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Da barrística ao palco. Malvada estreia peça em Estremoz

Luís Godinho texto | Gonçalo Figueiredo fotografia

Chama-se “Sentido Figurado”. A peça, nova produção da Malvada, estará em cena entre 30 de março e 1 de abril no Teatro Bernardim Ribeiro, em Estremoz.

“Bom, vamos lá começar a leitura”. Faltam duas semanas para a estreia da peça, no Teatro Bernardim Ribeiro, em Estremoz, mas o grau de exigência já é elevado, apesar de se tratar de uma “companhia” formada exclusivamente por um elenco amador. Em palco estão sete mulheres – duas não puderam vir ao ensaio neste dia – que se dedicam ao teatro de revista à portuguesa. 

Aqui a exigência é grande. “Pretendemos que seja uma experiência diferente, inovadora… há todo um decorar de texto, marcações e um rigor verdadeiramente profissional”, diz Ana Luena, que assina a dramaturgia e encenação deste espetáculo, mas que é também a responsável pela cenografia e figurinos. E os figurinos, como adiante se explicará, são uma parte fundamental do projeto. 

“Apesar destas mulheres já terem experiência de palco não têm este tipo de trabalho e de processo criativo, incluindo oficinas de movimento e de voz”, acrescenta Ana Luena, da Malvada, a associação artística que desenvolveu este projeto surgido de uma “oportunidade” aberta por uma candidatura da Direção-Geral das Artes para apoiar projetos sobre arte e envelhecimento ativo. 

“Falámos com a autarquia sobre a possibilidade de criarmos um espetáculo de teatro contemporâneo, uma coisa muito diferente daquilo que elas faziam, e todos junto desenhámos o projeto, candidatámo-lo e cá estamos”, acrescenta.

A ideia surgiu de um processo “criativo” iniciado em 2020, em que a Malvada esteve a trabalhar, em Estremoz, no projeto “Topofilias”, que envolveu a população excluída por envelhecimento e isolamento e teve como foco “o espaço e o lugar praticado e vivido, como forma de recuperar e produzir memória através da construção de um olhar sobre e a partir do património humano”.

“Foi nessa altura que conhecemos estas mulheres, que se dedicam ao teatro de revista à portuguesa, bem como a Marisa Serrano, da Academia Sénior, e ficámos muito interessados em desenvolver um projeto conjunto”, acrescenta José Miguel Soares, que coassina com Ana Luena a direção artística do projeto.

O FIGURADO COMO INSPIRAÇÃO

Segundo Ana Luena, a “inspiração” para o projeto radica nos Bonecos de Estremoz. “Como estas mulheres tinham sido fotografadas por nós, achámos ser um excelente ponto de partida para a criação do espetáculo. Pegámos na história dos bonecos, que se inicia no século XVIII, e criámos uma espécie de ficção, meio realista, através das vozes destas mulheres”.

Com este espetáculo a companhia propõe-se “explorar novas significações expressivas a partir desta arte popular, inspirando uma nova criação cénica contemporânea, na qual os seniores tomam o lugar central da cena e se envolvem ativamente desde a dramaturgia até à apresentação da obra”. 

“Sentido Figurado” inspira-se no Figurado de Estremoz para a construção de um espetáculo de teatro que parte das personagens dos Bonecos, como a “Primavera” ou “O Amor é Cego”, relacionando-os com a contemporaneidade e construindo novas narrativas interligadas com a identidade, a natureza, o quotidiano e a devoção. 

O processo de criação, acrescenta a associação, inclui oficinas especializadas e de mentoria, num modelo de educação não formal, “que compreendeu uma oficina colaborativa para pesquisa, conceptualização e guião dramatúrgico e os ensaios cénicos e backstage”, sendo que as oficinas de voz e canto e de movimento “decorrem durante os ensaios para dar mais ferramentas ao grupo de intérpretes, consolidando e dando sustentabilidade a uma experiência nova e desafiante”. 

Durante o projeto, acrescenta a Malvada, está a ser promovido o Laboratório de Ideias – Arte e Envelhecimento Ativo, que inclui acompanhamento presencial e sessões online de debate abertas a técnicos de ação social, animadores socioculturais, orientadores de academias seniores, professores, investigadores universitários, artistas e público. “Através deste laboratório cria-se e promove-se um espaço de rede e partilha de ideias e troca de experiências”.

A entrada é gratuita, mas é necessário o levantamento dos bilhetes, que pode ser feito na bilheteira do TBR e no posto turismo de Estremoz. O espetáculo conta com as interpretações de Interpretação Ana Troncho, Graciete Boleta, Isabel Cascalheira, Júlia Casimiro, Luzia Banha, Maximina Paiva, Mina Trindade, Tina Estriga e Virtuosa Ramalho.

“DEMOCRATIZAÇÃO DA EXPRESSÃO ARTÍSTICA”

À semelhança da tradição do Figurado de Estremoz, classificado Património Imaterial da Unesco, a peça “Sentido Figurado”, refere a Malvada, “aposta na democratização da expressão artística ao envolver e misturar na equipa um grupo de mulheres de teatro amador, profissionais das artes, comunidade das freguesias rurais, bem como promove o envelhecimento ativo, a inclusão e a dinamização cultural”. As origem do Figurado de Estremoz remontam, pelo menos, ao séc. XVIII e tudo indica que as primeiras oficinas eram constituídas maioritariamente por mulheres que, na condição da época, não tinham a atividade profissional reconhecida como ofício de pleno direito.

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