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“Comecei a mexer nuns papéis e fiz o dicionário de arabismos”

Luís Godinho texto

Quando o maior avião de passageiros do mundo aterrou pela primeira vez no aeroporto de Beja, em julho de 2018, uma pequena multidão juntou-se no local para sublinhar as potencialidades daquela infraestrutura. Entre os populares estava um dos maiores vultos da cultura portuguesa, Adalberto Alves, poeta e arabista, com 40 anos de carreira literária. “Considero-me bejense”, diz o autor, que tem casa na cidade, na rua da Mouraria, aqui regressando com frequência.

Quando passava os “eternos” verões da sua infância e juventude na cidade de Beja, Adalberto Alves estava longe de imaginar a longa e profícua carreira enquanto advogado, poeta e arabista. Já escrevia alguns poemas, de amor naturalmente, rasgados na sequência de uma “crise existencial” no fim da adolescência. O primeiro livro, “Uma Obscura Visão”, é publicado em 1979 e, desde então, não mais deixou de escrever e publicar. Poesia mas também obras de divulgação do legado árabe e islâmico em Portugal e na cultural universal, como “As Sandálias do Mestre” (2001), o “Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa” (2013) ou a antologia “O Meu Coração é Árabe” (1987), em que foi tradutor – ou melhor, “transcriador”, como se autointitula – de poetas árabes do ocidente ibérico, do período islâmico medieval.

Em 2008 foi-lhe atribuído o prémio Unesco- Sharjah para a Cultura Árabe, entregue a “indivíduos, grupos ou instituições que, através do seu trabalho e realizações notáveis, se esforçam para disseminar um maior conhecimento da arte e da cultura árabes». Apaixonado pela poesia de outro notável nascido em Beja, Al Mu’tamid, não esconde o desgosto de ver inacabado e praticamente esquecido o mausoléu do “poeta do destino” na cidade de Beja: “Nem um terço do que estava previsto foi executado”. 

Para além da poesia e da vertente arabista, a exposição patente ao público na Biblioteca Nacional de Portugal até ao próximo dia 9 de maio ressalta outros aspetos relevantes da personalidade e da obra do autor, “que contribuem para revelar o seu humanismo intrínseco”, como são os casos da íntima ligação de Adalberto Alves à música (cantou num coro dirigido por Fernando Lopes-Graça) e das suas intervenções sobre questões políticas e da atualidade.

Quando trocámos emails antes desta entrevista, disse-me que tinha muitas recordações da sua vivência em Beja. Que recordações são essas?

Num dos sete livros que publiquei por ocasião das comemorações dos 40 anos de vida literária, um livro chamado “Entre Vistas”, falo um pouco sobre a minha infância passada em Beja. Eu nasci em Lisboa, mas a minha família materna é toda ela de Beja, todos os meus tios e primos são de Beja. Ia sempre passar as férias de verão em Beja, onde tenho recordações desde a mais tenra infância… Tenho lá casa, na rua da Mouraria. Conhece a minha casa?

Não conheço. Mas se é na rua da Mouraria estava predestinada a ser sua!

Foi escolhida por se situar nessa rua, adquirida numa das minhas idas a Beja. A casa do meu avô situava-se nas proximidades do antigo posto de trânsito, logo à entrada da cidade. Que recordações tem desse período? A cidade era inacreditável. Era uma cidade muito atrasada mas encantadora. As ruas tinham muitos buracos, não havia esgotos em muitos locais, mas a cidade era absolutamente fabulosa. A casa do meu avô fazia um gaveto, tinha um grande quintal, uma coisa enorme. Havia uma escada no fundo do quintal, a gente trepava-a e avistava aquela imensa planície… Sempre fui muito apaixonado pela natureza, entretinha-me a observar as paisagens, a percorrer os campos à descoberta dos pássaros, dos papa-figos e dos abelharucos, outras vezes ia brincar para junto da ermida de Santo André. Parecia que aqueles verãos nunca tinham fim. O meu avô fazia transporte de mercadorias da estação de caminho de ferro para a cidade, pelo que tinha muito trabalho na altura da Feira de Agosto.

Que também era uma festa para si?

O meu avô trazia todas aquelas mercadorias para os comerciantes que iam estar na feira. Tinha mulas e éguas, um palheiro onde guardava o gado, e eu muitas vezes ia com ele em cima da carroça à estação ou ver a Feira de Agosto. Gosto muito de Lisboa mas considero- -me bejense. Comecei a nascer como poeta em Beja, tenho uma grande ligação com a cidade que se reforçou quando comecei a fazer os meus estudos de civilização árabe. Mesmo sem conhecer o então presidente da câmara, José Manuel Carreira Marques, fiz-lhe uma proposta no sentido de Beja descobrir o seu passado árabe, abrir um centro de estudos e, realmente, fez-se uma série de coisas. Independentemente dos presidentes serem do PCP ou do PS, nos primeiros tempos houve uma grande colaboração, organizou-se um congresso, inaugurou-se as ruas Abu al-Walid al-Baji [humanista árabe do século XI] e Al Mu’tamid [também conhecido pelo rei-poeta, nascido em Beja em 1040], fizeram-se exposições e colóquios internacionais, publiquei os meus primeiros livros sobre a cultura árabe…

… então e por que é que esse trabalho se perdeu nos últimos anos? Por que é que terminou?

Bom, devo dizer o seguinte: até ao presidente Jorge Pulido Valente, de quem sou muito amigo, como era do Carreira Marques, esse trabalho manteve-se. Depois acabou-se, não me pergunte porquê… Eu estou disponível para colaborar, sempre estive. Lá fui com a Natália Correia, veja bem, ainda há bem pouco tempo lá estive para participar nas Conversas Andarilhas, lá fui fazer uma palestra ao ar livre sobre estudos árabes.

 Tem havido desinteresse por parte dos mais recentes executivos da Câmara de Beja?

Não quero estar a fazer acusações nem ferir suscetibilidades.

 O que é que os seus pais faziam?

O meu pai era chefe de brigada na Polícia de Trânsito mas era um homem de esquerda, um militante antifascista, de maneira que acabou por ser preso. Esteve preso em Caxias, no Aljube, em Peniche, nunca confessou nada e eles não tiveram outro remédio que não fosse absolvê-lo. Mas demitiram- no da função pública. Não tinham motivo para o demitir, pois foi absolvido, mas demitiram-me. A PIDE tinha um braço muito comprido. Depois foi trabalhar para a CUF. Nós sofremos muito com isso. A minha mãe estava em casa.

O Adalberto Alves já escrevia alguns poemas nesse período de infância e de adolescência passado em Beja?

Sim, a partir de certa altura, já escrevia… alguns poemas.

Mas, depois, optou pelo Direito.

Optei pelo Direito porque em Portugal ninguém ganha a vida com a poesia e, portanto, tinha de optar por uma profissão que me permitisse ser mecenas de mim próprio. Quando acabei o liceu, inscrevi-me na Faculdade de Direito de Lisboa, onde me formei. Comecei a advogar, intervim em causas muito importantes, defendi presos políticos e, portanto, também fui perseguido pela PIDE, que me impediu de integrar a função pública. Têm lá um papel a dizer que eu não oferecia garantias de colaborar com os fins superiores do Estado.

 Isso é uma medalha!

É uma medalha (risos)…  

Pelo que sei a música foi outra das suas paixões. Aprendeu a tocar violino, guitarra clássica e foi solista num coro dirigido pelo Fernando Lopes-Graça. Como é que isso aconteceu?

Eu cantei em vários coros, no Académico da Universidade de Lisboa e, mais tarde, na Academia de Amadores de Música, para onde o meu cunhado me levou, a mim e à minha mulher. O Graça era meu amigo.

Cante alentejano é que não?

Cante alentejano também. No coro da Academia de Amadores de Música o Fernando Lopes-Graça tinha muitas harmonizações de coisas alentejanas… Olhe, até o célebre “Canta Camarada” [mais tarde gravado por Zeca Afonso], que, por acaso, não é alentejano, mas da Beira Baixa.

E escreveu um libreto, intitulado “D. Sebastião”. Chegou a acabá-lo?

Está acabado há muito tempo, ainda não está é editado. Estou a pensar em editá-lo. Foi feito a partir de um romance do Aquilino Ribeiro, A Aventura Maravilhosa de D. Sebastião, o Fernando Lopes Graça pediu-me para o fazer. Ninguém pegava naquilo porque o Aquilino é muito difícil, tem uma linguagem muito complicada e eu, que na altura nem sequer conhecia o romance, aventurei-me a escrever o libreto. Depois de ler o romance fiquei encantado. Escrevi uma ópera em três atos, levei- a ao Graça e ele pediu-me para a transformar em quatro atos. Lá trouxe o libreto, um dia apareci-lhe com o texto, ele ficou radiante, sei que fez uns esboços mas acabou por morrer. Aliás, com a Amália Rodrigues também foi assim…

… pois, bem sei, escreveu os poemas para um disco da Amália que não chegou a ser gravado.

Ela deu-me uma cassete com músicas do Alain Oulman, tinha letras da Natércia Freire, uma grande poetisa, mas a Amália queria uma coisa diferente, tinha pedido ao David Mourão Ferreira, que declinou o convite por já estar doente, e acabou por me pedir para o fazer. Eu levei-lhe um dos meus livros de poemas, a Amália começou a ler e começou a chorar… Fiz as letras, mas não tive muita sorte nisto das músicas. Ela adoeceu e, pronto, o disco acabou por não se fazer.

Começou a escrever poesia aos 13 anos. Dramaturgia pouco tempo depois. Ainda guarda esses textos?

Escrevia sobre o amor… (risos), só podia ser! Depois cheguei aos 18 anos, talvez um pouco antes disso, tive uma crise existencial e rasguei tudo, deitei tudo fora. Talvez devido a algum desencanto, a falta de convicção no valor daquilo que escrevia, o que aconteceu com muito boa gente, como o Kafka. Rasguei tudo. Depois, passados alguns anos, comecei novamente a ter vontade de escrever. No final da década de 70 já tinha muita coisa escrita, acabei por publicar Uma Obscura Visão, na editora Arcádia, onde também publiquei, passados alguns anos, outro livro de poesia, “O Gume e o Tempo”.

Por essa altura já tinha a convicção de que iria ser escritor?

Nunca disse que haveria de ser escritor, escrevia porque tinha de escrever, era uma função. Sentia-me poeta mas não tinha o propósito de fazer carreira enquanto tal. Aliás, acho que esse propósito é inútil pois ninguém é poeta, ou escritor, porque quer… Ou se é, ou não.

Antes de chegar à cultura árabe, pelo que li, andou pelo Extremo Oriente. Como é que isso surgiu na sua vida?

Tive três grandes paixões na minha vida: a música, a história natural e o arabismo. Além de outras coisas, como é evidente. A minha mãe, que trabalhava em casa, gostava muito de cinema, era uma grande cinéfila e, quando podia, pegava em mim e levava-me às matinés. Era muito miúdo quando fomos ver um filme chamado “O Ladrão de Bagdade” [realizado por Ludwig Berger e Michael Powell em 1940], baseado num episódio das Mil e Uma Noites, e eu fiquei completamente deslumbrado… Aquilo deu-me a volta à cabeça. À medida que fui crescendo comecei a interessar- -me pelas espiritualidades orientais, chinesas, japonesas, li os grandes clássicos e estudei as várias escolas do hinduísmo. A certa altura, passados alguns anos, desafiei um cliente [de advocacia] para irmos a Marrocos. Lá fomos, com as nossas mulheres, fizemos a viagem de carro e a primeira paragem foi em Tanger, onde chegámos quase ao anoitecer. Parámos junto a uma mesquita, anoitecia, o luar incidia sobre a porta do edifício onde estava um imã com umas barbas veneráveis, orando de turbante. A partir daí descobri que tinha andado à procura do Oriente nas paragens mais longínquas mas o Oriente que procurava estava em Portugal.

Como é que chega à poesia de Al Mu’tamid?

Comecei a estudar árabe pois, para conhecermos a civilização, temos de conhecer, pelo menos, o mínimo sobre a língua. Comecei a estudar a língua e a história, o que já estava publicado, a obra do professor Garcia Domingues, de Silves, o Portugal na Espanha Árabe, do professor António Borges Coelho, que não sendo árabe estudou muito a partir de traduções, e em que, entre outros temas, fala de Al Mu’tamid. Sendo eu um poeta dedicado a estudar a cultura árabe, pareceu-me lógico começar por uma antologia dos poetas árabes. Traduzi os poemas dele e fiquei deslumbrado.

Deslumbrado a ponto de o ter definido como “o poeta do destino”. O que é que a poesia de Al Mu’tamid tem de tão especial?

Ele ilustra os caprichos do destino e da sorte. Passa a sua primeira infância em Beja, pensa- -se que num palácio situado ao lado da atual igreja de Santa Maria, destruído na I República. Ele era árabe por parte do pai e berbere por parte da mãe, natural de Beja. O pai estava em Sevilha mas deixou-a em Beja, onde Al Mu’tamid nasceu. Ele não estava destinado a reinar pois tinha um irmão mais velho. Depois de Beja, Al Mu’tamid foi para Silves, como governador, onde vive um dos períodos mais felizes da sua vida, só sendo chamado para a corte depois de o seu irmão, que traíra o pai, ter sido executado. Foi patrono das letras e das artes, um homem de uma grande generosidade que gostava de ajudar os outros poetas. Não era um rei que fazia poesia. Era um poeta que calhou ser rei. Quando Iúçufe ibne Taxufine, emir dos Almorávidas do norte de África, invade o Al-Andalus, Al Mu’tamid, com 50 anos, é preso e desterrado para Agmate, perto de Marraquexe, onde passa o resto da sua vida.

Vi uma fotografia sua com o Presidente da República, Jorge Sampaio, e o José Manuel Carreira Marques, precisamente em Agmate, junto ao túmulo de Al Mu’tamid. Como é que surgiu essa visita?

Já conhecia o Jorge Sampaio há muitos anos [foram ambos advogados e defensores de presos políticos]… Não estava previsto o Presidente da República ir a Agmate nessa viagem oficial a Marrocos. Quando íamos para lá, no avião, o Jorge Sampaio veio sentar-se ao pé de mim, falei-lhe no túmulo de Al Mu’tamid e acabou por ir. Foi um um momento de grande simbolismo, fez-se uma visita guiada, recitaram- se alguns poemas em árabe.

Qual a maior riqueza da poesia de Al Mu’tamid?

Sendo um poeta clássico, foi um grande precursor de algo que a poesia árabe não tinha. A poesia árabe sempre se preocupou muito com a estética da língua e não propriamente com o tema. O mais importante era a forma como se dizia e Al Mu’tamid introduz- lhe a confessionalidade, os sentimentos, e isso é extraordinário. Ele viveu cinco anos na prisão, os seus últimos cinco anos de vida. Estava acorrentado mas tinha uma janela que dava para a planície e fala nos corvos, nas rolas e faz a sua poesia, em torno da sua desdita, da sua desgraça, por ter perdido a liberdade… Enquanto os pássaros eram seres livres, ele era um ser acorrentado.

“O DICIONÁRIO DE ARABISMOS FOI UMA PEDRADA NO CHARCO”

Um dos seus trabalhos de maior fôlego foi o “Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa”, publicado em 2013 pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda. Como é que surgiu esse projeto?

Nunca tinha pensado fazer um dicionário. Sempre me considerei produto da escrita, não a escrita produto de mim. Quer dizer, são as coisas que vêm ter comigo. Um belo dia, sentei-me à secretária, comecei a mexer nuns papéis e pensei que talvez conseguisse fazer um dicionário de arabismos. Comecei a escrevê-lo, à mão. Ainda tenho o manuscrito.

Ficou surpreendido com a quantidade de palavras que encontrou?

O David Lopes [professor de árabe, literatura francesa e história, nascido na Sertã, em 1867] ocupou-se disso, depois, a Carolina Michaelis [nascida em Berlim, em 1851 e a primeira mulher a lecionar numa universidade portuguesa], que falava árabe, dizia existirem umas 700 palavras portuguesas de origem árabe, mil no máximo. O problema é que todos eles trabalhavam com base numa imperfeição, convenceram- se que as palavras portuguesas de origem árabe eram todas substantivos e isso não corresponde à verdade, não é assim. Há muitos substantivos, mas há várias classes, adjetivos, advérbios, interjeições… muitos ditados, palavras que ainda hoje utilizamos. Claro que há algumas palavras portuguesas de origem árabe que são arcaizantes, que já caíram em desuso ou que se usam muito pouco, mas continuam a fazer parte do nosso léxico. Aliás, a gente quando vai a um país árabe e começa a falar, quando mete conversa, lá surgem algumas palavras que são compreendidas por todos.

Em qualquer dos casos, essa herança árabe ainda não é conhecida nem compreendida por todos?

Olhe, o dicionário de arabismos foi uma pedrada no charco. Descobri quase 19 mil palavras… O dicionário é composto por cerca de 19 mil termos mas já descobri muito mais depois de o ter publicado. Às vezes vou na estrada, passo por uma povoação, e lá surge um topónimo de origem árabe, que depois é necessário confirmar, descodificar a génese da palavra, chegar à fonte, descobrir quando é que a palavra entrou na língua portuguesa.

Mas por que é que esse nosso passado, que é também parte da nossa cultura, continua a não ser valorizado e estudado, desde logo na escola?

Isso tem uma razão que é simples de explicar. Quando se dá a conquista cristã – a reconquista cristã não existiu, é uma balela, porque o território que os cristãos conquistam aos árabes não é o mesmo que era antes, as cidades já eram outras ou já tinham uma fisionomia completamente diferente, de um ponto de vista civilizacional e cultural – os exércitos eram acompanhados por padres católicos. Repare que os árabes, por causa da sua religião, têm de começar a estudar o Alcorão desde muito novos, ainda criancinhas, pelo que havia nessa altura um grande desnível: enquanto no mundo cristão a população era quase toda analfabeta, a civilização árabe estava no seu esplendor. Os letrados eram os padres, os monges, os clérigos, e eram eles que faziam a historiografia. É aí que se dá o apagamento da importância da cultura árabe. Eles apresentavam a conquista árabe como um castigo dos cristãos, e os árabes eram apresentados como o perro, o cão, infiel. E como eram eles próprios que também faziam os dicionários. Os árabes eram os depositários do saber agronómico, dos nomes das plantas, dos astros, dos conceitos da matemática e da filosofia, eram conceitos que não tinham equivalente de origem latina. Então latinizaram a terminologia árabe, falsificaram a gramática e a linguística.

Mas sendo um distanciamento com raízes históricas, a verdade é que ainda hoje existe. Olhe o exemplo dos judeus sefarditas que, comprovando origem portuguesa, podem obter a nacionalidade, o que não sucede com os descendentes de árabes expulsos do território português. Como é que vê esta situação?

Sobre isso tenho qualquer coisa a dizer. Sou protagonista neste caso. Há uns anos, desempenhava Cavaco Silva o cargo de Presidente da República, li no jornal que os judeus se começaram a movimentar no sentido de obterem a nacionalidade portuguesa, desde que provassem ter ascendentes expulsos daqui. Falei então com a comunidade islâmica, com quem me dou muito, sou muito amigo deles, e disponibilizei-me para ajudar no sentido de ser dada uma equiparação, que é mais do que justa, até porque os judeus nunca tiveram neste território a importância dos árabes, dos muçulmanos… nem sequer foram poder, foram sempre minoria. Cheguei a escrever ao Presidente da República e ao presidente da Câmara de Lisboa a alertar para a injustiça que estava a ser cometida, para o manto de silêncio sobre os árabes descendentes de portugueses, mas não fui ouvido e a comunidade judaica mexe-se muito bem neste tipo de coisas.

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