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Ana Luísa Delgado: Igualdade de género, violência e hipocrisia

Ana Luísa Delgado, jornalista | Opinião

A igualdade de género continua a ser uma miragem, passados 50 anos do 25 de Abril. Em particular, mas não só, no Alentejo, onde são poucas as mulheres que se podem dar ao luxo de dizer que, de facto, têm os mesmos direitos que os seus maridos ou companheiros, que são recompensadas da mesma forma que os seus colegas de trabalho, que têm a mesma facilidade de acesso a cargos políticos ou de chefia.

Sem igualdade de género, os casos de violência doméstica, que muitas vezes começa no namoro, têm vindo a aumentar de forma exponencial. De acordo com dados oficiais, só no terceiro trimestre de 2023 a Rede Nacional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica acolheu 1478 pessoas, na sua esmagadora maioria mulheres e crianças. Deste total, apenas 1,3% são homens. Todos os anos, mais de três mil mulheres, vítimas de violência, veem-se obrigadas a deixar as suas habitações e a procurar refúgio em casas-abrigo.

Há toda uma cultura de tolerância para com a violência exercida sobre as mulheres – quem não se lembra de que “entre marido e mulher não se mete a colher” -, a ponto da violência exercida no namoro chegar a ser aceite pelos pares masculinos do agressor, não sendo travada a tempo pelas autoridades. A maior parte das vezes prossegue no casamento, por vezes só termina com a morte da vítima.

Nos últimos quatro anos foram assassinadas, em Portugal, mais de 110 mulheres. Mais de 4300 tiveram de receber tratamento médico. Mais de 12 mil só conseguiram fugir ao ciclo de violência porque encontraram refúgio em casas de acolhimento. E há milhares, infelizmente muitos mais milhares de casos, que nem sequer chegam ao conhecimento das autoridades.

Note-se que muitas destas situações estão também associadas ao elevado consumo de álcool, não sendo por acaso que o agravamento dos casos de alcoolismo decorra em paralelo com o aumento de denúncias de violência doméstica. Depois de umas boas horas a consumir álcool, depois de rodada atrás de rodada, o agressor regressa a casa, à velha coutada do macho latino, impondo à força o que considera ser a sua lei. Até quando continuará a nossa sociedade a ser permissiva com este tipo de comportamentos?

Mas se a violência persistente contra as mulheres é uma das provas, se necessidade de prova houvesse, que a igualdade de género continua por cumprir, a diferença de oportunidades laborais é outra, a começar pela desigualdade salarial. As contas estão feitas. Segundo o Barómetro das Diferenças Remuneratórias entre Mulheres e Homens, do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, as mulheres recebem, em média, menos 150 euros que os homens. Pior: a diferença agrava-se à medi- da que as qualificações e responsabilidades aumentam. Ou seja, uma mulher licenciada recebe, em média, menos 504,90 euros que um homem. Até quando?

Finalmente, a política. Não para falar de quem quer acabar com o financiamento público às políticas para promoção da igualdade de género, mas para deixar uma novidade: das 24 listas pelos círculos de Beja, Évora e Portalegre às próximas legislativas só oito são lideradas por mulheres.

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