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Alentejo soma mais de 20 praias fluviais (reportagem)

Margarida Maneta texto

Com os termómetros a registarem altas temperaturas no interior do Alentejo, e sem costa marítima por perto, as praias fluviais têm sido uma forte aposta dos municípios. No total, o Alentejo já soma 20 ofertas deste tipo. Eis um roteiro por estas margens, muitas das quais na envolvente do empreendimento de Alqueva.

São centenas de metros de extensão do areal, torres de vigilância, postos de nadadores-salvadores, duches públicos, rampas de acesso para utilizadores com dificuldades de mobilidade, estacionamento, restaurantes e zonas de merendas. Avistam-se as bandeiras azuis, mas também as de Praia Acessível e de Praia Saudável. Parece um cenário desenhado no Algarve, numa qualquer zona costeira do litoral, ou até fora do país, mas não. Esta é a descrição das praias fluviais no Alentejo que conquistam cada vez mais visitantes por estarem longe da confusão e pela temperatura água que pode chegar aos 30 graus Celsius.

O turismo de praia em gerado anualmente milhares de turistas. Algumas praias fluviais já vão fidelizando os banhistas e fortalecendo o seu património, ao passo que novas surgem quase todos os anos. Em Reguengos de Monsaraz, a praia fluvial comemora cinco anos. A do Alandroal, conhecida como Azenhas d’El Rei, completa 15 dias. Em ambas há uma certeza: os percursos deste verão passam por aqui. 

“É gratificante ver em todo o Alentejo surgir este tipo de respostas que, naturalmente, ajudam a atrair turismo de qualidade e com capacidade de realizar despesas no território”. Quem o diz é João Grilo, presidente da Câmara Municipal do Alandroal, segundo o qual “este é um caminho extremamente interessante para o turismo no Alentejo e não fica atrás de qualquer outra oferta”.

As razões deste crescimento devem-se, na opinião de João Grilo, à aposta dos municípios em “criar respostas de qualidade, que ostentam a bandeira azul precisamente para mostrar essa qualidade, que ostentam a bandeira de praia acessível para mostrar que o envolvimento de todos é uma preocupação e que esta é uma oferta turística não fica atrás de qualquer outra”. 

Completa o edil: “O turismo de praia do interior sofreu uma revolução incrível nos últimos anos. Aquilo que há uma década era visto como um turismo de segunda categoria, de quem não tinha capacidade para se deslocar e com uma oferta pouco qualificada ou estruturada, transformou-se por completo”.  Hoje, estas opções em território alentejano somam-se umas atrás das outras, totalizando mais de 20 praias e igualando a segurança e acessibilidade das que se localizam junto à costa marítima.

As praias fluviais, com bandeira azul e condições de segurança e ambientais que uma praia marítima proporciona são um fator de “atratividade turística recente que tem conquistado cada vez mais pessoas”, aponta o município de Reguengos de Monsaraz. Segundo a autarquia, a praia fluvial de Monsaraz recebe, desde 2017, mais de 100 mil pessoas durante a época balnear. São maioritariamente portugueses, mas também se verifica uma grande percentagem de espanhóis devido “à proximidade da fronteira”. 

E não só. A praia também já recebeu turistas originários de França, Austrália, Estados Unidos da América, Canadá, África do Sul, Nova Zelândia, China, Argentina, Rússia, Japão, Índia, Singapura, Chile e Argentina, de acordo com a enumeração apresentada pelo município.

Estes turistas procuram “a tranquilidade que as praias fluviais proporcionam”, mas querem também “visitar o património que existe nessas localidades e desfrutar de um bom vinho e da gastronomia no sossego de locais que não estão massificados como as praias e as localidades do litoral”, adianta Marta Prates, presidente da Câmara.

A oferta balnear é complementada com a oferta hoteleira, patrimonial e gastronómica que caracterizam a região. Susana Ambrósio abriu o Monte de Santa Catarina, em Reguengos de Monsaraz, há 11 anos.  A casa era pequena e como, naquela altura, não havia praia, fez uma piscina por causa das altas temperaturas que se registam anualmente na zona. Inicialmente, ouvia dos hóspedes, em tom de desabafo: “Há tantas praias fluviais ao longo do país e Monsaraz, sendo uma zona tão bonita, histórica e recomendada, não tem uma instalação para receber quem vos visita todos os anos”.

A única opção, naquela altura, era a zona do ancoradouro, que não era vigiada. Algumas pessoas da terra, revela, corriam para lá para se refrescarem. “O facto de não ser vigiada despertava alguns medos”, conta, e recomendá-lo aos hóspedes ainda estava fora de causa. “Sentíamo-nos um bocadinho irresponsáveis se aconselhássemos um hóspede a ir para lá”. Isto porque não sabiam “o que está por debaixo daquelas águas. Não afirmávamos a um cliente que podia seguir para aquela zona com total segurança”.

Em alturas de maior afluência, ao não conseguir albergar todos os hóspedes na herdade, encaminhava-os para outras unidades hoteleiras da zona. No entanto, como estas não tinham piscina, disponibilizava a sua. “Tudo isto demonstra o quão necessária era a praia fluvial”, declara a responsável pelo Monte de Santa Catarina, segundo a qual este investimento veio “revolucionar” esta zona ao nível de público, visitantes e eventos. “Desde que existe a praia temos mais iniciativas aqui na zona, como concertos, concentrações e até a primeira edição do Water World Forum for Life”. O impacto do turismo de praia no interior acabou por se revelar “fortíssimo”, aponta Susana Ambrósio. “Atrai turismo e vai-nos enchendo as casas e, por vezes, até em alturas que normalmente não tínhamos tanta afluência”. E se antes os hóspedes reservavam apenas uma ou duas noites, agora muitos “começaram a reservar uma semana de férias, tal como acontece nos destinos do litoral”, revela o município reguenguense. O turismo tem sido, nesse seguimento, um fator de investimento no território. 

“Quase todos os meses surgem novas unidades de turismo a trabalhar no setor. Na última década, o concelho [de Reguengos de Monsaraz] passou de poucas dezenas de camas turísticas para mais de um milhar, e de poucas dezenas de unidades de turismo para mais de uma centena, incluindo um hotel de cinco estrelas, o São Lourenço do Barrocal”, acrescenta Marta Prates, recordando que “todas as aldeias do concelho têm unidades de turismo rural e os turistas podem passar uns dias de férias na tranquilidade, no sossego e na genuinidade que estas aldeias proporcionam”.

Também Raul Condeço, do Monte do Peral, no Alandroal, e ainda que a praia tenha sido inaugurada há pouco tempo, aponta esta “valorização do espaço público” com “impacto positivo” nos negócios envolventes. “A praia é novidade e uma realidade próxima”, revela o responsável pelo Monte do Peral. “Muitos [dos hóspedes] não sabem [da praia], não vêm por causa da praia, parte deles nem tem conhecimento que ela existe, mas acaba por ser um assunto abordado e que desperta interesse. É um espaço que as pessoas consideram agradável e gostam”. 

No entanto, nem só na dimensão turística estas praias de interior têm impacto. Também as populações e os seus negócios saem valorizados.  “O que se pode ver é o tipo de oferta que existe em qualquer outro ponto do país, com a mesma qualidade, a mesma segurança, com as mesmas acessibilidades, com uma oferta que atrai pessoas para um turismo em que a praia é um dos atrativos, mas depois convida a conhecer o resto do território”, diz João Grilo.

Em Reguengos de Monsaraz, a gastronomia e o património são duas das áreas que complementam a oferta balnear. A vila medieval de Monsaraz possui um conjunto arquitetónico que integra vários monumentos, dos quais se destacam as Igrejas da Matriz de Nossa Senhora da Lagoa, de Santiago e da Misericórdia de Monsaraz, mas também o Museu do Fresco.  O Centro Interativo da História da Inquisição e a Praça de Armas do Castelo estão também nesta lista, bem como o Centro Oleiro de S. Pedro do Corval, considerado o maior de Portugal.

Já se a preferência incidir na cultura da vinha, Reguengos de Monsaraz soma cerca de quatro mil hectares e integra vários produtores conhecidos nacionalmente: Carmim, Esporão, Ervideira, Monte das Serras e Monte dos Perdigões, por exemplo.

No Alandroal, a intervenção que está a decorrer no património visa complementar a oferta da praia fluvial. “Estamos a fazer recuperação de património, quer para fruição, quer para ocupação turística. Em Juromenha estamos a realizar uma recuperação da fortaleza num investimento de cinco milhões de euros que vai depois acolher um projeto no interior com uma parte a ser ocupada por um hotel”, revela o presidente da Câmara Municipal do Alandroal.

E acrescenta: “Estamos em fase de construção e adjudicação de três centros de acolhimento ao visitante. Um em Juromenha já em obra, outro em Terena (a iniciar obra) e um no Alandroal, com o início de obra a curto prazo. Locais para receber turistas e colocá-los em contacto com o que o concelho tem para oferecer: percursos pedestres e visitas ao património”.

Também a mobilidade dentro do concelho vai ser alargada: “Estamos em fase final de instalação de dois conjuntos de bicicletas elétricas, um no Alandroal, outro em Juromenha e que queremos alargar a todo o concelho”, explica João Grilo, garantindo que esta aposta não parou com a inauguração da praia de Azenhas d’El Rei: “Estamos só a inaugurar a primeira das três possibilidades que temos. Queremos desenvolver mais duas: uma em Rosário, outra na Juromenha”, conclui.

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