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Carlos Machado. O comandante mais antigo do distrito

Ana Luísa Delgado texto Gonçalo Figueiredo foto

Aos 54 anos, Carlos Machado, o comandante dos Bombeiros de Estremoz, soma mais de quatro décadas de voluntariado. É o comandante mais antigo do distrito no exercício de funções. Chegou ao topo da carreira com apenas 25 anos. Hoje em dia, lamenta, faltam incentivos para atrair os jovens às corporações.

Foi através da fanfarra que Carlos Machado chegou aos Bombeiros de Estremoz na companhia de rapaziada da mesma idade, 13 e 14 anos. Alguns ficaram. Entre eles o próprio Carlos Machado, que se inscreveu como cadete, passando depois a aspirante (hoje a designação é estagiário). Na família mais chegada foi o primeiro a enveredar pela carreira. De bombeiro de terceira classe até chegar a chefe. Depois a comandante.

“Fiz a carreira de uma forma relativamente rápida, porque havia vagas, estudei. Era interessado. Acabei, aos 25 anos, por atingir a categoria de chefe e, portanto, três anos depois fui convidado para as funções do comandante do Corpo de Bombeiros de Estremoz”. Funções que ainda hoje exerce.

Segundo Carlos Machado, nas decisões de comando há sempre que ponderar três fatores: analisar a ocorrência, definir a resposta e vencer as dificuldades. “Temos meios humanos e equipamentos para fazer face às dificuldades que nos aparecem. Outra preocupação é o pessoal… desde a ocorrência mais simples. O nosso maior desejo é que não haja problemas a nível de acidentes, que as pessoas venham a sofrer fisicamente ou que percamos vidas”.

Ao longo da sua, já longa, vida de comandante, destaca dois momentos mais apertados. Um deles, em 2006, aquando da resposta a um incêndio florestal de enormes proporções na Serra d’Ossa. “Foi uma ocorrência que, pela dimensão que tomou, por todo o envolvimento operacional que exigiu, comportou riscos para alguns dos nossos elementos”. Na altura chegou a ser ponderada a retirada da população da Aldeia da Serra. “Já tive outras deslocações para combater grandes incêndios noutros pontos do país, mas as situações que mais nos marcam são aquelas que nos estão próximas”.

E, por falar em proximidade, tem bem presente a do incêndio na cobertura do Teatro Bernardim Ribeiro. “O acesso ao edifício foi complicado, o incêndio naquele edifício histórico teve uma grande impacto na população, o seu combate fez disparar a adrenalina e a preocupação [com os estragos que poderia causar]. Permanece como uma marca, uma referência da minha carreira”.

Em termos pessoais, Carlos Machado também não se esquece daquele dia em que foi mobilizado para o combate a um incêndio na zona da Castelo de Vide, distrito de Portalegre. No local onde se encontrava o fogo já estava resolvido. O problema é que o jipe, onde seguia, estava a circular numa via férrea acabando por ser “colhido” por uma composição que fazia a manutenção da linha. “O jipe ficou completamente destruído. Acabei por ter muita sorte, porque as lesões não foram graves, embora tenha estado quase três semanas de baixa médica. A viatura foi arrastada por 30 a 40 metros”. 

Quis o acaso, ou o destino, que nessa momento seguisse sozinho. “Estava com um motorista, depois de uma noite inteira de trabalho. Íamos descansar um bocadinho quando encontrámos outra viatura aqui dos Bombeiros de Estremoz e o motorista acabou por ficar com eles. Todo o impacto do acidente que sofri foi no lado do ‘pendura’. Um de nós podia lá ter ficado”.

Outra experiência marcante, lembra, foi a sua primeira saída como bombeiro para fora do concelho de Estremoz. “Fui para um incêndio em Vila de Rei. Na altura, a organização [da Proteção Civil] não era nada do que é hoje… a receção dos grupos, os apoios, a organização dos postos de comando, tudo era deficitário. O desgaste era grande, a alimentação e o descanso muito deficitários. Era dormir debaixo do carro, com pó, com fumo… Estávamos numa frente de combate às chamas quando um dos bombeiros se encostou ao carro e caiu para o lado”. Carlos Machado prossegue o relato: “Não fomos capazes de o acordar. Lá consegui, no posto de comando, que mandassem uma ambulância, fui com ele para o Centro de Saúde de Vila de Rei”. Momentos de aflição que terminaram da melhor maneira.

“OS TEMPOS SÃO OUTROS”

Uma das maiores preocupações do comandante dos Bombeiros de Estremoz prende-se com a dificuldade em encontrar voluntários. “Os tempos são outros, a mentalidade dos jovens é outra e é mais difícil convencê-los a entrar para os bombeiros. Desse ponto de vista estamos a perder terreno”. A uma maior oferta de atividades por parte de cubes e associações desportivas junta-se a exigência de formação para ingressar nos bombeiros, mais as escalas de serviço, por vezes coincidentes com o fim de semana.

Sem voluntários, o socorro às populações torna-se mais difícil. Por isso, Carlos Machado considera que deveriam “existir incentivos”, tanto do Estado como das autarquias, para atrair jovens às corporações. “Incentivos para ingressarem e permanecerem”. E dá exemplos: “Há autarquias onde o acesso dos bombeiros aos equipamentos municipais é gratuito, poderia haver uma redução no Imposto Municipal de Imóveis para os bombeiros… tudo isso poderia ajudar a atrair os jovens”. 

Atualmente, os Bombeiros de Estremoz têm inscritos 51 elementos, dos quais alguns “têm uma disponibilidade quase nula em termos de serviço, por razões de ordem familiar ou outra”, mais três que integram a estrutura de comando. “São os elementos que temos. Temos que aproveitar a disponibilidade de cada um, tentarmos aproveitar a sua boa vontade em ajudar os outros”.

No passado mês de maio entrou em funcionamento uma segunda Equipa de Intervenção Permanente (EIP). Cada uma é composta por cinco bombeiros profissionais, que estão em permanência nos quartéis de bombeiros para ocorrer a qualquer situação de urgência e emergência de Proteção Civil registada no concelho. Às EIP somam-se os bombeiros, muitos deles voluntários, incluindo socorristas e motoristas, que asseguram os restantes serviços ao longo das 24 horas do dia. Todos os dias do ano.

Voluntários como o próprio comandante Carlos Machado. “Tenho o meu trabalho. Quando saio é que venho aqui dar o meu contributo e despachar o que tenho a despachar. Numa situação mais emergente, naturalmente que saio como qualquer voluntário pronto para ir para o teatro de operações”.

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