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Alto Alentejo: Chuva provocou estragos de 48 milhões de euros

Ana Luísa Delgado texto | Gonçalo Figueiredo fotografia

Um mês depois da intempérie que assolou o Alto Alentejo já há uma estimativa de prejuízos: 48 milhões de euros, incluindo estradas, equipamentos municipais, habitações e explorações agrícolas. O concelho de Fronteira foi o mais atingido.

Foram três dias de forte pluviosidade por todo o Alto Alentejo, com a situação a agravar-se a 13 de dezembro, o que originou diversas enxurradas que afetaram explorações agrícolas, atividades económicas, equipamentos e infraestruturas públicas, como estradas e pontes, habitações e outros edifícios, além de inundações em diversas povoações.

Dados dos municípios e da Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo apontam para um total de 541 ocorrências ao longo desses três dias, 228 das quais em infraestruturas municipais e 195 em habitações. Os danos foram agora estimados pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo em cerca de 48,6 milhões de euros. A situação afetou todos os municípios do distrito de Portalegre, à exceção de Alter do Chão, onde não foram reportados prejuízos.

De acordo com o relatório dos estragos provocados pela intempérie, elaborado pela CCDR do Alentejo e a que o Brados do Alentejo teve acesso, este montante pode estar “subavaliado” pois nalguns casos “ainda não foi possível proceder à verificação/avaliação no local devido ás condições dos terrenos ou a situações decorrentes das cheias”.

O concelho mais afetado foi o de Fronteira, onde só no dia 13 de dezembro caíram 114 litros por metro quadrado (l/m2), com prejuízos superiores a 15 milhões de euros, decorrentes de inundações, desabamento de terras, aluimentos de estradas e queda de pontes, além de danos estruturais em edifícios, redes de eletricidade e de abastecimento público. A intempérie, sublinhou o presidente da Câmara, Rogério Silva, fala num “cenário de destruição” ao concelho: “A intempérie deixou-nos tristes, ainda mais isolados e um rasto de prejuízos que terão impactos nos próximos anos”.

Uma das situações mais graves foi a queda do tabuleiro e das guardas da ponte romana, junto ao Centro Ecoturístico da Ribeira Grande, que tornou intransitável a circulação neste troço da Estrada Nacional 245, entre Fronteira e Alter do Chão. A reparação deverá custar mais de meio milhão de euros. Como solução provisória, chegou a ser “considerada e avaliada tecnicamente” a possibilidade de instalar uma ponte militar neste local, mas o projeto foi “chumbado” pela engenharia militar por razões de segurança. “Instalar uma ponte provisória, com um vão daquelas dimensões, junto ao leito da ribeira, no início do inverno, representa um risco acrescido de vir a ser deslocada pela corrente”, resume o autarca.

Ainda no concelho de Fronteira, permanece encerrada a Estrada Nacional 243, entre Fronteira e Monforte, obrigando a um desvio de mais 12 quilómetros por Vale de Maceira e Veiros. A reparação destas estradas é “urgentíssima porque a população está a ser gravemente prejudicada”, refere Rogério Silva, lembrando tratarem-se de estradas nacionais, cujas intervenções terão de ser efetuadas pela Infraestruturas de Portugal.

No concelho de Avis foram contabilizados prejuízos na ordem dos 8,2 milhões de euros, sobretudo em estradas, mas também no Centro Interpretativo da Ordem de Avis (onde, de acordo com a Direção Regional de Cultura do Alentejo, será necessário investir 263 mil euros), em explorações agrícolas e em habitações em Avis, Figueira de Barros e Benavila que “ficaram alagadas, não devido à subida do nível das águas, mas devido a terem uma cota inferior aos terrenos envolventes, o que origina a infiltração de água” nas habitações.

Um dos melhores exemplos da quantidade de chuva registada a 13 de dezembro é o da Barragem do Maranhão, que se encontrava a meio da sua capacidade máxima de armazenamento (205 milhões de metros cúbicos). Numa questão de horas, a barragem acabou por encher, obrigando à realização de descargas nessa mesma noite. No passado dia 9 de janeiro, a circulação voltou a ser proibida nas pontes de Camões e da Ordem devido à subida de caudal da Ribeira de Seda, provocada por novas descargas da Barragem do Maranhão.

O relatório de danos elaborado pela CCDR do Alentejo aponta para prejuízos de 3,9 milhões de euros no concelho de Campo Maior, dos quais cerca de 2,9 milhões em equipamentos e infraestruturas municipais, mas também em habitações (541 mil euros) e atividades económicas. “Pouco antes das 7h00 da manhã”, lembra o relatório, “uma grande pluviosidade momentânea, que também levou ao colapso de um muro que acumulava grande quantidade de água, libertando-a para a zona mais baixa do centro histórico, arrastou pavimentos da via pública e toneladas de inertes, inundando aquelas artérias até uma altura de dois metros”. 

A situação obrigou ao “resgate de moradores” que foram surpreendidos pela cheia no interior das suas casas. A Proteção Civil contabilizou danos em 40 habitações. Sete famílias tiveram de ser realojadas.

ESTRAGOS EM SOUSEL

Quem hoje olha para a Ribeira de Santo Amaro, que atravessa esta freguesia do concelho de Sousel, a correr quase sem água, dificilmente imagina que pudesse transbordar e inundar habitações, como sucedeu na intempérie de dezembro. 

“Mais de meia centena de famílias”, revelou o presidente da Câmara de Sousel, Manuel Valério, ficaram “com  todos os bens materiais danificados”. As estradas que dão acesso a Santo Amaro ficaram todas parcialmente submersas. A que liga a Sousel continua cortada pois foram detetados danos estruturais na Ponte dos Pigorros. Segundo a autarquia, as obras poderão estar concluídas esta semana. Trata-se de uma “via fundamental de acesso ao IP2 e por isso de passagem de ambulâncias para o Hospital de Portalegre, assim como a ligação mais direta à freguesia de Santo Amaro”.

No concelho de Sousel foram avaliados prejuízos na ordem dos 2,9 milhões de euros, dos quais 2,1 milhões em infraestruturas municipais, como estradas, Complexo Desportivo e Museu dos Cristos, e cerca de 586 mil euros em habitações, “sobretudo danos ao nível dos muros de suporte, vedações e recheio” das casas, “com gravíssimos prejuízos para os proprietários”.

PREJUÍZOS POR TODO O DISTRITO

O relatório de danos elaborado pela CCDR do Alentejo revela a existência de prejuízos por todo o distrito de Portalegre. Na capital foram contabilizados 3,3 milhões de euros. Em Ponte de Sor (seis milhões), Monforte (2,5 milhões) e Arronches (1,78 milhões), foram os concelhos mais atingidos.

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