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Arqueólogo “chocado” com obras nos Almendres

O arqueólogo Manuel Calado diz-se “chocado” com a intervenção em curso no Cromeleque dos Almendres, em Évora, para reposição do solo e coberto vegetal.

Através de um texto publicado na sua página de Facebook, Manuel Calado, que defendeu uma tese de doutoramento sobre os menires do Alentejo Central, conta ter visitado os Almendres e ficado “chocado” com o que viu.

“Os Almendres estão a ser enterrados. A explicação que é avançada num painel informativo, afixado nas grades que impedem o acesso ao sítio, fala em reposição do solo. Porém, o que está a ser feito, supostamente para proteger o monumento, é um atentado ao monumento… e, sobretudo às pessoas que o visitam”, escreve Manuel Calado, garantindo ainda assim não ter dúvidas sobre as “boas intenções” que levaram a esta intervenção.

“Atendendo à evolução do processo e presumindo que ainda vamos a tempo de corrigir a mão, decidi deixar por escrito a minha opinião. Existem alguns problemas e varias soluções que merecem ser discutidos”, explica.

A começar pela colocação de solo. “Uma coisa é a reposição do solo e outra o enterro dos menires que está a ser feito e que, mesmo contando com a compactação, com mais uma camada de terra vegetal, mais a altura do prado, vão fazer desaparecer os pequenos menires, os menires tombados e os fragmentos dispersos no terreno, para além de ocultarem parte das gravuras de um menir decorado. E, evidentemente, alterando o monumento, reduzindo-o”.

Manuel Calado lembra que “existem muitas fotografias, desde a intervenção do Henrique Leonor Pina, que nos permitem calcular qual era o nível do solo (ou até que ponto os menires estavam enterrados)”. No seu entender, “o limite máximo da reposição dos solos deveria ser o topo das estruturas de sustentação que, em muitos casos, estão bem visíveis. Tudo o que ultrapassar esse limite (terra ou vegetação), é excessivo”.

De acordo com o arqueólogo, a erosão e ravinamento do solo nos Almendres “é, muito provavelmente, um fenómeno que se iniciou no neolítico e que explicaria a escassez de artefactos que, normalmente, se verifica nestes monumentos”. “Trate-se”, prossegue, “de um monumento público e, pelo menos em certas alturas, local de reunião de muita gente (basta pensarmos nas centenas de pessoas que foram necessárias para a construção). Seja como for, é certo que, até há pouco mais de meio século, o terreno fazia parte do montado misto de sobreiros e oliveiras e era lavrado frequentemente, portanto exposto ao ravinamento”.

A obra está a ser feita pela Câmara de Évora, envolvendo várias entidades como a Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCA) e o Grupo Pro-Évora. “Tenho confiança no trabalho que está a ser feito”, diz o presidente da Câmara de Évora, garantindo que como o trabalho “ainda não está completo”, não é possível “dizer à vista desarmada qual a cota a que [o solo] vai ser colocado”.

Carlos Pinto de Sá lembra que, durante décadas, o Cromeleque dos Almendres não foi alvo de quaisquer medidas de preservação, o que só possível depois de um “acordo histórico com o proprietário do terreno” que permitiu a assinatura de um contrato de comodato, abrindo portas para a elaboração de um plano de salvaguarda. “Há que ter serenidade. Estamos fundamentados em pareceres de arqueólogos e técnicos. Se se confirmar que alguma questão não está a correr bem será corrigida”, concluiu.

REPOSIÇÃO DO SOLO

Segundo a Câmara de Évora, a ação em curso no Cromeleque dos Almendres centra-se na reposição do solo e coberto vegetal, uma “ação corretiva e preventiva, não implicando qualquer impacto arqueológico”. A autarquia refere que o processo, “com reflexão iniciada há já alguns anos”, decorre “das preocupações sobre o estado de profunda e contínua erosão em que se encontrava o solo, parte integrante da estrutura do monumento, e único suporte da quase centena de monólitos que o compõem”.

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