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Alentejo na cauda da competitividade a nível europeu

Ana Luísa Delgado texto

O Alentejo é a região menos competitiva de Portugal Continental e uma das menos competitivas da União Europeia. Apesar da melhoria nalguns indicadores, a região continua na cauda da tabela, de acordo com o Índice de Competitividade Regional divulgado pela Comissão Europeia.

Entre as 234 regiões que compõem a União Europeia, a região Alentejo ocupa a posição 181, ligeiramente abaixo do Algarve (174), mas claramente pior cotada que o Centro (146), Norte (133) e Área Metropolitana de Lisboa (67), a única que se encontra acima da média europeia. Pior que o Alentejo, a nível nacional, só os Açores (208).

Divulgado de três em três anos, o Índice de Competitividade Regional (ICR) avalia vários parâmetros, como o desempenho das instituições, infraestruturas, formação, eficiência do mercado laboral, preparação tecnológica ou inovação, entre outros. Em quase todos eles o Alentejo surge abaixo da média europeia. A única exceção é o indicador relativo ao ensino básico, em que a região está oito pontos acima da média (108.2).

Outro indicador onde os resultados se aproximam é o da “sofisticação dos negócios”, que mede “o potencial de especialização e diversificação” e que, segundo a Comissão Europeia, “pode ajudar as regiões a responderem à concorrência”.

A “travar” a competitividade regional estão, sobretudo, a dimensão do mercado e os indicadores relativos à inovação. Se, no primeiro caso, a Comissão Europeia sublinha que “mercados maiores permitem que as empresas se desenvolvam e se beneficiem de economias de escala e possam potencialmente incentivar o empreendedorismo e a inovação”, no segundo lembra que “as economias desenvolvidas precisam estar na vanguarda das novas tecnologias, produzindo produtos e processos de ponta para manter sua vantagem competitiva”. Ou seja, “o nível de capacidade inovadora de uma região impacta as formas como a tecnologia é difundida dentro da região”. E, no caso do Alentejo, essa capacidade fica muito aquém das restantes regiões portuguesas, à exceção do Algarve.

Também abaixo das médias europeia e nacional estão os parâmetros relativos ao funcionamento das instituições e que avaliam “o nível de corrupção percebida e o quadro regulamentar geral”. Trata-se de um indicador que mostra “se o clima institucional é favorável ao empreendedorismo e se é fácil abrir um novo negócio”. Embora a diferença para a média europeia não seja tão expressiva como noutros indicadores (é de 90.5 em 100), trata-se do pior resultado a nível de Portugal Continental.

Olhando para estes indicadores “numa perspetiva histórica”, o presidente da Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo (ADRAL), João Grilo, lembra que “tradicionalmente as indústrias regionais tinham uma menor componente de inovação e uma menor criação de valor associado aos produtos”, o que ajuda a explicar a “pouca competitividade” quando comparada com outras regiões do país, como o Norte e o Centro, “que começaram há mais tempo a fazer o seu processo de transformação tecnológica e de inovação, em fileiras como a indústria têxtil ou o calçado”.

Este caminho, refere, está agora a ser percorrido pelo Alentejo, que “tem vindo a aumentar a sua competitividade e a atrair investimentos nacionais e estrangeiros de grande volume, ligados a sectores em franca expansão e com grande margem de crescimento”, como a agroindústria, aeronáutica, turismo, energias renováveis ou tratamento de dados. “É um processo relativamente recente, mas temos vindo a criar mecanismos de diferenciação e a construir um caminho que nos vai aproximar da média e ajudar o país a posicionar-lhe ainda melhor no contexto internacional”, acrescenta

Segundo João Grilo, “há muitos investimentos em curso e programados”, também em áreas tradicionais na região, com objetivos centrados “na utilização de energias renováveis, transformação digital, utilização mais equilibrada de recursos naturais e promoção da economia circular”, que permitirão aumentar a competitividade do Alentejo, complementando o investimento privado com a utilização das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e do Programa Operacional Alentejo 2030, dotado com um orçamento de 1,1 mil milhões de euros e cujos primeiros avisos de candidaturas começaram agora a ser publicados. 

Ainda assim, recorda, apesar do Alentejo ser a maior região do país, “com muitas oportunidades à espera de acontecerem em todo o território”, a baixa densidade populacional e a “concentração em Lisboa dos poderes de decisão” acabam por “emperrar” a concretização de alguns investimentos. 

TECIDO ECONÓMICO FRÁGIL

Jorge Pais, presidente do Núcleo Empresarial da Região de Portalegre (NERPOR), diz “não estranhar” o posicionamento do Alentejo nos últimos lugares do ranking da competitividade europeia, desde logo porque “a população diminui e envelheceu, sendo os recursos humanos fundamentais para aumentar a produtividade e a competitividade”. Por outro lado, o tecido económico regional “sempre tem sido muito frágil, com raríssimas exceções quase 100% são micro ou nano empresas, sabendo-se que de uma forma geral as empresas de menor dimensão são menos competitivas”. Acresce que o sector primário “continua a ter muito peso, não tendo a base económica produtiva dos restantes sectores sofrido alterações gerais de muito significado após estes anos de apoios comunitários”.

“Os passos dados nesse sentido”, sublinha Jorge Pais, “foram demasiado tímidos e insuficientes, as medidas políticas ficaram aquém do necessário, conforme há muito vimos reclamando para consagrar um mínimo de coesão territorial. A saga da falta de expressão eleitoral persegue-nos, ou agrava-se mesmo, perante a incrível apatia e passividade dos responsáveis políticos da região”.

FALTAM INFRAESTRUTURAS

O presidente do NERPOR diz que “não bastam majorações”, são necessários “mais e melhores incentivos” ao investimento, incluindo uma “atratividade fiscal real e eficaz”, apoios à criação de emprego “superiores” às regiões do litoral e investimento nas infraestruturas. “É o caso da capilaridade ferroviária regional, criminosamente destruída há vários anos, e dos eixos principais de ligação ferroviária com o Algarve, Sines, Lisboa e Espanha”, refere Jorge Pais, segundo o qual “Beja tem que estar ligada por autoestrada à A2” e o Alto Alentejo “tem de ser atravessado por uma autovia rápida de quatro faixas ligando a A23 com a A6”.

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