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Câmara de Évora, iluminações de Natal e falta de sensatez

Luís Godinho opinião

Imagine, caro leitor, que a Europa está em guerra e que, por força dessa guerra e da dependência europeia em relação à importação de energia proveniente do país agressor, no caso a Rússia, a poupança energética não só é aconselhável como absolutamente indispensável, a ponto de levar a generalidade dos governos europeus a aprovar planos para redução dos consumos.

Já agora, imagine também caro leitor, que a inflação atinge os valores mais elevados dos últimos 30 anos, deixando cada vez mais famílias em dificuldade para suportar custos básicos, como a habitação ou a alimentação.

Nesse cenário, pondere o meu sensato leitor sobre a possibilidade de recaírem sobre si responsabilidades a nível de governação. Talvez se decidisse por uma poupança energética, para reduzir a dependência externa e o consumo, procurando ao mesmo tempo aumentar, na medida do possível, o apoio às famílias com maior carência económica.

A má notícia é que esse cenário não é hipotético, mas real. A guerra existe. O preço da energia disparou. As taxas de juro estão cada vez mais altas. A inflação atinge os 10%. Muitas famílias terão de optar entre aquecer a casa, pagar o empréstimo ao banco ou ter comida na mesa. E, já agora, também é verdade que não é o estimado leitor a decidir.

No meio desta crise, porventura a maior das últimas décadas, o que é que a Câmara de Évora se entretém a debater? Talvez não acredite, mas é a iluminação de Natal. Bom, debater talvez seja excessivo, visto que por aí parece não haver divergência de monta entre Executivo (CDU) e oposição (PS, PSD e Movimento Cuidar de Évora). 

Pela informação do presidente da Câmara, soube-se que o município se prepara para gastar mais de 30 mil euros em iluminações de Natal. “Estivemos a ver propostas e, com outra qualidade, [o preço] sobe logo para 45 mil euros”, lamentou Carlos Pinto de Sá, na última reunião pública, onde também se manifestou preocupado com o aumento do custo da pista de gelo.

A oposição, obviamente, reagiu. Da parte do PS, não tanto para falar da energia, nem de quem precisa de apoio, mais para defender a deslocalização do mercado de natal para junto do mercado municipal. O PSD quer é “som nas ruas”. E o Movimento acha que, afinal, se deve mesmo é apostar no “reforço da qualidade da iluminação” de Natal. Até porque, acrescentou a vereadora, “câmaras bem mais pequenas do que a nossa gastam 60 mil euros e têm reconhecimento pela beleza da iluminação”.

Bem sei que as reuniões de câmara se estão a prolongar por mais de seis horas, durante as quais os vereadores e as vereadoras, da maioria e da oposição, se entretêm a dizer “coisas”, algumas das quais bem úteis para a nossa vivência coletiva. Mas assumir que se vão gastar 30 mil, ou 60 mil euros, mais a fatura do consumo elétrico, nem se sabe de que montante, será talvez pouco aceitável numa conjuntura como a atual. O meu caro leitor ajuizará da maneira que lhe aprouver. Em qualquer dos casos, terá sempre a oportunidade de reconhecer a “beleza da iluminação” que o Natal lhe trará.

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