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Carolina Mendes, a “nossa” alentejana no mundial de futebol

Maria Antónia Zacarias texto

Nascida em Estremoz, Carolina Mendes é uma das “heroínas” do futebol feminino português, cuja seleção A se classificou, pela primeira vez, para a fase final de um Campeonato do Mundo.

Os estereótipos de género continuam a ser determinantes na construção das desigualdades entre mulheres e homens afetando todas as esferas da vida social, política, económica e cultural e desportiva? Infelizmente, há ainda situações, mas a pouco e pouco, a sociedade portuguesa vai fazendo o seu caminho. 

Um dos maiores sinais disso são os brinquedos unissexo ou as escolhas dos pais em deixarem as crianças brincarem com o que quiserem: bolas, bonecas, carrinhos, cozinhas, legos. Foi isso que os pais da Catarina Mendes fizeram quando a deixaram ir para a rua jogar à bola com os rapazes. Quando lhe permitiram andar com a bola debaixo do braço, em vez de uma boneca.

Uma educação que lhe permitiu ser ela e levá-la onde está hoje. Com a cidade de Estremoz no coração, ao lado das sete quinas, a futebolista conta que sempre que pode regressa ao seu “porto de abrigo”, à sua casa, ao Alentejo, e deixa um conselho a todas aquelas meninas que a têm como referência: resiliência e muito trabalho ajudam a concretizar sonhos!

Carolina Mendes nasceu a 27 de novembro de 1987, em Estremoz, é futebolista, avançada, joga atualmente no Sporting Clube de Braga e integra a Seleção Portuguesa de Futebol Feminino que se qualificou para o Campeonato do Mundo. 

Gosta de jogar futebol desde que se lembra. “A minha infância foi passada a jogar futebol, sempre com a bola debaixo do braço. Como não havia equipas femininas, jogava na escola e na rua com os rapazes”. Conta que sentia que tinha jeito para o desporto, mas como “na altura como não havia futebol feminino, praticava judo e hóquei em patins”.

O futebol chegou mais tarde, por casualidade, já com 16 anos e a convite duma equipa feminina de Ponte Sôr. A jogadora admite que “foi um percurso difícil”, até porque o futebol feminino era amador e “nós jogávamos por amor” à camisola. Lembra que teve de fazer muitas opções, prescindir de muitas coisas, nomeadamente teve de sair de Portugal para se profissionalizar e acrescenta: “Mesmo assim alguns dos clubes eram semiprofissionais”.

A impossibilidade de fazer carreira levou-a a ser emigrante. O sonho de se tornar jogadora profissional e ter algumas condições só foi possível fora do país. Aliás, foi só nessa altura que Carolina Mendes começou a pensar seriamente que poderia fazer carreira no desporto. “Não foi um caminho premeditado, eu não disse: ‘Vou ser jogadora de futebol daqui a alguns anos’. Não foi uma caminhada planeada e nunca pensei em ganhar títulos ou chegar a um determinado lugar”.

Esteve oito anos fora de Portugal para poder ser profissional de futebol e esses tempos, garante, “nem sempre foram fáceis”. Contudo, quando algumas equipas portuguesas se profissionalizaram, voltou de malas e bagagens para se poder dedicar à sua paixão de sempre.

Conseguir conciliar a formação académica com o desporto, refere, não foi obstáculo pois há tempo e espaço para tudo, “desde que haja organização e as prioridades estejam bem definidas. A minha claramente era o futebol, o curso foi-se fazendo ao longo do tempo”. 

“A FAMÍLIA É O MEU MAIOR PILAR”

Todo o seu caminho foi feito com o apoio da família. “A minha família é o meu maior pilar, desde sempre me apoiaram, nem que fosse por me deixarem ir jogar futebol para a rua, só com rapazes, todos maiores do que eu… Estou grata aos meus pais pelo apoio incondicional que me deram”. Quanto à sua maior crítica, essa, admite, é a irmã “porque é a pessoa que melhor me conhece e também tem um papel fundamental na minha vida, por isso, é a minha maior crítica”.

Já no que diz respeito a superstições, sempre que entra no campo, a avançada confessa que fala com a mãe e a com a irmã. Assim o fez no jogo em que a seleção portuguesa se qualificou para o Mundial de 2023. “Isto significa o concretizar de um sonho! Até aqui sempre sonhámos com isto, mas sabíamos que era uma realidade quase impossível de acontecer e agora estamos lá. É um sentimento maravilhoso”, sublinha. 

Diferente é aquilo que sabe que sente e do qual nunca se esqueceu, nem esquece: Estremoz. “Adoro Estremoz, é o meu refúgio, o meu lar, é onde estão os meus e é onde sempre que posso volto. Sempre que tenho um tempinho livre é para cá que venho carregar baterias”. 

Acresce que são conhecidas algumas das suas ações em termos de solidariedade associada ao futebol. Quando foi jogadora do Sporting, Carolina Mendes pensou numa forma de apoiar os mais necessitados e através do Instagram avançou com o leilão de material desportivo que permitiu angariar 5600 euros para a Comunidade Vida e Paz, instituição que desenvolve um trabalho em prol dos sem-abrigo e de outras pessoas carenciadas. 

“Acredito que o desporto é uma excelente ponte para podermos chegar aos mais desfavorecidos. O desporto é uma ferramenta capaz de aproximar pessoas, mudar mentalidades, mudar o mundo até. Não devia ser só o futebol o motor, mas todo o desporto”, remata.

“NADA SE CONSEGUE SEM TRABALHO”

Quererá Carolina Mendes mudar o mundo de alguém? A resposta surge quando deixa um conselho para todas as jovens que a têm como referência e que gostariam de estar no seu lugar: “Trabalho. Nada se consegue sem trabalho. Sonhem muito e vão atrás desses sonhos. Há uns anos, eu também era só uma menina que sonhava estar no Mundial e agora esse sonho está prestes a ser concretizado”.

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