é preciso dizer que “O firmamento é negro e não azul. A vida de Luiz Pacheco”, de António Cândido Franco, foi lançado há uns bons três meses, sendo que o livro de Afonso Cruz soma um ano e meio de edição. De novidades, daquelas de topo que fazem os leitores deslocar-se às feiras, estamos falados. Nada a apresentar.

Mas há mais. A feira passa ao lado do centenário de Eugénio de Andrade, mas pronto, vem a adorável Carmen Garcia, vulto “de referência” nas letras nacionais, apresentar o seu livro. São opções. Não só continuo a não compreender o inexplicável apagamento de Eugénio de Andrade como aposto que será bem mais interessante aproveitar o serão de 22 de abril para ir a Reguengos de Monsaraz ver e ouvir os “Ficheiros Secretos” do Luís Osório, por coincidência dedicados à mesma Carmen Garcia.

Lançamento de livros quase nada, quase zero. Pode ser que tenha lido mal o programa, mas parece-me que a exceção será “Doutora és uma criança”, da pedopsiquiatra Salomé Ratinho! É muito pouco para uma feira do livro. Dever-se-á à desatenção de quem programou ou ao facto desta feira, do livro senhores, ter sido programada “em forma de assim”?

Falaremos de Óbidos? Não se exige o Fólio. Mas Óbidos não será Capital Europeia da Cultura, pelo que a Feira do Livro de Évora deveria ter, pelo menos até 2027, uma projeção bem maior do que a atual. Bom, vamos com todo o “vagar” do mundo. Évora aposta no vagar. Mas como é possível que uma programação destas numa cidade que se projeta a nível europeu não tenha nada de interculturalidade, não apresente um único evento com um escritor – à dimensão europeia, ou mundial – que nos remeta para para uma linguagem contemporânea sobre os tempos desafiantes que vivemos?

Será que quem programou – e, já agora, quem validou esta programação – terá alguma ideia sobre o que é isto de uma Feira do Livro? Para qualquer um dos turistas que percorra o trajeto da Praça do Giraldo à Sé, e que aproveite para comprar um belíssimo galo de Barcelos nas lojas de artesanato que por ali fazem negócio, nada há que prenda a atenção, que impulsione uma paragem, por menor que seja. Para quem habita a cidade, nada disto é objeto de atenção. É mau demais para ser de verdade.

(texto reeditado dia 20 de abril, às 12h00)

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