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Capoulas Santos não voltará a ser candidato a deputado

Luís Godinho e Ana Luísa Delgado (texto) e César Cordeiro (fotografia)*

É um ciclo que se fecha. Capoulas Santos não será candidato a deputado nas eleições antecipadas marcadas para o próximo dia 10 de março.

Luís Manuel Capoulas Santos foi pela primeira vez a votos em 1976, sendo eleito vereador em Montemor-o-Novo, onde nasceu em agosto de 1951. Chegaria à Assembleia da República com 40 anos. E, desde aí, manteve-se na ribalta política. Reeleito em 1995, foi secretário de Estado e ministro da Agricultura em governos liderados por António Guterres, antes de rumar a Estrasburgo, em 2004.

Nos 10 anos seguintes foi deputado no Parlamento Europeu, tendo integrado a Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural e sido relator da Política Agrícola Comum. No regresso, volta a assumir a liderança da Federação de Évora do Partido Socialista, regressando ao cargo de ministro da Agricultura no primeiro governo de António Costa, o da “geringonça”.

Em 2022 foi novamente Luís Capoulas Santos a encabeçar a lista do PS por Évora. Mas foi a última vez que tal sucedeu. A investigação judicial que resultou na decisão do Presidente da República de anunciar a dissolução do Parlamento e convocar eleições para o próximo dia 13 de março acelerou o calendário político. Nessas eleições uma coisa é certa: a lista do PS por Évora será renovada.

“Não penso recandidatar-me. O cargo que neste momento desempenho, de deputado, desempenho-o com muita honra. Penso que com o final deste mandato cessarei a minha participação em qualquer outro lugar político”, diz Capoulas Santos.

Assegurando não ter “nenhuma aspiração” ao desempenho de outros cargos, o deputado diz que este ciclo chega ao fim. “Acho que tenho um percurso de vida que responde por mim próprio, sinto-me realizado com aquilo que consegui fazer na política, mas não tenho nenhuma aspiração futura para além do termo do mandato que atualmente desempenho”, acrescenta.

A decisão de não se recandidatar não implica menor envolvimento nas questões partidárias. Pelo menos para já. Entre as duas candidaturas anunciadas à sucessão de António Costa – Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro -, Capoulas Santos já se decidiu: “Apoiarei o José Luís Carneiro por me parecer que é quem melhor representa aquilo que eu penso sobre o posicionamento político que o PS deve ter na sociedade portuguesa”.

Ou seja, “um partido que deve ser fiel aos seus princípios fundacionais, um partido pragmático, moderado, um partido do centro esquerda europeu, atlantista que defende a permanência de Portugal na NATO”. Na sua opinião, “quem reúne melhores condições para que o PS continue a defender estes princípios” é o atual ministro da Administração Interna, “sem prejuízo de considerar Pedro Nuno Santos um político com algum carisma e genuíno”.

Reconhecendo a existência de “diferentes perspetivas políticas” no interior do PS, “umas mais centristas, umas mais social-democratas e outras mais à esquerda”, Capoulas Santos considera que “sempre prevaleceu uma visão moderada, pragmática e social-democrata”, daí a sua opção quando à futura liderança do partido.

CRISE POLÍTICA

A “aceleração” do calendário eleitoral decorreu da investigação judicial a negócios do lítio, hidrogénio e da construção de um centro de dados em Sines, que levou à detenção de cinco pessoas, entre as quais o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, e o advogado Diogo Lacerda Machado, apresentado como o “melhor amigo” de António Costa.

Um comunicado da Procuradoria Geral da República (PGR) indicou que “no decurso das investigações surgiu, além do mais, o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do primeiro-ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos”, tendo encaminhado o processo para o Supremo Tribunal de Justiça, o órgão competente para dirigir o inquérito.

António Costa apresentou a demissão. Marcelo Rebelo de Sousa aceitou-a. E Capoulas Santos diz ter visto todo este episódio com “perplexidade e muita preocupação”, por colocar em causa “não apenas um partido, mas o próprio país, quer do ponto de vista da sua imagem exterior, como do ponto de vista da economia e da estabilidade”.

Dizendo que “acreditar num desfecho rápido na justiça portuguesa é algo que parece estar fora das melhores expetativas de quem quer que seja”, o deputado socialista critica a cobertura “profundamente tendenciosa e, nalguns aspetos, até manipuladora” da comunicação social a este caso. “Confio no povo português para que possamos continuar a ter em Portugal uma democracia sólida e respeitada como acontece neste momento. Mas naturalmente que está sob ameaças e aquilo que temos assistido nestes últimos dias é a prova disso mesmo”, conclui.

O QUE ESTÁ EM CAUSA NA OPERAÇÃO “INFLUENCER”

Do que se sabe, a investigação do Ministério Público está centrada em escutas telefónicas nas quais é indiciada a contratação do advogado Diogo Lacerda Machado pela empresa responsável pelo centro de dados em Sines, para beneficiar da sua influência junto do Governo, e em particular do primeiro-ministro, “tendo a todos solicitado que fossem tomadas decisões favoráveis aos interesses da Star Campus”.

* Ministério da Agricultura

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