Luís Godinho texto
O Centro Dramático de Évora vai receber um apoio financeiro da Câmara de Évora no valor de 800 mil euros, destinados à programação cultural do Teatro Garcia de Resende. A decisão foi aprovada em reunião pública de Câmara com os votos favoráveis da CDU e da vereadora do Movimento Cuidar de Évora, e com as abstenções dos vereadores do PS e do PSD.
De acordo com o presidente da Câmara, Carlos Pinto de Sá, esta verba resulta de uma candidatura apresentada pelo município à Direção Geral das Artes (DGArtes) para a programação quadrienal do Teatro Garcia de Resende. A candidatura, aberta a todos os equipamentos incluídos na Rede de Teatro e Cineteatros Portugueses, foi aprovada no “valor mais alto de apoio”. Assim, o Estado, entra com um financiamento de 800 mil euros. “Como contrapartida terá de haver um valor igual, do ponto de vista do financiamento, que a Câmara se comprometeu a assegurar”.
Como a entidade gestor da candidatura será o Centro Dramático de Évora, companhia residente no Garcia de Resende, a verba será transferida para esta instituição. Do total de 800 mil euros, 200 mil são relativos ao ano em curso. Os restantes 600 mil serão transferidos ao longo dos próximos três anos.
“Estas verbas são exclusivamente para a programação do Teatro Garcia de Resende e não implicam qualquer apoio direto ou indireto ao Cendrev”, garante Carlos Pinto de Sá, sublinhando que, “pela primeira vez”, exista a possibilidade de desenhar uma programação cultural de médio prazo para este equipamento, “com um valor substancial”.
“Este teatro”, acrescentou, “pela suas características, é prestigiante para a cidade e temos todo o interesse que possa ter uma programação de qualidade que possa ser uma montra de Évora”.
Ainda segundo o autarca, ficam salvaguardadas questões como o acesso de criadores locais ao Garcia de Resende, bem como “a diversificação de públicos e das diversas artes representadas” na programação deste ciclo de quatro anos.
“Valorizamos muito este programa de financiamento porque ele configura uma solução de estabilidade para uma programação regular nas cidades do interior”, disse, por sua vez, José Russo, diretor do Cendrev e responsável artístico da candidatura, reforçando que o financiamento “não prevê o pagamento da estrutura que tem de garantir a organização e concretização da programação”, ou seja da própria companhia.
Por outro lado, a execução da candidatura permitirá enquadrar o financiamento da próxima edição da Bienal Internacional de Marionetas de Évora, prevista para 2023. “Entendemos ser uma oportunidade que deveremos aproveitar o melhor que pudermos para garantir o cumprimento do serviço público de cultura na cidade que se perfila, justamente, para ser Capital Europeia da Cultura”.
DÚVIDAS DA OPOSIÇÃO
Sem resposta ficaram algumas questões colocadas oposição. Eleita pelo PS, Lurdes Nico quis saber, por exemplo, porque motivo a Câmara não indicou “mais instituições [culturais da cidade] para trabalhar em equipa com o Cendrev” no desenho da programação. “Estamos a aprovar um montante desta envergadura, 800 mil euros, estamos a validar este financiamento e temos só a programação de 2022, não sabemos o que vai acontecer nos anos seguintes. Isto é ter um duplo critério relativamente a outras instituições”, frisou.
Outra preocupação da autarca socialista prende-se com “o restante tecido cultural” do concelho. “Tomamos uma decisão de apoiar com este montante, com todo o mérito da candidatura, mas temos de ter alguma condição de equidade e de justiça para com os restantes agentes culturais”.
No mesmo sentido foram as declarações de Patrícia Raposinho, do PSD. “Estamos a apoiar, e bem, um plano e como é que vão ficar todos os outros organismos que também fazem cultura em Évora?”, questionou. A autarca expressou igualmente “preocupação” por só ter tido acesso à programação do primeiro ano, de resto já praticamente toda concretizada, lamentando estar a ser pedido aos vereadores que confiem em que “o trabalho eclético e diversificado da programação, que vá atender à diversidade de públicos”, será continuado nos próximos anos. “Queremos uma cultura livre e plural, ainda não está neste objetivo, porque o teatro antes de ser de qualquer associação é dos eborenses”.
Já a vereadora Florbela Fernandes, do Movimento Cuidar de Évora, diz que a execução desta candidatura permitirá “uma programação mais rica, mais diversa, escolhida por um diretor artístico”, recordando existirem “requisitos” que têm de ser cumpridos, “sob pena de não termos o financiamento da DGArtes”.