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Centenas de foliões deram alegria no Carnaval de Estremoz

Ana Luísa Delgado texto | Gonçalo Figueiredo fotografia

Depois de dois anos de paragem forçada, devido à pandemia de covid-19, os desfiles de Carnaval voltaram a animar as ruas da cidade de Estremoz. Primeiro foram as crianças, depois os adultos, num corso com dez grupos e centenas de foliões.

A primeira vez que conversamos, uma semana antes do Carnaval, Ana Simeão, 69 anos, diz que no grupo que integra, o do Clube de Futebol de Estremoz, está tudo “preparado” para o desfile do corso. O tema, esse, é que faz questão de não divulgar. “O segredo é a alma do negócio”. Afinal, viu-se no domingo, dia 21, desfilaram vestidos “à moda” dos antigos egípcios. Mas poderia ter sido outro disfarce qualquer. “Gosto mesmo de me mascarar, de desfilar, de participar nesta brincadeira, o tema é o que menos importa. O grupo escolhe e nós cá estamos”, acrescenta.

Pelo Rossio Marquês de Pombal, em Estremoz, desfilaram dez grupos, com mais de meio milhar de foliões. Ana Simeão lá estava. “A primeira coisa que faço quando recebo o calendário do ano é ver quando é que calha o Carnaval. Gosto desta festa mas tenho a quem sair, já a minha mãe adorada mascarar-se. Só não vou se não puder”. Terça-feira gorda, um pouco antes das 15h00, hora do início do desfile, junto ao Teatro Bernardim Ribeiro, a agitação é grande. “Vá juntem-se todos para a fotografia”, diz Ana Simeão, dirigindo-se a um grupo de foliões, integrando por muitas crianças. Minutos depois iniciavam a primeira de duas voltas ao recinto, num corso acompanhado por centenas de pessoas.

Depois de dois anos de paragem forçada devido à pandemia de covid-19, o Carnaval regressou à cidade. Primeiro foi o desfile das escolas. O tema foi o “Carnaval com Arte” e pelo Rossio começaram por desfilar cerca de 800 alunos dos vários estabelecimentos de ensino, trajados a rigor. Domingo e terça-feira foi a vez de os adultos mostrarem o que valem.

“Estamos sempre em alta… a malta junta-se quando é para trabalhar, para preparar o desfile, e quando é para conviver cá estamos todos, na mesma. É o espírito de entreajuda que ainda conseguimos manter”, diz-nos Dina Marques, da Sociedade Filarmónica Luzitana, instituição que apesar de vetusta (foi criada no reinado de D. Maria II) mantém a irrequietude e integra a comissão organizadora do Carnaval de Estremoz, juntamente com o Orfeão Tomaz Alcaide e com a Sociedade Filarmónica Artística Estremocense, a União, que embora uns aninhos mais nova que a Luzitana, ainda assim, foi fundada no reinado de D. Luís, o único de seu nome

“Desde 2019 que não havia corso, pelo que a expectativa e a vontade de desfilar era grande”, acrescenta Dina Marques, lembrando tratar-se de um evento que “mobiliza a economia e traz sempre muita gente à cidade”.

Para o concretizar, a Câmara de Estremoz atribui à comissão organizadora um apoio de 15 mil euros, essencial no que toca a comprar materiais para os carros e os trajes da praxe, ainda para mais num ano “muito apertado de tempo” para preparar o desfile: só há cerca de um mês houve a garantia de que o Carnaval estava mesmo de regresso.

Mas se esse subsídio é essencial, Dina Marques lembra que é o empenho dos foliões que põe o Carnaval de pé, sendo essa uma característica que o distingue de muitos outros, com estrutura profissionalizada. “A malta vai-se governando com o que tem. Os custos totais, esses, é que nem conseguimos contabilizar… não vamos fazer conta às horas que gastamos, nem às que não dormimos, afinal é tudo por uma boa causa”, refere.

UM CARNAVAL COM HISTÓRIA

No seu blogue, “Do Tempo da Outra Senhora”, Hernâni Matos refere que a primeira notícia conhecida referente à realização de um corso carnavalesco em Estremoz remonta a fevereiro de 1919, meses depois do fim da I Grande Guerra Mundial, tendo o corso “assumido a forma de uma ‘batalha’ de flores”, isto porque os carros, “pertencentes a lavradores e a elementos da melhor sociedade de então, iam enfeitados com flores que deles eram também lançadas sobre a assistência que se encontrava ao longo do percurso”.

Ainda de acordo com Hernâni Matos, “após a criação em 1930 do Orfeão de Estremoz Tomaz Alcaide, este chamou a si a iniciativa de promover corsos carnavalescos designados também por “Batalhas de flores”, integradas por carros alegóricos, grupos de cavaleiros, grupos de ciclistas, grupos de foliões e ranchos folclóricos do concelho”. Nas décadas de 50-60 o século passado, as flores já eram de papel, sendo a tradição interrompida pelo eclodir da Guerra Colonial e retomada em 1993.

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