Francisco Alvarenga texto
Do trabalho de Florbela Barão da Silva e M. Margarida Pereira-Müller resultaram 30 biografias de outras tantas mulheres de Beja. O livro percorre sete séculos de história e foi agora lançado.
São ambas alentejanas. M. Margarida Pereira-Müller nasceu em Portalegre. Florbela Barão da Silva, tendo nascido em Almada, é alentejana “de coração”, desde logo porque os seus pais são naturais de Beja, cidade onde aprendeu a ler e a escrever. “Fiz aí parte da escola primária… a minha avó ensinou-me a ver as horas e pedia-me para lhe ler as cartas e postais”, recorda. Do encontro das duas nasceu “Mulheres de Beja”, livro que retrata 30 mulheres que se distinguiram na memória coletiva “pelas suas áreas de atividade e de expressão que as caracterizaram e assim contribuíram para a construção da identidade do município”. As ilustrações são assinadas por Cristina Matos, também ela natural de Beja.
“Conhecer bem a terra que faz parte da nossa identidade foi o que nos motivou para pesquisarmos sobre as mulheres que ajudaram a moldar a face do concelho de Beja. E por ser um território crítico em termos de poder económico, distância ao poder central, falta de infraestruturas rodoviárias e sabermos que nestas condições as primeiras afetadas são mulheres, idosos e crianças”, conta Florbela Barão da Silva, reconhecendo que no trabalho de investigação feito para cada uma das biografadas houve diversos aspetos que a conseguiram surpreender.
Desde logo, acrescenta, “que Beja suscita sentimentos de paixão, mas também de evasão e afastamento”, sendo que essa evasão “é também uma forma de identidade e permitiu a algumas destas mulheres descobrirem um mundo além-fronteiras”, sendo o seu percurso desconhecido pelos próprios conterrâneos.
“Acima de tudo surpreendeu-nos encontrar grandes mulheres que não tendo nascido em Beja, tomaram a região como sua e a mostraram ao mundo com a obra que lá deixaram. Existiu e existe uma elite de mulheres com um capital cultural e económico elevado”, diz Florbela Barão da Silva.
O livro percorre sete séculos de história, das biografias de Beatriz de Portugal a Elsa Valentim, passando por Mariana Alcoforado, Maria Isabel Covas Lima, Carolina Almodôvar Fernandes, Benvinda Paulino, Catarina Eufémia, Maria de Lurdes Modesto, Maria João George, Rosa Calado, Catarina Soares, Teresa Beirão, Maria da Graça Carvalho, Ana Paula Russo, Custódia Galego, Ana Matos Pires, entre outras.
Florbela Barão da Silva anota que três delas (Cândida Branca Flor, Tonicha e Linda de Suza) se dedicaram à música, “sendo que as liga alguma forma de tragédia, sobretudo quanto à forma de gestão da sua carreira por terceiros ou da dependência emocional e/ou financeira da relação agente/marido”.
Segundo as autoras, “o livro “pretende trazer estas mulheres, que representam muitas mais, à luz da ribalta para que as novas gerações se consciencializem de que as mulheres são parte integrante da sociedade, da história, que têm uma voz e um espaço público”.