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Alterações climáticas vão provocar mais ondas de calor

Luís Godinho, texto

Temperaturas mais elevadas, ondas de calor mais frequentes e mais prolongadas, diminuição de precipitação que pode chegar aos 18%. A perspetiva para a evolução das alterações climáticas no Alentejo Central está traçada. Autarquias terão, até final de julho, planos municipais para as enfrentar.

As ondas de calor vão tornar-se mais frequentes e serão também mais prolongadas no Alentejo Central em consequência das alterações climáticas. A perspetiva menos pessimista é que em 2041 sejam frequentes mais de oito dias em ondas de calor. No pior cenário, serão 16,5. Que poderão chegar aos 24 dias no final do século.

Entre os anos de 1941 e 2020 nunca o Alentejo registou mais de três ondas de calor ao longo do ano, revela fonte do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) explicando que este fenómeno sucede quando a temperatura máxima diária é superior em 5°C ao valor médio, sendo “mais notórias e sentidas pelos seus impactos, quando ocorrem nos meses de verão”.

De acordo com as previsões do Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas (PIAAC) do Alentejo Central, as ondas de calor não se tornarão apenas mais prolongadas, serão também mais frequentes, o que é particularmente significativo pois, conjugado com a perspetiva de aumento da temperatura e diminuição de precipitação, terá impacto no “acréscimo de mortes e doenças”, no “aumento de frequência de doenças cardiorrespiratórias” e na “alteração da distribuição espacial” de doenças infecciosas transmitidas pelos mosquitos.

Os autores do estudo lembram que os períodos extremos de calor “estão associados ao aumento da mortalidade devido a problemas respiratórios e cardíacos”, sobretudo quando ocorrem no início do Verão, sendo que, regra geral, “os picos de mortalidade apenas se fazem sentir entre um a três dias depois do pico de calor”. Em 2003, por exemplo, mais de duas mil mortes, 85 das quais no Alentejo, foram atribuídas “à vaga de calor” que se registou por toda a Europa.

Acresce que os dois cenários estudados apontam igualmente para o aumento da frequência de “noites tropicais”, ou seja, em que a temperatura mínima é superior a 20ºC, períodos “importantes na compreensão do efeito do calor na saúde humana, na medida em que são responsáveis por dificultar o repouso noturno dos indivíduos e/ou provocar a sensação de sobrecarga térmica acumulada e, desse modo, fragilizar a capacidade de resposta termofisiológica do corpo humano”.

No caso da precipitação, os cenários traçados pelo PIAAC do Alentejo Central não são mais animadores uma vez que ao longo das próximas décadas se poderá assistir a uma redução de 18% da precipitação anual (diminuição de 100 a 110 litros por metro quadrado), sendo que abril deixará (será que ainda o é?) de ser o mês das “águas mil” pois é para a primavera e para o outono que se projeta uma maior quebra na quantidade de chuva.

No cenário mais favorável haverá uma redução de 8,3 a 11,9 dias de precipitação entre 2041 e 2070; ou de 11,6 a 12,3 no cenário mais pessimista que projeta, até final do século, menos 20,5 dias de chuva por ano. A diminuição da precipitação anual será acompanhada de uma “maior ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos, como tempestades e precipitação excessiva”, sendo de perspetivar uma “maior ocorrência de cheias e inundações” e a “intensificação do potencial destrutivo de cheias e inundações”. Um sinal disso terão sido os estragos provocados pela forte chuvada em dezembro do ano passado, que provocaram prejuízos em habitações, infraestruturas rodoviárias e ferroviárias, equipamentos municipais e na agricultura.

“O que vamos ter aqui no Alentejo e no Sul de Portugal é uma tendência para que o deserto avance do Norte de África para o Sul da Europa, o que significa que vamos passar a ter um clima diferente, com muito menos períodos de chuva, em que a chuva aparecerá muito mais concentrada”, resumiu o presidente da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (CIMAC), Carlos Pinto de Sá, em entrevista recente ao “Diário de Notícias”.

MUNICÍPIOS VÃO TER PLANOS DE INTERVENÇÃO

O PIAAC do Alentejo Central será, agora, “desdobrado” em 14 planos municipais de adaptação às alterações climáticas, que estarão concluídos no final do próximo mês de julho e que foram elaborados no âmbito do projeto Adapta.Local.CIMAC. De acordo com o responsável pelo projeto, João Sardinha, trata-se de “dotar os municípios de uma boa ferramenta para instruírem candidaturas e começar a fazer projetos de adaptação às alterações climáticas”.

Sublinhando que além da “cenarização das alterações climáticas feita, em específico, para cada município”, os planos incluem “medidas bem definidas e priorizadas, de aplicação até 2030”, João Sardinha garante tratar-se de um “instrumento importante” para que municípios “relativamente pequenos, com poucos recursos e algumas dificuldades financeiras” possam implementar projetos concretos de adaptação aos riscos climáticos “mais evidentes”, como secas, ondas de calor ou a precipitação extrema.

Os planos municipais, refere ainda João Sardinha, irão igualmente definir quais os territórios mais vulneráveis e “promover a integração da adaptação às alterações climáticas nos instrumentos de gestão territorial”.

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