Morreu Florival Baiôa, historiador, fundador e presidente da Associação de Defesa do Património de Beja e do movimento Beja Merece +. A notícia foi avançada esta manhã por Paulo Monteiro através das suas redes sociais. Ana Luísa Delgado (texto) e Francisco Santos (fotografia)
“Queridos amigos, o Baiôa partiu hoje de madrugada, em paz. Ficará para sempre no nosso coração”, escreveu Paulo Monteiro, familiar e diretor da BDteca de Beja.
Nascido em Beja em 1951, filho de Cristina Baiôa e de Plácido Monteiro, um antigo relojoeiro e cantador, Florival Baiôa Monteiro partiria para Lisboa com 17 anos, com o objetivo de completar os estudos em contabilidade iniciados na Escola Industrial e Comercial de Beja. O objetivo, nessa altura, seria formar-se em Economia. Acabou no exílio. “Assim que cheguei ao instituto meti-me de imediato na associação de estudantes e comecei a participar em atividades contra o regime”, contou numa entrevista ao “Diário do Alentejo”.
Denunciado por uma colega de escola por ter participado numa manifestação contra Américo Tomaz, o então Presidente da República, é expulso do Instituto Comercial de Lisboa, com outros quatro estudantes, e intimado para se apresentar em Vendas Novas, no Regimento de Artilharia n.º 5, para depois seguir para a Guerra Colonial.
Mobilizado para o norte de Angola, aproveita uma licença para ir a Beja despedir-se da família. “Era para mim evidente que quem, como eu, lutava contra a Guerra Colonial não podia pegar numa espingarda para matar aqueles que eram os libertadores das antigas colónias portuguesas”, contou na mesma entrevista.
Partiu para o exílio na passagem de 1971 para 72, pela fronteira do Caia, obtendo o estatuto de refugiado político na Bélgica, onde encontrou trabalho numa fábrica de componentes elétricos. O regresso a Portugal só ocorreria depois do 25 de Abril. Troca a Economia pela História, licenciando-se em História da Arte na Faculdade de Letras de Lisboa, onde também fez o mestrado e o doutoramento.
Professor de História, Antropologia Cultural e Organização Politica, deu aulas durante 36 anos em praticamente todas as escolas da cidade de Beja, intensificando a sua participação cívica em defesa do património e do Baixo Alentejo. “Nunca se consegue gostar da sua terra, se não se conhecer um pouco da sua história”, disse um dia numa entrevista ao jornalista Teixeira Correia, do “Jornal de Notícias”.
Via-se como “um humanista que compreende as pessoas e a comunidade e que tem o sonho de viajar durante um ano inteiro pelo Mediterrâneo para perceber a formação da nossa cultura, porque de resto já fiz tudo na ida”.
Florival Baiôa foi autor de vasta obra, entre a qual se destacam os livros autor dos livros “Azulejaria do Convento de Nossa Senhora da Conceição”, “Beja – 100 anos em Imagens” e “Arte Azulejar de Beja”. Em 2019 a Câmara de Beja atribui-lhe a Medalha de Mérito Artístico e Cultural.