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Autarcas dos mármores recusam ficar “a ver passar os comboios”

Ana Luísa Delgado texto | Gonçalo Figueiredo foto

Um estudo encomendado por sete municípios da zona dos mármores e pela Infraestruturas de Portugal (IP) aponta para a viabilidade económica da construção de um terminal ferroviário de mercadorias nos concelhos de Alandroal e Vila Viçosa. O projeto vai ser agora apresentado ao Governo.

Todos os anos saem da zona dos mármore cerca de 11.700 camiões que transportam cerca de 400 mil toneladas de mármore, na sua grande maioria (dois terços) com destino aos portos de Sines, Setúbal e Lisboa. Estando em construção uma linha de mercadorias entre Sines e a fronteira do Caia, pareceria lógica a construção de um terminal ferroviário de cargas e descargas na região dos mármores. Pareceria. Porque a verdade é que essa solução não está prevista no projeto inicial.

A nova linha deverá estar pronta em 2023. E sete autarquias da região juntaram-se à Infraestruturas de Portugal e encomendaram um estudo que conclui pela viabilidade técnica e económica da construção do terminal num local para onde está prevista a construção de uma “estação técnica”, em terrenos dos concelhos de Alandroal e Borba. 

“Quando se lançou a construção desta nova linha ferroviária não se pensou no seu aproveitamento integral, quer para cargas e descargas, pela para transporte de passageiros. É um processo que tem agora de ser ponderado, pois mal vale tarde que nunca”, diz o presidente da Câmara de Alandroal, João Grilo, recordando que, além do mais, “a transição do transporte rodoviário convencional para o ferroviário traduz-se numa redução muito importante dos impactos ambientais desta atividade”. Qualquer coisa como uma diminuição de 2600 toneladas de emissões de carbono por ano.

Segundo o autarca, o estudo agora entregue aos autarcas comprova a existência de “viabilidade técnica e económica” para a instalação de um terminal ferroviário de carga na região, “com todas as vantagens que daí advêm” para o setor dos mármores, mas também para a dinamização de Alqueva e a captação de novas oportunidades de negócio. “Esta localização permite que toda a zona dos mármores encaminhe as mercadorias para aqui”.

As contas também estão feitas: trata-se de um investimento que ronda os 11 milhões de euros e que depois deverá ser concessionado a um ou mais operadores privados para explorarem a parte logística e viabilizarem o investimento público. 

“O que estamos a tentar demonstrar é que esta viabilidade existe e que pode ser atrativa para os operadores. Queremos envolvê-los no processo e demonstrar ao Governo que toda esta dinâmica faz sentido, não só porque pode dar um grande contributo para o desenvolvimento económico da região, mas também para a sustentabilidade do setor dos mármores e até do ponto de vista ambiental pela redução do tráfego rodoviário na região”, acrescenta João Grilo, referindo que só a redução do tráfego rodoviário das estradas regionais e nacionais, com a consequente diminuição da necessidade de  obras de conservação, “é suficiente para, a médio prazo, suportar o investimento”.

Além do mais, prossegue o presidente da Câmara de Alandroal, “ao haver um terminal surgem sempre novos oportunidades de negócio, o que fará com a que a região ganhe uma dinâmica que não seria se, simplesmente, ficássemos a ver passar os comboios”.

O estudo e as propostas dos municípios de Alandroal, Borba, Estremoz, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Sousel e Vila Viçosa vão ser apresentados, dentro de cerca de dois meses, ao ministro da Infraestruturas, Pedro Nuno Santos. A expectativa dos autarcas é que o projeto “possa ser alavancado” com fundos comunitários ou do Plano de Recuperação e Resiliência, sendo que a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA) tem tido uma “postura muito recetiva e muito entendedora da prioridade que este investimento representa para o conjunto destes municípios”.

À componente de mercadoria, João Grilo soma a de passageiros. O Governo já manifestou interesse em utilizar a nova linha para assegurar uma ligação de passageiros (muito) mais rápida entre Lisboa e Madrid, e a própria IP está a realizar estudos técnicos nesse sentido. “A nossa intenção é que fique também aqui uma estação de passageiros para servir toda a zona dos mármores e que permita às populações deslocarem-se por ferrovia para Évora, para Lisboa ou para Espanha, além dos impactos que isso trará a nível turístico”.

“Sabemos que nem todos os comboios que passam têm de parar, mas alguns podem fazê-lo para carga e descarga ou para transporte de passageiros”, frisa o presidente da Câmara de Vila Viçosa, Inácio Esperança, lembrando que o raio de influência do terminal não seria apenas a região, estendendo-se a todo o Alentejo, sul do Ribatejo e Extremadura espanhola. “Tudo isto iria gerar uma dinâmica de investimento e de negócios que pode ser importante para uma região deprimida e de baixa densidade como a zona dos mármores, pois pode trazer emprego e com isso pessoas para o território”.

Inácio Esperança refere que o investimento em causa, os tais cerca de 11 milhões de euros, “é relativamente baixo” e garante que as autarquias, “além de serem o promotor do projeto”, poderão igualmente vir a realizar algum investimento ao nível das acessibilidades e das infraestruturas.

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“MAIOR OBRA DOS ÚLTIMOS 100 ANOS”

As obras de construção da nova linha férrea entre Évora e Elvas/Caia, inserida no futuro Corredor Internacional Sul que irá ligar o porto de Sines à fronteira espanhola, são consideradas como a “maior obra ferroviária dos últimos 100 anos em Portugal”. A nova Linha de Évora, que começa a tomar forma, vai ter uma extensão total de cerca de 100 quilómetros e está em plena execução, num investimento de 442 milhões de euros. A previsão é que a obra fique concluída no próximo ano. Em fase de execução estão os subtroços Évora Norte/Freiro, Freixo/Alandroal e Alandroal/Elvas (com ligação à Linha do Leste). Concluído desde janeiro de 2021 está o troço Elvas/Caia, com cerca de 10 quilómetros, que veio requalificar a ligação ferroviária a Espanha, mais precisamente a Badajoz.

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