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Al-Mutamid: Um festival para promover a integração (vídeo)

Francisco Alves texto | Gonçalo Figueiredo foto e vídeo

O presidente do Turismo do Alentejo e Ribatejo, Vítor Silva diz que o Festival “Terra Mágica – Al-Mutamid O Primeiro Alentejano”, que hoje começa em Beja, visa promover a integração: “Não temos de ficar apenas na nossa parte e aceitar os outros. Temos de conviver uns com os outros”.

O concerto de abertura, marcado para as 21h30 no Teatro Municipal Pax Julia, irá juntar em palco o fado (de Ricardo Ribeiro) e o flamenco (de Duquende), num espetáculos que terá aqui a sua estreia mundial. Sexta-feira será a vez do flamenco contemporâneo, com a companhia criada por Macarena López. E, no sábado, a música ‘gnoa’ do marroquino Maâlem Omar Hayat.

Como surgiu este festival e qual a ideia do mesmo?

A ideia surgiu pelo facto de o nosso território, o Alentejo, neste momento ter um problema gravíssimo que é o demográfico. Nós não temos pessoas para trabalhar, não só no turismo, mas em outras áreas da atividade económica. O caso da agricultura é o mais evidente. Isso tem levado, e vai levar, inexoravelmente, a que nós tenhamos que assistir à vinda de pessoas de outros continentes, de outras culturas, de outras religiões até. Aqui põe-se a questão de nós necessitarmos de integrar essas pessoas. E a questão da integração não passa por essas pessoas abdicarem da sua religião, cultura ou hábitos, mas sim de nós estabelecermos pontes entre aquilo que é a nossa maneira de ser, a nossa cultura e a nossa religião e aquilo que são os outros. É essa a maneira como nós vemos a integração. Daí que nós, no Turismo, tivemos a ideia de aproveitar uma pessoa da cultura que viveu ainda antes de Portugal ser país independente que foi o Al-Mutamid, no século XI. 

Uma figura que que promoveu essa multiculturalidade…

… lembrar que Portugal só se formou no século XII. E o Al-Mutamid, apesar de ser de religião islâmica, era uma pessoa extraordinariamente aberta naquela altura e, atenção, era uma altura muito complicada de guerras intensas e sangrentas entre cristãos e muçulmanos. Ele apesar de ter vivido nessa época turbulenta, foi uma pessoa capaz de aceitar os outros, lembrando que ele nasceu em Beja e foi governador de Silves e depois rei de Sevilha, aceitou pessoas na sua corte e na sua convivência de diferentes religiões: cristãos e judeus. E parecia-nos, então, que essa era uma personalidade importante para que nós começássemos a desenvolver a ideia de multiculturalismo, de aceitar os outros, de integrar os outros e, ao fim ao cabo, estabelecermos uma vivência entre pessoas e povos de diferentes maneiras de ver o mundo mas que, ao fim ao cabo, tem de ser um mundo harmonioso.

Que mensagem se pretende transmitir? 

A mensagem que pretendemos transmitir é essa: somos todos diferentes, mas podemos conviver todos uns com os outros da maneira mais harmoniosa possível. E quando digo conviver é partilhar laços de costumes, laços culturais, até laços matrimoniais e de amizade. Não temos de ficar apenas na nossa parte e aceitar os outros. Temos de conviver uns com os outros. Portanto, parecia-nos que a realização de um festival que tem este patrono, o Al-Mutamid, que nós intitulámos o primeiro alentejano, numa altura que o Alentejo ainda nem sequer era uma palavra utilizada, nos parecia bastante feliz. 

Quais as suas expectativas para esta primeira edição do festival?

As expectativas são muito elevadas. Eu espero que públicos, não só da nossa região, mas também de fora corram a este festival que é um festival de grande qualidade. Nós procurámos levar a Beja o melhor que nós temos no fado e no cante alentejano, no flamenco porque o Al-Mutamid fez este percurso dentro do Al-Andaluz e também ele veio a morrer em Marrocos, onde está sepultado e trouxemos também um dos maiores expoentes da música marroquina tradicional. 

De que forma o Alentejo estará representado?

O Alentejo está representado, para já, porque isto faz-se no Alentejo. Nós gostaríamos que o Alentejo e aqui saliento o envolvimento da Câmara de Beja, que era indispensável neste processo, e que tem um Centro UNESCO que está aberto a esta perspetiva de todos os povos poderem conviver. A nossa perspetiva não é uma perspetiva meramente musical. É que Beja possa contribuir para este fator de unificação de todas as culturas e possa ser um centro em que se reflita esta questão que hoje não é possível mais nós vivermos em sociedades homogéneas que não estão abertas aos outros. 

Em que medida a promoção deste encontro de culturas é importante nos dias de hoje?

É importantíssimo porque nós o que vemos é que, às vezes, quando se pensa que vivemos num mundo em paz, não é isso que acontece. Os ódios acirram-se, as guerras, como estamos a verificar, continuam a intensificar-se até com perigos a que assistamos a um holocausto de natureza nuclear e que dizimaria praticamente toda a humanidade. É necessário transmitir uma mensagem que, ao fim ao cabo, está implícita em todas as culturas. É uma mensagem de amor ao próximo, de aceitação do outro e de convivência pacífica entre todos.

Em que a cultura pode desempenhar um papel chave…

Não há uma sociedade livre sem uma cultura livre. Todas as sociedades, mesmo aquelas que são autocráticas e fechadas, têm cultura. Todos temos cultura. A cultura é uma das primeiras manifestações da humanidade. Quando o homem começa a ter consciência de si próprio e que estava inserido numa determinada natureza, começa a fazer rabiscos nas paredes, nas rochas que representam animais e pessoas e cenas da vida quotidiana. A cultura está intimamente ligada ao nascimento da própria humanidade. Sem cultura não há humanidade. Evidentemente, como eu já disse anteriormente, temos cultura em todas as sociedades, mas o que nós queremos é uma cultura livre. E uma cultura livre será sempre um fator determinante para que tenhamos uma sociedade também livre.

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