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Agravamento da seca deixa agricultores desesperados

Ana Luísa Delgado texto | Gonçalo Figueiredo foto

Agricultores já falam no pior ano de seca de que há memória. Furos e charcas estão a secar por toda a região, provocando dificuldades e custos acrescidos nas explorações. Não há pastagens. Aumento exponencial do preço das rações e dos combustíveis complicam situação financeira dos agricultores, alguns dos quais admitem, como única alternativa, reduzir o número do efetivo pecuário.

Há 11 anos que Tiago Amaral se dedica à agricultura em duas explorações. Na freguesia de São Vicente da Ventosa (Elvas) tem uma exploração pecuária de 240 hectares com 130 animais adultos. A que se somam mais 40 nos 75 hectares que explora em Santo Aleixo (Monforte). Devido ao agravamento da seca, o abeberamento do gado está a ser feito a partir de furos.

“Tínhamos uma charca em Elvas, abastecida por uma nascente, que secou na primavera. Em Monforte temos dois furos, mas um deles já só dá meia hora de água por dia”, diz o agricultor. “Em Monforte estamos a dar comida à mão porque ainda choveu menos do que para os lados de Elvas. A pastagem natural acabou mais cedo. Ainda fizemos meia dúzia de fardos, mas já estamos a dar aos animais”.

Em Elvas também acabou a pastagem natural. Tiago Amaral ainda pensou guardar algum restolho, mas já teve de os abrir. “Não havia outra hipótese. Quanto acabar o restolho não temos muito mais que fazer. O ano foi ruim. Já tivemos de comprar palha e uns tacos [farinha] para alimentar o gado. E teremos de comprar feno lá mais para a frente”.

A agravar o problema está o aumento de preços. “Paguei caro e tive dificuldade em encontrar, depois demoraram mais um mês ou dois para entregar. No final do verão ainda estará tudo mais caro e mais escasso. Estou a pensar reduzir o encabeçamento dos animais para guardar mais comida”, acrescenta.

Nos 550 hectares da Herdade do Meloeiro, em Fronteira, Eduardo Sádio não esconde a preocupação com o agravamento da seca e com as dificuldades crescentes em dar de beber às 70 vacas e a um rebanho de 600 ovelhas. 

“A situação está péssima em termos de água. Ainda estou a conseguir tirar alguma, de poços, mas estão com um nível freático baixíssimo, alguns já não recuperam. Consigo tirar uma pinga e pouco. Os nascentes estão secos. Tenho um ou dois ribeiros que servem para abeberamento e também estão secos”, conta o agricultor. 

A forma de abastecer o efetivo pecuário é através de dois furos, de onde a água é bombeada para um tanque, sendo depois colocada em cisternas e distribuída pelas diversas parcelas. O problema, sublinha, é que ninguém sabe qual a quantidade de água ainda existente nestes furos. “Por enquanto estão a aguentar, mas tudo se pode alterar de um momento para o outro”. À preocupação com o abastecimento junta-se o acréscimo de despesas. “Para acarretar a água para os animais tenho de utilizar o trator, são oito horas de trabalho e um consumo de gasóleo a rondar os 200 euros por dia. É mais do dobro do que anteriormente”.

Na Herdade do Meloeiro, Eduardo Sádio planta culturas forrageiras de outono-inverno, sobretudo feno, na sua maior parte destinado à alimentação animal e uma pequena percentagem para colher sementes. “Debulho uma percentagem pequena, o quanto baste para ter sementes para a próxima campanha. Esta é uma exploração em modo biológico e temos algumas limitações na compra de sementes”, explica. 

Na primavera semeia culturas hortícolas, normalmente feijão frade e abóboras. “Este ano semeei mas não vou colher coisa nenhuma. As plantas estão pequeníssimas, aflitas com sede, não estão com desenvolvimento sequer para frutificar, muito menos em condições de se poder colher”. A perspetiva é de uma perda total destas culturas de primavera. Quanto ao feno, ainda conseguiu colher alguma quantidade, que se está a esgotar. Não há pastagens e no final de julho terá de começar a comprar alimentação para o gado. “Vou ter de a adquirir, se conseguir, não sei a que custos”, desabafa.

Eduardo Sádio não tem dúvida de que esta é “a maior seca” que teve de enfrentar ao longo da sua vida de agricultor, iniciada há mais de 35 anos. “Vou tentar aguentar a exploração, mas não sei muito bem como”.

A situação de seca em que o país se encontra foi oficialmente declarada no final de junho através de um despacho da ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, no qual “é reconhecida a existência de uma situação de seca severa e extrema, em todo o território continental, o que consubstancia um fenómeno climático adverso, com repercussões negativas na atividade agrícola”.

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