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Alentejo: Aquecimento global e agricultura “exterminam” insetos

Alexandre Barahona, texto

Onde andam os insetos que invariavelmente se vinham “suicidar” contra o para-brisas dos nossos automóveis, conduzidos rumo às praias do costume?  

A primeira resposta é confirmada por um atraso em termos de ciclos biológicos, devido ao clima. Durante o mês de abril deveríamos ter tido chuvas fortes, como é habitual, mas estas apenas vieram no início de maio, e em escassa quantidade. Em função disso, também os ciclos de vida das plantas e dos insetos, também acabam por se alterar. 

Esta explicação poderia ser suficiente, contudo não o é. Tem sido observado um decréscimo drástico, nas populações de insetos nos últimos anos. 

“O aquecimento global e a agricultura intensiva, acabam por dificultar o desenvolvimento normal de muitas espécies de insetos, levando a uma redução populacional”. Quem o afirma é o biólogo Pedro Soares, que alerta “a longo prazo pode revelar-se problemático, uma vez que dependemos imenso dos insetos para a polinização da maioria das espécies de plantas, quer selvagens, como de cultivo”.

No Alentejo é notória essa ocorrência, que se agravou com os plantios de produção intensiva de amendoeiras e oliveiras, cujas necessidades não só absorvem imensa quantidades de água, como empobrecem o solo. Sobretudo, são as quantidades das aplicações de fitoquímicos e de pesticidas, que colocam o equilíbrio animal (insetos) em perigo. 

A Sociedade Portuguesa de Entomologia tem vindo a advertir sobre estas situações ao longo dos últimos anos. No entanto, como existem outros interesses económicos instalados, ninguém parece dar importância ao caso. Eis que este ano de 2023, constatamos quando viajamos nas estradas alentejanas que os ditos “bichinhos” já não vêm chapar-se contra o vidro dos carros. O que pode parecer positivo, porque não suja e temos de limpar… revelar-se-á no futuro como um aviso sério, à navegação das políticas ambientais e agrícolas do Alentejo. Diria mesmo, do país e do planeta, pois não se trata de um problema estritamente local. 

Ora, em termos políticos, o Estado português vai dando uma no cravo, outra na ferradura.  De um lado a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo aprovou a Estratégia Regional de Adaptação às Alterações Climáticas do Alentejo que prevê a adoção de técnicas para aumentar a água no solo, medidas para uma rega eficiente, o reforço da vigilância, energias renováveis e novas práticas agrícolas. Segundo Carmen Carvalheira, vice-presidente da CCDR, “constituem 70 medidas de instrumentos de gestão territorial e ordenamento do território”. 

Por outro lado, foi pelo Governo aprovado o Plano Regional de Eficiência Hídrica do Alentejo (PREH), que inclui a expansão de mais 25 mil hectares de grande regadio e “subsídios públicos no valor de 650 milhões de euros beneficiando diretamente as grandes monoculturas”, segundo a associação ambientalista Zero. 

A Zero emitiu um comunicado onde expressa “o indecoroso favorecimento a um modelo de intensificação agrícola, assente em monoculturas industriais de larga escala, tendencialmente culturas permanentes”. 

Do ponto de vista dos agricultores ligados às culturas intensivas, justifica-se pela necessidade de produzir alimentos e riqueza, que apoiarão o nível de vida que pretendemos todos ter. A questão prende-se com a sustentabilidade de tais processos. A proliferação de culturas intensivas não oferece mercado de trabalho plausível, e o excesso de aplicação de químicos utilizados, estão a dizimar de ano para ano, a fauna alentejana, como se queixam já os próprios caçadores. 

NO LIMITE DE SUSTENTABILIDADE

Hoje, com um planeta habitado por oito biliões de pessoas, atingimos um limite de sustentabilidade. Porque não é possível produzir tanta comida, oferecer padrões de riqueza social, sem a previsível destruição do planeta sendo a residência de todos nós. Aliás, esta constatação, durante este verão, da ausência de mosquitos, abelhas e demais insetos prova cruamente isso mesmo. Enterrar a cabeça na areia, como a avestruz, não ajudará os nossos filhos.

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