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Contadores “inteligentes” para acabar com os “truncados”

Luís Godinho (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)

Contas do Executivo socialista indicam que valor da água por cobrar ascenda a 800 mil euros. Agora vêm aí contadores “inteligentes” para ajudar a resolver o problema.

O contrato está assinado. A Câmara de Estremoz encomendou a uma empresa do sector um conjunto de 1000 contadores que medem à distância os consumos de água. O custo ascende a 75 mil euros. A que falta somar o serviço de montagem. “Estamos a lançar o procedimento [concursal] para a montagem pois os serviços [municipais] não têm capacidade para o fazer”, referiu o vereador Luís Pardal na mais recente reunião pública de Câmara, onde a questão da água voltou ao debate.

“Os contadores estão adjudicados”, sublinhou Luís Pardal, lembrando que o concelho de Estremoz regista perdas de 76,4% no sistema de abastecimento de água. Ao desperdício, resultante de uma rede onde se registam permanentes roturas, soma-se o não pagamento dos consumos, que o presidente da autarquia avalia em mais de 800 mil euros.

“Em 2023 a dívida [de água] subiu 11 mil euros, não estamos a crescer 100 mil euros ao ano, como sucedia, mas 11 mil”, referiu José Daniel Sádio, lembrando ter sido implementado um protocolo entre a autarquia e a Autoridade Tributária que permite ao Fisco avançar com cobranças coercivas. “Estamos a normalizar e a dar credibilidade ao sistema”.

Além de permitirem a medição dos consumos de forma remota, os novos contadores são ativados com o simples enchimento da tubagem, estando equipados com uma bateria cuja “vida útil” pode chegar aos 18 anos. A sua aquisição foi anunciada no passado mês de maio, quando Luís Pardal revelou, em reunião de Câmara, que todos os meses entre quatro e cinco mil contadores de água no concelho de Estremoz não registam qualquer consumo, deixando por cobrar milhares de euros.

“Comecei a ver listagens de consumos a zero, todos os meses são entre quatro e cinco mil consumos a zero. O que fiz a seguir foi tentar perceber como poderemos ter um sistema que monitorize tudo isto”, revelou o vereador, segundo o qual um contador “pode estar travado porque alguém o adulterou ou porque avariou devido ao calcário. A verdade é que há muitos anos não há substituição de contadores”.

O assunto voltou à ribalta da discussão política na sequência de uma questão colocada pelo vereador Joaquim Crujo, do Movimento Independente por Estremoz (MiETZ), sobre uma rotura de água na zona da Frandina que “esteve 30 dias” para ser resolvida. “Aquilo está num estado miserável, foi um desperdício de água terrível”, referiu Joaquim Crujo, mostrando fotos da ocorrência.

Na resposta, José Daniel Sádio recorreu à ironia: “Em outubro de 2021 estava tudo perfeito, não havia roturas, todas as pessoas tinham água em quantidade e qualidade (…), não havia nenhum problema com faturas por cobrar, estava tudo perfeito. De um momento para o outro, de forma inexplicável, tomámos posse e tudo descambou. Estamos em estado de choque porque de outubro de 2021 até hoje tudo se degradou”.

José Daniel Sádio reiterou depois a promessa feita há mais de um ano de apresentar à Câmara uma proposta para resolver o problema, que passará pela concessão das redes de abastecimento e de saneamento, revelando que o levantamento das necessidades de investimento, a cargo da EPAL, ainda não está concluído. Só depois é que a proposta irá a reunião de Câmara.

A “ironia” na intervenção inicial do presidente acabou por ser criticada pelo vereador Nuno Rato (MiETZ): “É constrangedor olhar para as suas intervenções e ver a forma como gosta de ironizar (…) a leviandade com que o presidente gosta de vir aqui fazer ironias”. Segundo Nuno Rato, os vereadores do movimento “trazem situações concretas e o presidente continua a falar do passado” pois “estamos com dois anos de mandato e o que temos visto é notório para toda a gente (…) apresentamos regularmente situações para serem resolvidas e o que vemos é continuar a dizer que estão em estudo ou em projeto. Continua a desculpar-se com o passado para a sua inação”.

“REDE NUM ESTADO MISERÁVEL”

Acusando os anteriores Executivos do MiETZ de terem “deixado” a rede de água com “roturas constantes” e um “gravíssimo problema de saneamento”, José Daniel Sádio sublinhou que já passaram três quadros comunitários de apoio sem que o problema tenha sido resolvido. “Havia uma proposta de início de resolução que envolvia financiamento público de 11 milhões de euros e que o [anterior] presidente rasgou”, prosseguiu o autarca, dirigindo-se aos vereadores do MiETZ: “Têm razão, a rede está num estado miserável, foi o que os senhores deixaram e que estamos a tentar resolver”.

TERRENOS DA IP VALEM 1,8 MILHÕES

Se o debate sobre a rede de abastecimento “separou as águas” entre maioria e oposição, a decisão de assinar um contrato-promessa com a Infraestruturas de Portugal para adquirir um conjunto de edifícios e terrenos junto à antiga estação de caminho-de-ferro voltou a trazê-lo para “águas mansas”.

Nos termos do contrato, o Município de Estremoz propõe-se adquirir edifícios e terrenos por cerca de 1,8 milhões de euros, a pagar ao longo de um período de 10 anos, com prestações mensais na ordem dos 14 mil euros, e uma entrada de 10%. “Vamos diluir este encargo ao longo do tempo, não vamos onerar o orçamento municipal num valor muito elevado”, esclareceu o vereador Luís Pardal, lembrando que o projeto para o local prevê a criação de 33 lotes destinados a moradias unifamiliares e cinco lotes para construção de blocos de apartamentos. No total serão criadas cerca de 150 novas habitações, algumas das quais a custos controlados.

“Não está delineada a forma como os lotes serão atribuídos, nem o respetivo preço, mas queremos dar sempre preferência aos jovens casais do concelho”, prosseguiu Luís Pardal, considerando tratar-se “do mais importante investimento feito no concelho, nos últimos 30 anos, para fixar os jovens” na cidade.

Nuno Rato concorda: “Trata-se de um projeto fundamental para Estremoz”. E José Daniel Sádio encerrou o debate garantindo que o preço dos lotes ficarão “bem abaixo” do valor de mercado, sendo a sua venda acompanhada de um regulamento que “evite” a especulação imobiliária. “É um loteamento muito importante para o futuro do concelho”, resumiu.

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