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Banco Alimentar ajuda mais de 16.800 pessoas no Alentejo

Maria Antónia Zacarias texto | Gonçalo Figueiredo fotografia

A pressão é diária, no Alentejo, sobre o Banco Alimentar Contra a Fome. As várias instituições de apoio às famílias mais carenciadas dizem que o número de pessoas a necessitarem de alimentação é cada vez maior. A fome escondida e envergonhada começa a vir à luz da sociedade e nos cabazes que são doados já escasseiam produtos alimentares.

Responsável pela comissão de abastecimento do Banco Alimentar Contra a Fome em Évora, Tiago Appleton afirma que é preciso fazer uma grande “engenharia”, com recurso a parcerias com empresas e com produtores que dispensam os seus excedentes alimentares, para acudir às necessidades e aos pedidos de ajuda, que não param de chegar.

As dádivas resultantes das campanhas de solidariedade são criteriosamente geridas para que as falhas sejam as menores possíveis. Tiago Appleton mostra-se muito preocupado com a situação, bem como a diretora do Banco Alimentar Contra a Fome em Portalegre, Rosa Pinheiro, apelando em uníssono à solidariedade de todos na próxima campanha agendada para 26 e 27 de novembro. 

“Esta semana recebemos mais pedidos de ajuda que nos chegaram por mail”, conta Tiago Appleton, segundo o qual ainda há muitas pessoas que, em desespero e não sabendo onde se dirigir, pedem diretamente apoio aos bancos alimentares. Contudo, há que explicar que se tratam de Instituições Particulares de Solidariedade Social que lutam contra o desperdício de produtos alimentares, recolhem e distribuem várias dezenas de milhares de toneladas de produtos e apoiam, ao longo de todo o ano, a ação de entidades que distribuem refeições confecionadas e cabazes de alimentos a pessoas comprovadamente carenciadas, abrangendo já a distribuição total mais de 390 mil pessoas, a nível nacional.

No Banco Alimentar de Évora aproveitam-se excedentes de produção, por exemplo, as últimas foram de melão e de ameixas, como afirma o responsável pela comissão de abastecimento do Banco Alimentar, adiantando que estão já a aguardar a receção de laranja do Algarve, maçãs e peras. A estes produtos juntam-se os donativos de empresas e os bens resultantes das campanhas alimentares. “Guardamo-los, separamo-los e depois elaboramos cabazes mensais para as instituições que ajudam as famílias carenciadas”. 

Tiago Appleton explica que quem deve as entregas são estas instituições que “têm capacidade para dar uma resposta cara a cara e para fazer o cruzamento de informação para que a mesma família não esteja inscrita em mais do que uma entidade e assim receber apoio de forma duplicada”. 

O responsável salienta que as solicitações de ajuda aumentaram logo no princípio do ano, mas com a invasão russa da Ucrânia vieram uma série de problemas associados. “Nos últimos meses, sobretudo depois do verão, verificou-se uma intensidade acrescida e a tendência é para piorar”, lamenta. 

As subidas das taxas de juros, os preços a aumentarem e o preço dos combustíveis a subir vertiginosamente têm contribuído para que “os pobres estejam cada vez mais pobres, não conseguindo sair” do ciclo de pobreza. “A classe média remediada, que tinha a sua vida equilibrada, está a resvalar para níveis de pobreza a que nunca pensara chegar e o exemplo disso é a vida complicada com que muitos funcionários públicos e professores estão a deparar-se”, constata. E reitera: “Temos uma pressão diária!”.

Sabendo-se que o objetivo do banco alimentar é deixar de ser necessário, certo é que “há fome” em Portugal. “Por isso, temos de continuar com o mesmo entusiasmo, com a mesma vontade, com a mesma capacidade, tentando chegar mais longe”. Angariar voluntários para ajudarem no dia-a-dia, a fazer os cabazes, a receber as instituições, a fazer a manutenção do stock e o trabalho administrativo são igualmente urgentes, como o são os bens alimentares, afiança Tiago Appleton, segundo o qual há todo um trabalho por trás dos cabazes que chegam às famílias e que, no total, representam cerca de 10 mil pessoas no distrito de Évora. 

Nos próximos dias 26 e 27 de novembro, o Banco Alimentar vai sair à rua com os seus voluntários para mais uma campanha de angariação de alimentos. “Vamos estar em todas as cidades, vilas e aldeias do distrito de Évora, junto de grandes superfícies e de mercearias de bairro, para a recolha de alimentos que esperamos que ultrapasse a última efetuada campanha de maio”, sublinha o dirigente, revelando que “já existem” falhas de produtos alimentares. 

Questionado sobre quais são os alimentos de que têm mais falta, responde que são os mais caros, “os que as pessoas têm mais dificuldade em doar, como o azeite e as papas para bebés”. Face a isto, através da campanha “Papel por Alimentos”, que é uma ação com contornos ambientais e de solidariedade – todo o papel recolhido é convertido em produtos alimentares a distribuir pelos mais carenciados – “conseguimos adquirir estes bens e integrá-los nos cabazes”. 

MAIS DE 2300 PESSOAS APOIADAS EM PORTALEGRE

No distrito de Portalegre, o cenário é o mesmo. De acordo com a presidente da direção do Banco Alimentar Contra a Fome em Portalegre, Rosa Pinheiro, há um acréscimo de pedidos por parte das instituições. “A situação é grave. Temos mais de 2300 pessoas que apoiamos numa zona desertificada, muito extensa e a pagar o custo da interioridade”. 

A dirigente salienta que as necessidades no meio rural não são tão evidentes como nas urbanas, daí que sejam as instituições da cidade que solicitam mais apoio. “A juntar a isto temos uma diminuição das doações e estamos muito apreensivos porque temos os armazéns a ficarem despidos, com o stock muito baixo e, o exemplo disso, é que os cabazes estão a ir com menos produtos desde há cerca de três meses”.

ARMAZÉM VAZIO EM BEJA

O Banco Alimentar contra a fome de Beja “está a ficar completamente vazio”, diz o presidente da instituição, Tadeu de Freitas, revelando que para as 34 instituições apoiadas no Baixo Alentejo eram canalizadas cerca de 12 toneladas de alimentos por mês. Nesta altura, revela, “não conseguimos doas mais do que oito toneladas e a manutenção desta quantidade vai depender muito da próxima campanha” de angariação de alimentos. “Os pedidos de ajuda dispararam”. O Banco Alimentar contra a Fome de Beja está a apoiar cerca de 4500 pessoas.

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