Luís Assis, agricultor | Opinião
Os agricultores portugueses têm razão em protestar!!
Quem não protestaria se lhe cortassem 60% (35% + 25%) ao valor do ordenado no final do mês e lhe dissessem para contrair um empréstimo para cobrir o valor em falta, porque tinham feito mal as contas e tinham que cortar no valor acordado do ordenado? Quem viveria com apenas 40% do valor do seu ordenado? Quem não protestaria se no final do mês lhe dissessem que não lhes iam pagar o ordenado na totalidade, como tinham acordado e estava no contrato e passavam a pagar o ordenado em prestações?
Foi exactamente isso que aconteceu aos agricultores portugueses quando o governo lhes disse que o valor dos pagamentos nas datas acordadas já não iriam ser os que estavam nos contratos e que iam ser parcelados por vários meses.
Como qualquer trabalhador por conta de outrem que programa o pagamento das suas despesas nas datas em que recebe o ordenado, os agricultores têm programado os seus pagamentos nas datas em que recebem os valores que estão contratados. Basta isto para perceber que o governo não só incumpriu os contratos que assinou como prejudicou os agricultores na sua vida porque têm que pagar despesas para as quais não têm dinheiro e não é pedindo mais dinheiro emprestado aos bancos que resolve o problema.
O mesmo se passou com os cortes de 60% (35% + 25%) pelo facto de o governo português ter errado as contas que apresentou a Bruxelas para receber os fundos comunitários e, em vez de assumir as responsabilidades da sua incompetência, tinham os agricultores que passar a viver com menos 60% do seu rendimento. É vergonhoso!
É que os chamados “subsídios” comunitários à agricultura não são subsídios, são uma compensação à perda de rendimento dos agricultores por venderem os seus produtos abaixo do valor de mercado, determinada, e bem, pela Política Agrícola Comum para que não haja fome na UE e todos os cidadãos europeus possam ter acesso à alimentação, compensando os agricultores pela diferença.
É o mesmo que perguntar a qualquer comerciante se venderia os seus produtos abaixo do valor de mercado só para que todos pudessem comprar, sem que fosse compensado pelo prejuízo que iria ter. Ninguém o faz!
Não é por isso, um favor que estamos a fazer aos agricultores é, antes, um favor que eles nos fazem a nós para não haver fome. Os alimentos não nascem nos supermercados! Sem agricultores todos morrem de fome.