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Cartilha de formação do Benfica conquista jogadores em Alandroal

Luís Godinho texto | Pedro Perdigão e Gonçalo Figueiredo fotografias

Aqui a prioridade não são os resultados, mas a formação de cidadãos, sem exclusão de ninguém. “A competição é a última coisa em que pensamos”, diz Vítor Pires, coordenador da Escola de Futebol Benfica de Alandroal.

Foi por “comodidade familiar” que Humberto Batista decidiu inscrever os dois filhos gémeos na Escola de Futebol Benfica de Alandroal. Henrique e Guilherme Batista, de 12 anos, praticavam râguebi no clube das “águias” quando a família se mudou para o concelho, faz agora um ano. 

“Para poderem continuar a jogar râguebi teriam de se deslocar, pelo menos, uns 30 quilómetros. De modo que, por nosso conforto, optámos por mudar de modalidade, inscrevê-los no futebol e em boa hora o fizemos pois encontrámos um grupo muito bem organizado, de gente boa… fomos muito bem recebidos”, diz Humberto Batista, acrescentando que os filhos vão para os treinos “sempre com entusiasmo enorme”. Desde logo por vestirem a camisola do “seu” Benfica, depois porque a componente competitiva associada à prática desportiva acaba por ser uma “ferramenta importante” no processo de formação. “Esta é também uma forma de criarem amizades. A competitividade está presente, mas o fundamental são os laços sociais que criam, as relações que estabelecem com os seus pares e com os treinadores, a noção de respeitar as indicações que lhes são dadas”.

Vítor Pires, o coordenador da Escola, não poderia estar mais de acordo. “A ideia deste projeto foi oferecer um espaço de desporto em que estamos a formar cidadãos, com regras de bom comportamento, de estar e de trabalhar em grupo, o que hoje em dia não é fácil. A competição é a última coisa em que pensamos”.

Treinador já com longa carreira em clubes das Associações de Futebol de Évora e de Beja, Vítor Pires conta ter aceitado este “desafio” pela dupla razão de se tratar de uma iniciativa no concelho onde nasceu – é natural da freguesia de Santiago Maior – e por acreditar que o trabalho aqui desenvolvido “irá marcar a próxima geração”. Aquela que tem agora entre os quatro e os 13/14 anos e que todas as semanas se “entrega” ao treino no complexo desportivo.

“Obviamente que quando estamos dentro de campo queremos ganhar os jogos, como é lógico. Mas toda a orgânica que antecede esse momento não é direcionada para o resultado do jogo”, explica Vítor Pires, segundo o qual a aposta é “tentar, dentro da nossa realidade, aplicar a metodologia de trabalho do Benfica, que é muito diferenciada das restantes, e por isso é que a Academia [Benfica Campus] ganha prémios internacionais”.

Logo depois da sua fundação, em 2019, a Escola de Futebol Benfica de Alandroal chegou a ter uma centena de atletas inscritos. Depois veio a pandemia de covid-19, uma paragem de ano e meio e o recomeço aconteceu com menos de metade. Hoje já são 75, dos mais novos (petizes) aos infantis, alguns dos quais residentes em concelhos vizinhos, como Estremoz, Vila Viçosa ou Borba. São atletas que, de segunda a sexta-feira, representam a Escola de Futebol Benfica. E que aos fins de semana participam nos campeonatos da Associação de Futebol de Évora com a camisola do Centro de Cultura e Desporto de Terena, coletividade com trabalho feito ao nível da formação.

APRENDIZAGEM DE VALORES

Por aqui, garante o coordenador, os métodos de trabalho são diferenciados do “que por vezes se vê”, privilegiando-se a aprendizagem de valores. “É proibido os clubes levarem jogadores mais velhos para jogarem nos escalões etários mais baixos. Mas alguns fazem-no com o objetivo de ganhar os jogos. Nós fazemos exatamente o contrário. Ou seja, colocamos os que estão mais aptos a jogar no patamar acima para evoluírem de uma forma consistente e mais rápida”, exemplifica Vítor Pires.

Outro exemplo dessa forma “diferente” de ver o desporto: “No escalão de benjamim podem ir 12 jogadores para a ficha de jogo. Há clube, é uma constatação que faço, não uma crítica, que levam apenas nove ou 10 jogadores, para não terem de os meter todos a jogo. No nosso caso, sejam bons ou menos bons, vão todos a jogo, levamos sempre o máximo de jogadores permitido”.

Leonor Roma, de 12 anos, é uma das jogadoras dos infantis. Conta o pai, Nuno Roma, que a filha “tem evoluído bastante” desde que aqui começou a treinar, ainda no escalão de benjamins. “Já foi chamada à seleção distrital de sub-12, a sua evolução enquanto jogadora tem sido notória, é uma das capitãs da equipa e já foi aos jogos de captação do Benfica”. Leonor “adora” futebol. E o pai não perde uma oportunidade de a ver jogar: “As crianças hoje estão muito envolvidas com os jogos eletrónicos e esta é uma maneira de as tirar dessa atividade, do isolamento. É um extraescolar que lhes faz bastante falta, tanto a nível físico como psicológico”.

Acresce que o facto de ser uma Escola Benfica constitui uma “motivação acrescida” para todos estes jovens, tal como outros fatores que marcam o ritmo da formação. “Um dos pontos altos do nosso calendário”, conta Vítor Pires, “é irmos todos, atletas e pais, ver um jogo ao Estádio da Luz, a convite do Benfica. Depois, no final de maio, temos um encontro nacional de escolas, em pleno relvado da Luz, que constitui sempre um momento fantástico. E ainda participamos na Liga Interna do Benfica, onde jogamos contra outras escolas”. No próximo dia 25 de fevereiro os jogos serão em Alandroal.

Segundo o coordenador, os objetivos de médio prazo passam por ampliar a base de recrutamento, permitindo criar uma equipa de juvenis. “A ideia é começar pela base pois quantos mais petizes tivermos em formação, mais benjamins iremos ter e assim sucessivamente, ultrapassando o problema que se coloca ao chegar às equipas de iniciados, quando já estão 11 jogadores em campo [até aí são sete contra sete]. O ano passado nem uma equipa de infantis conseguimos fazer”.

O ideal, assegura, seria que todas as crianças do concelho, em idade pré-escolar, pudessem estar inscritas na escola. Mas o facto de se tratar de um território disperso, envelhecido e pouco povoado, não ajuda a que isso aconteça.

“FORMAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO”

O objetivo da Escola, reforça o presidente da Câmara de Alandroal, João Grilo, é “proporcionar às crianças uma hipótese de desenvolverem competências sociais e físicas sem ser em ambiente competitivo”. Dito de outro modo: “A filosofia desta Escola não é a formação para a competição, mas para o desenvolvimento. Se bem que alguns poderão depois seguir esse caminho, a ideia é ser uma escola acolhedora para todos, quer tenham mais ou menos capacidades para o futebol. Não queremos que ninguém se sinta excluído”.

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